À primeira vista, a ideia parece contraditória. Mas a Netflix, que não está numa situação financeira confortável, estuda o lançamento de uma versão gratuita de sua plataforma de streaming. A ideia é que essa opção possa ser uma porta de entrada para novos usuários e que tenha uma quantidade maior de anúncios publicitários do que a versão light (assinatura com menor preço em troca de alguns anúncios).
A possibilidade de lançar um plano sem qualquer cobrança foi levantada nesta semana durante a earnings call realizada após a divulgação dos resultados da Netflix no quarto trimestre. Em uma pergunta de um analista, Ted Sarandos, até então o único CEO da companhia, afirmou que a empresa “estava aberta a todos os diferentes tipos de modelos”.
“Temos muito em nosso prato este ano, tanto com o compartilhamento pago quanto com o lançamento de publicidade e com o conteúdo que estamos tentando direcionar para nossos membros”, disse Sarandos. "Portanto, estamos de olho nesse segmento, com certeza."
O lançamento de uma versão gratuita da plataforma começou a ser ventilado pelo mercado nos últimos meses após a criação de um plano mais barato do serviço (a partir de US$ 7, nos Estados Unidos). Essa versão já disponível até no Brasil, no entanto, conta com uma série de anúncios publicitários que geram receita para a companhia.
Uma versão gratuita funcionaria em um modelo FAST, sigla em inglês para televisão gratuita com anúncios publicitários. Empresas como Fox, Paramount, Comcast e Peacock já apostam na tese. Warner Bros e Discovery já anunciaram planos neste sentido. A Disney, por sua vez, informou que isso não faz parte dos planos de curto prazo.
Ainda não se sabe se a Netflix também vai usar essa estratégia para aumentar seus usuários e, consequentemente, mais anunciantes. De acordo com o portal Business Insider, há uma preocupação na Netflix com a adoção dos usuários no plano atual munido de anúncios. Greg Peters, agora co-CEO da companhia, entende que um plano FAST corrigiria isso.
Um estudo realizado pela Deloitte apontou que a parcela de pessoas que assistem a produtos FAST cresceu de 40% para 47% nos últimos anos. Um público-alvo são os espectadores mais velhos, já acima dos 40 anos e que ainda não assinaram serviços de streaming.
Ainda que Peters se mostre favorável à ideia, há alguns obstáculos. O primeiro seria a necessidade de a empresa negociar permissões com os proprietários de conteúdo para a exibição dos filmes e programas de forma gratuita e com anúncios – algo que já foi feito no plano Basic with Ads.
Uma barreira maior ainda seria desenvolver uma forma de lidar com o comportamento dos usuários em relação à mudança na experiência proporcionada pelo serviço. Na versão atual, a Netflix limita o conteúdo publicitário a uma média de quatro a cinco minutos por hora. No FAST, isso aumentaria para entre oito a dez minutos. Para efeito de comparação, a TV tradicional opera com até doze minutos de propaganda por hora.
Resultados do trimestre
No dia em que a Netflix deu a entender que poderia percorrer um novo caminho para ganhar novos assinantes, a companhia também comentou os resultados do quarto trimestre do ano passado. No período, o lucro do serviço de streaming de US$ 55,3 milhões despencou quase 91% ante o mesmo trimestre de 2021.
A empresa teve receita líquida de US$ 7,8 bilhões, alta de 1,9% ante o quarto trimestre de 2021. O lucro por ação foi de US$ 0,12 entre outubro e dezembro, abaixo da previsão de US$ 0,45 do consenso Refinitiv.
Já o número de assinantes no mundo subiu 7,7 milhões, bem acima da estimativa do mercado que girava em torno de 4,5 milhões. Agora, o serviço contabiliza 230,7 milhões de usuários com assinaturas ativas.