Os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e a escalada dos riscos geopolíticos têm feito muitos políticos e associações europeias pedirem que Alemanha e Itália repatriem o ouro que deixam custodiados no Fed Nova York, segundo reportagem do Financial Times.

Uma das vozes na defesa da transferência da commodity no debate é de Fabio de Masi, representante alemão no Parlamento Europeu. Membro do partido de esquerda BSW, ele afirmou ao jornal inglês que existem “fortes argumentos” para alocar mais ouro para a Europa ou Alemanha “nestes tempos turbulentos”.

Os pedidos também vêm do lado conservador alemão. Segundo Peter Gauweiler, proeminente ex-deputado da União Social Cristã (CSU, na sigla em inglês), partido da ex-chanceler Angela Merkel, afirmou que o Bundesbank, o banco central alemão, “não deveria tomar atalhos” quando o assunto é salvaguardar as reservas de ouro do país.

A Associação dos Contribuintes da Europa enviou cartas aos ministros das Finanças e presidente dos BCs da Alemanha e da Itália pedindo que os países reconsiderem o acordo para que o Fed seja o custodiante do ouro dos países.

“Estamos bastante preocupados com Trump interferindo com a independência do Fed”, disse Michael Jäger, presidente da Associação, ao FT. “Nossa recomendação é de trazer o ouro [alemão e italiano] de volta para assegurar que os bancos centrais europeus tenham controle ilimitado sobre ele, a qualquer momento.”

Os pedidos ocorrem pelo fato de a Alemanha e a Itália terem a segunda e terceira maiores reservas de ouro do mundo, com 3,3 mil toneladas e 2,4 mil toneladas, respectivamente, segundo dados da World Gold Council, associação que reúne os produtores globais da commodity.

Os dois países dependem do Fed Nova York como custodiante, com cada um deixando quase um terço de suas reservas nos Estados Unidos. Segundo o FT, o ouro guardado nos Estados Unidos soma quase US$ 245 bilhões.

O segundo mandato de Trump, porém, trouxe muitas quebras de idiossincrasias econômicas. Uma delas sendo que os Estados Unidos são um porto seguro para os países guardarem suas reservas de ouro, esta apoiada na ideia geral de que o país é estável e confiável.

No caso do ouro, a mudança de postura veio após recentes declarações de Trump a respeito do Fed e de seu presidente, Jerome Powell. O presidente americano disse recentemente que ele pode ser “forçado a fazer alguma coisa” na autoridade monetária se não houver um corte de juros.

Trump é um crítico de Powell há tempos, mesmo tendo sido ele quem o indicou para chefiar o Fed, em 2018. Trump já falou que estudava demiti-lo, acusando de estar “sempre atrasado” quando o assunto era política monetária. Mas recentemente descartou essa possibilidade, apesar de ter dito que a medida não seria “tão ruim” quanto seus críticos dizem. O mandato de Powell vence no ano que vem.

O ouro tem se beneficiado do turbilhão geopolítico. A commodity acumula alta de 30% no ano, dobrando de valor em dois anos. Recentemente, ela ultrapassou o euro no ranking informal de ativos considerados seguros, ficando atrás apenas do dólar, que está na primeira posição.

E a expectativa é de que o ouro permaneça em alta. Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo World Gold Council mostra que 95% dos integrantes do mercado de ouro apostam que os bancos centrais aumentarão suas compras neste ano, enquanto suas reservas em dólar cairão ao longo dos próximos cinco anos.