Cobiçado por multinacionais de entrega e grandes empresas que atuam no e-commerce, os Correios são a próxima joia do plano de privatizações do Ministério da Economia, que, a duras penas, tem tentado avançar com uma agenda de enxugamento do Estado.
O governo, porém, não quer vender barato uma estatal que é vista com potencial para operar em toda a América Latina, embora reconheça que a proximidade da eleição presidencial, prevista para 2022, possa afetar o preço.
“Em uma privatização, tem um lado que é vendedor e outro que é comprador”, disse, nesta quarta-feira, dia 4 de agosto, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, durante participação em evento online da TAG Investimentos.
“Como estamos cada vez mais em um ambiente político volátil, por causa da eleição, temos de observar as questões de mercado, a demanda e a precificação”, ressaltou o executivo, que comanda a instituição responsável por elaborar o projeto de desestatização da empresa de serviços postais.
Montezano reiterou que a expectativa do governo é que o leilão da empresa aconteça no primeiro semestre do ano que vem, após o projeto ser aprovado pelo Congresso. “Mas, naturalmente, para que isso ocorra, vai depender do apetite do mercado no preço correto”, reforçou o executivo.
Entre as empresas que, segundo o governo, já demonstraram interesse em comprar os Correios, estão multinacionais de entrega como a americana FedEx e a alemã DHL, a Amazon, que atua tanto em logística quanto em e-commerce, e a gigante brasileiro do varejo Magazine Luiza.
O Mercado Livre chegou a manifestar a intenção de adquirir a estatal em 2020, mas descartou a possibilidade em 2021, após anunciar investimento de R$ 10 bilhões em uma operação própria de logística, a Mercado Envios.
Os candidatos que entrarem de fato na disputa poderão ter de desembolsar R$ 15 bilhões pelos Correios, segundo estimativa apresentada em setembro de 2020 pelo Ministério das Comunicações, pasta à qual os Correios estão vinculados. O valor mínimo, porém, ainda não foi definido e aguarda a conclusão de estudos do BNDES.
Quem levar a estatal vai encontrar uma empresa que, em 2020, teve lucro líquido de R$ 1,53 bilhão, o maior resultado em 10 anos. Nos últimos 20 anos, foram 16 anos de lucro e quatro de prejuízo (entre 2013 e 2016). Um dos grandes atrativos da companhia é a sua capilaridade. Os Correios estão em todos os municípios do país e, em 60% deles, é o único representante da União.
Para Montezano, porém, a empresa, se continuar nas mãos do governo, pode ficar para trás no mercado, enquanto companhias como Magazine Luiza e Mercado Livre investem em logística para dar conta do avanço do comércio eletrônico, impulsionado durante a pandemia.
“Quem sabe, por que não, podemos pensar nos Correios como um operador de logística para toda a América Latina”, disse. “Geograficamente, faz todo sentido. Basta a empresa ter liberdade e capacidade de levantar recursos para fazer esse sonho ser realidade”, afirmou.
Para que a privatização ocorra, o Congresso ainda precisa aprovar o projeto. Na segunda-feira, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, disse que o tema entrará na pauta do Legislativo ainda nesta semana. Na visão dele, “esta é a última oportunidade de garantir a sobrevivência dos Correios.”