“Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí! Não vai dar? Não vai dar, não? Você vai ver a grande confusão...” Calma, não haverá confusão nenhuma. Tem para (quase) todo mundo.
Sucesso desde 1959, quando foi gravada por Moacyr Franco, a marchinha de Carnaval faz parte do acervo do cantor e compositor de 87 anos, adquirido pela MUV, operadora de ativos alternativos da Hurst Capital, como anuncia o NeoFeed, com exclusividade.
Com o catálogo transformado em operação de investimento, quem estiver disposto a desembolsar, no mínimo, R$ 10 mil, pode se tornar “parceiro” de Moacyr Franco, no recebimento dos direitos autorais, como determina o Escritório de Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD).
Com uma taxa de retorno estimada em 14,2%, ao ano, e prazo de investimento de 36 meses, a rentabilidade vem da quantidade de vezes que uma música do inventário é tocada. Pelos próximos sete anos, 50% do lucro obtido com os royalties musicais de Moacyr Franco são da gestora e dos que compraram o ativo.
Nascido em Ituiutaba, no interior de Minas Gerais, o artista tem uma obra extensa e variada. Além da marchinha de Carnaval, são músicas sertanejas, canções de Natal, trilha de novela, hino de futebol... gravados por alguns dos nomes mais importantes da MPB, como Rita Lee e a dupla João Mineiro e Marciano.
“Essa diversidade garante um fluxo de caixa estável dos direitos autorais durante o ano todo”, completa diz Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, em conversa com o NeoFeed.
A MUV é pioneira no Brasil em royalties musicais. A gestora detém, por exemplo, os direitos das obras de Toquinho, figura central da MPB, autor de clássicos como A casa e Onde anda você, em parceria com Vinícius de Moares, além dos de Paulo Ricardo, ex-líder da banda RPM, e do pianista Luiz Avellar.
No ano passado, a empresa adquiriu o catálogo de composições de Lari Ferreira e Renan Valim, donos de hits gravados pro Marília Mendonça, Anitta e Wesley Safadão.
"Financeiramente vulnerável"
As operações da MUV chamaram a atenção de Vitor Leitão, produtor de Moacyr Franco. No início de 2024, ele ofereceu parte do acervo do artista à gestora. “Precisávamos de caixa porque, na pandemia, nossa situação se agravou muito”, conta ele, ao NeoFeed.
A maior parte dos direitos autorais do cantor e compositor vem de músicas dele tocadas, em apresentações de outros artistas. Com o isolamento social imposto pela crise sanitária, “sem o recebimento do Ecad dos shows, ficamos financeiramente vulneráveis”, diz Leitão. "Agora, ganhamos uma folga”, completa sem revelar o valor do acordo com a MUV.
Para aumentar a reprodução e a arrecadação, a MUV incentiva que os seus “sócios” autorizem regravações por novos artistas, criando assim mais um ponto de alavancagem das músicas de seu portifólio.
No segundo semestre, a cantora sertaneja Lauana Prado, uma das 100 mais reproduzidas no Spotify, deve relançar uma música de Moacyr Franco — qual ainda não foi decidido.
A efervescência do setor
Os royalties musicais estão entre os ativos alternativos que mais crescem no mundo. Avaliado em cerca de US$ 40 bilhões, o mercado deve crescer 9% ao ano, até 2030, nos cálculos dos analistas da Cresset Partners, empresa americana de multi-family offiice.
O setor está em ebulição. Um dos negócios mais recentes foi fechado em fevereiro passado. O cantor e compositor britânico Rod Stewart vendeu seu acervo para a Iconic Artists Group.
Na mesma ocasião, a empresa fundada, em 2018, por Irving Azoff, ex-CEO da Ticketmaster, anunciou ter levantado US$ 1 bilhão, para adquirir os direitos de grandes nomes da música mundial.
Já haviam seguido o mesmo caminho Justin Bieber, Bob Dylan, David Bowie, Shakira, Bruce Springsteen, Red Hot Chili Peppers, Pink Floyd, Fleetwood Mac, Stevie Nicks, U2, Paul McCartney, Adele, Stevie Wonder...
O setor de royalties musicais tem se expandido rapidamente desde o início da era do streaming, em 2015, apontam os analistas da Cresset Partners.
Em 2023, os royalties pagos, no mundo todo, cresceram 28%, chegando a € 10,8 bilhões, indica a Confederação Internacional das Sociedade de Autores e Compositores.
Petrobras, nada. Beyoncé
“O desempenho do mercado fonográfico é pouco afetado em momentos de incertezas político-econômica, característica que o torna bastante atrativo”, afirma. No Brasil, pelo sétimo ano consecutivo, o setor cresceu e alcançou, em 2023, R$ 2,864 bilhões — 13,4% a mais em relação ao ano anterior.
A cartilha de finanças clássica recomenda 30% em ativos alternativos. As novas gerações, porém, estão invertendo a lógica dos negócios e colocando até 70% de seus investimentos nessas carteiras, afirma Farache.
Há de se levar em conta também o apelo emocional dos investimentos em royalties musicais: imagine se tornar "parceiro" de um artista de quem se é fã.
“Os mais jovens não veem sentido comprar a ação da Petrobras, se podem investir em música e virar sócios, por exemplo, do catálogo de Beyoncé", afirma o CEO.
E, por falar na rainha do pop, a MUV oferece investimentos em acervos da artista americana. Tal qual os investimentos nas obras de Moacyr Franco, o aporte mínimo em Beyoncé é também de R$ 10 mil, mas o rendimento, está previsto em 7% ao ano, em euros.