Num mundo em que os Estados Unidos forçaram uma revisão do comércio global e em que os conflitos geopolíticos se acentuaram, a América Latina está numa posição “ok” para os investidores, segundo Johanna Chua, economista de mercados emergentes do Citi.

Por um lado, à exceção do México, a região está pouco exposta à guerra tarifária detonada pelo presidente Donald Trump, não é palco de guerras (apesar dos problemas de violência) e pode se beneficiar dos efeitos dos cortes de juros nos Estados Unidos.

Do outro lado, tirando a Argentina, os países devem apresentar desaceleração do crescimento em 2025, como é o caso do Brasil, por conta do alto nível dos juros, e outras questões idiossincráticas.

“A região está num ambiente ok”, disse Chua na terça-feira, 1º de julho, em painel na 17ª edição da Equity Conference, do Citi Brasil, em São Paulo. “De maneira geral, a perspectiva de crescimento é praticamente estável.”

Segundo ela, a perspectiva para a América Latina depende da situação global. Se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) adotar uma postura mais dovish e a situação estiver relativamente estável, os investidores podem voltar a fazer carry trade na região.

“A América Latina é bastante sensível a mudanças financeiras. Num ambiente positivo, com os juros baixos, isso é bom para a Região”, afirmou. “Um risco é se os dados dos Estados Unidos começarem a vir fortes.”

Um mercado com bastante consequência para a região, a China, também vive um período de desaceleração. O Citi revisou para cima as expectativas para o crescimento da economia chinesa de 4,7% para 5%, diante da antecipação das exportações feitas por conta das tarifas de Trump.

Mas Chua afirmou que o país tem demonstrado sinais de desaceleração, assim como outros países do mundo, o que deve pesar sobre o preço das commodities, principal produto exportado pela América Latina para o gigante asiático. “Num segundo semestre mais lento, teremos um ambiente mais fraco para commodities”, afirmou.

Um ponto que a economista do Citi colocou é que a China deve buscar manter o ritmo de exportação, mesmo com os empecilhos impostos pelos Estados Unidos. Isso cria um problema para os países emergentes, pelo fato dos produtos chineses serem mais baratos, pressionando as empresas de outros países, como é o caso do setor de aço brasileiro.

“Como os mercados emergentes vão conduzir sua relação com a China, maior parceiro comercial deles, mas que podem ver sua competitividade afetada [pelas exportações], vai ser um desafio”, disse Chua.

O cenário, porém, pode abrir possibilidades mais adiante aos emergentes. Para a economista, se os Estados Unidos mantiverem as atuais restrições e a China continuar com esse ritmo de exportação, Pequim pode acabar abrindo seu mercado para outros produtos além de commodities para amenizar a pressão competitiva de seus produtos.