Ao longo de seus mais de 100 anos de história, a Warner Brothers Discovery construiu um dos catálogos mais valiosos e de sucesso do mundo do entretenimento, com a produção de blockbusters como a franquia Harry Potter até a série Friends.

Mas diante das dificuldades financeiras que vem passando, a empresa decidiu capitalizar em cima desses ativos valiosos, firmando um acordo bilionário para vender parte dos direitos musicais que possui dessas obras.

A Warner anunciou na sexta-feira, 31 de janeiro, que fechou um acordo de cerca de US$ 1 bilhão com a britânica Cutting Edge Group (CEG), gestora e administradora de direitos musicais, para criar uma joint venture que deterá os direitos de mais de 400 mil canções dos filmes e séries produzidos pelo estúdio de Hollywood. A iniciativa conta também com investimento da gestora alemã DWS.

A Warner deterá o controle criativo das músicas, enquanto a CEG será responsável por assegurar que os royalties estão sendo pagos ao redor do mundo, além de firmar acordos de licenciamento para o uso dessas canções.

O fato de ter aceitado abrir mão de parte dos direitos demonstra a difícil situação que a Warner enfrenta. Seu modelo de negócios foi colocado em xeque com o surgimento do streaming, migração das pessoas para as redes sociais e a crescente pirataria de produtos. Nem mesmo a fusão com a Discovery, em 2022, reverteu a situação.

No segundo trimestre, a companhia se viu obrigada a realizar uma baixa contábil de US$ 9,1 bilhões nos ativos de televisão à cabo, representando quase metade de seu valor de mercado no período. Atualmente, seu market cap é de cerca de US$ 26 bilhões, com as ações acumulando alta de 5,3% em 12 meses.

O alívio trazido pelo acordo, porém, é pequeno quando se olha para o nível de endividamento da companhia. No terceiro trimestre, a dívida bruta da Warner alcançou US$ 40,7 bilhões, com a alavancagem financeira líquida atingindo 4,2 vezes.

O acordo ocorre num momento em que investidores têm demonstrado cada vez mais interesse nos royalties vindos de músicas e outras produções culturais. A CEG é uma das empresas que surgiram para capitalizar com a receita vinda de streamings e shows.

Fundada em 2006, a companhia levantou US$ 500 milhões via dívida no ano passado para adquirir os direitos de músicas de filmes, programas de televisão, peças de teatro e jogos de videogame. Seu portfólio conta com mais de 2 mil títulos, incluindo os direitos das músicas do filme do Aquaman.

Essa classe de ativos alternativos também vem ganhando força no Brasil. A Hurst Capital possui os direitos de músicas de artistas como Moacyr Franco e de composições cantadas por artistas como Marília Mendonça, Wesley Safadão e Anitta, além de ter originado tokens em cima das obras do pintor Alfredo Volpi.

Outra gestora que atua nesse segmento é a Kaya Asset, criada pelo ex-Enforce (BTG Pactual) Willian Andrade e ex-MAG Seguros Dyego Galdino. Conforme revelou o NeoFeed no começo do ano, a gestora está levantando R$ 100 milhões via dois FIDCs para adquirir royalties musicais e atuar com antecipação de receitas de mídia para clubes de futebol.