A mineradora Aura Minerals produziu 60.087 onças de ouro nas quatro minas em que opera (duas no Brasil, uma em Honduras e uma no México) no primeiro trimestre de 2025. O resultado é 7% abaixo do apurado no mesmo período do ano passado. E o motivo é conhecido: a diminuição do teor do mineral coletado.
“Foi muito em linha com o que a gente imaginava. Como a natureza não é uniforme, há momentos em que o teor do ouro é menor. Essa oscilação já estava prevista”, diz Rodrigo Barbosa, CEO da Aura, em entrevista ao NeoFeed.
Mas o executivo afirma que o resultado dos primeiros três meses de 2025 não preocupa. Barbosa diz que a companhia conseguirá, ao final do ano, alcançar o guidance estabelecido de produção, que é entre 266 mil e 300 mil onças de ouro.
A confiança do CEO está no início do ramp-up (início do processo produtivo), no fim de março, do projeto Borborema, que fica em Currais Novo, no Rio Grande do Norte, e que será a quinta unidade produtiva da Aura. Os investimentos na planta alcançaram US$ 188 milhões.
A perspectiva é de que a fase de testes dure até o fim do segundo trimestre, com início de operação comercial previsto para o fim do terceiro trimestre deste ano.
“Isso nos dá mais tranquilidade para confirmar que iremos alcançar a meta que estabelecemos para 2025. O setor normalmente leva por volta de um ano para começar a vender de fato o ouro após o ramp-up. Nós levaremos seis meses”, diz Barbosa.
A unidade potiguar, que, em sua capacidade plena produzirá 83 mil onças ao ano, deve fechar 2025 com produção entre 33 mil e 40 mil onças, o que equaliza uma possível queda em algumas das operações da Aura.
Barbosa também acredita que, até o terceiro trimestre, a empresa conseguirá obter a aprovação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para modificar trecho da BR-226, que passa justamente sobre a mina de ouro da empresa.
“As conversas estão avançando e temos detalhado ainda mais o projeto para os técnicos. Com o desenho básico aprovado, já teremos o caminho aberto para iniciar a engenharia e já podemos nos debruçar no projeto de ampliação da capacidade da planta”, diz o CEO.
Com a área desobstruída e novo traçado concluído, a Aura praticamente dobrará a capacidade da unidade Borborema, passando da produção anual de 815 mil onças para 1,6 milhão.
A expectativa é de que o anúncio ao mercado confirmando o aumento das reservas ocorra ainda este ano. A obra em si deve demorar cerca de dois anos a três anos e custar entre US$ 6 milhões a US$ 8 milhões, arcados pela empresa.
Dentre as minas da Aura, a unidade Almas (Tocantins) foi a que teve melhor desempenho no primeiro trimestre deste ano, com alta de 10% sobre o mesmo período do ano anterior. “O avanço sobre 2024 teve a ver com as mudanças que fizemos na operação para melhorar a nossa produtividade, com a troca de fornecedor.”
Arazanzu (México) registrou queda de 10% na produção sobre os primeiros três meses de 2024 e Minosa (Honduras) caiu 8%. Apesar da unidade Apoena (Mato Grosso) registrar crescimento de 25% sobre o quarto trimestre de 2024, no comparativo com o primeiro trimestre o resultado foi de queda de 27%. “Mas todas as minas irão alcançar o volume que tínhamos previsto, em alguns casos com guidance mais conservador.”
A guerra comercial e o ouro
O CEO da Aura entende que a escalada da guerra comercial global, desencadeada pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o contragolpe da China, irá, de certa forma, ajudar a aumentar o preço do ouro. “Uma das grandes alavancas é a disputa geopolítica entre Estados Unidos e China. E isso foi se acentuando.”
Em março, o metal ultrapassou a marca de US$ 3 mil pela primeira vez e já está cotado a US$ 3.145 a onça-troy. “Era difícil imaginar que o ouro chegaria a esse preço, mas as variáveis para impulsionar o valor estão presentes, e que podem aumentar”, diz. “Isso mostra que o mundo começa a procurar outras alternativas de ativo além do dólar.”
Mas, para o executivo, a tensão em torno da guerra comercial deve arrefecer nos próximos dias. “Ainda que aumente o preço do ouro, essa escalada prejudica outras frentes, como financiamentos. Não faz sentido continuar esse tipo de disputa. É irracional o que está acontecendo.”
De qualquer forma, a mensagem posta tanto por Trump quanto Xi Jingping, de que um não quer depender do outro, já cristaliza a percepção para a tendência de alta do ouro. “Esses movimentos mostram o poder da China na economia global. É possível que ainda suba mais.”
Levando-se em conta a cotação atual do ouro, a previsão de faturamento da Aura em 2025 fica entre US$ 836,5 milhões e US$ 943,5 milhões.
Listada na Bolsa de Toronto e na B3 por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), a Aura registrou valorização de 155% nas ações nos últimos 12 meses. A companhia está avaliada em US$ 1,3 bilhão.