A mineradora Aura Minerals consolidou a maior aquisição de sua história e deu um passo definitivo para subir de prateleira no mercado global do ouro. O closing da aquisição da também canadense Bluestone Resources foi divulgado em comunicado publicado na manhã de segunda-feira, 13 de janeiro, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A Bluestone detém uma mina de ouro na Guatemala, na América Central. Segundo estudos feitos pela antiga dona, a mina Cerro Blanco terá capacidade de produção de 3,1 milhões de onças de ouro, durante 14 anos de vida útil. Com isso, o volume anual do projeto na Guatemala deverá alcançar 300 mil onças por ano.

A expectativa é de que a produção comece, de fato, em até três anos. A Aura fará uma auditoria para confirmar os números informados pela Bluestone sobre a capacidade de produção da mina.

Para ter uma ideia desse volume na Guatemala, a unidade Borborema, que fica no Rio Grande do Norte e que iniciará a fase de ramp up (início do processo produtivo) no primeiro trimestre deste ano, terá uma capacidade total de produção de 815 mil onças (média de 85 mil onças ao ano), durante 10 anos de vida útil.

Caso consiga mudar a rota da BR-226, no trecho que passa sobre parte da mina da companhia, o volume irá subir para 1,6 milhão de onças. Isso ainda corresponderia à metade do que deve ser produzido na mina na América Central, de acordo com os cálculos fornecidos pela Bluestone.

Além do volume, a mina de ouro tem teores que estão entre os melhores do mundo, segundo dados da Bluestone, entre 2 e 2,5 gramas por tonelada. Atualmente, o índice operado pela Aura é entre 1 e 1,2 grama por tonelada.

“Com Cerro Blanco, a Aura passa a ser um player que opera depósitos de ouro de classe mundial. A gente muda de categoria”, afirma Rodrigo Barbosa, CEO da Aura, ao NeoFeed.

“A partir de 600 mil onças é que uma empresa começa, de fato, a entrar no jogo mundial. Conforme a gente vai crescendo, nosso múltiplo vai aumentando. Nós almejamos chegar ao volume de 1 milhão de onças por ano”, complementa.

Guatemala passa a ser o quarto país de atuação da Aura, que tem produções em Honduras, México e Brasil, com seis projetos em operação ou em fase de construção. A mina guatemalteca será a sétima operação. A empresa pagará US$ 74,3 milhões pela aquisição da Bluestone. Do total, metade foi pago na assinatura do closing e o restante quando a mina Cerro Blanco estiver em operação.

Com isso, o volume de operação irá se juntar ao total de 450 mil onças anuais previstos pela Aura (a depender da produção de Borborema e do início de um projeto no Mato Grosso, esse índice deve ser alcançado até 2027). Com isso, a mineradora canadense chegará ao patamar de 750 mil onças, o que a coloca entre os 20 maiores players globais de mineração de ouro.

Com esse índice de produção, levando-se em conta a atual cotação da onça-troy (US$ 2,67 mil), a expectativa é de que a empresa possa alcançar um faturamento de US$ 2 bilhões nos próximos três anos.

“Nós também queremos crescer por meio de novos M&As, que vão nos colocar entre os grandes players do setor. Como nosso foco está nas Américas, e em projetos com grande potencial de reserva, a aquisição da Bluestone se enquadra muito na nossa estratégia”, diz Barbosa.

Produção anual

Para triplicar de tamanho e chegar ao volume previsto até 2027, ainda há um caminho a ser percorrido, tanto em investimentos quanto em capacidade de produção nas minas da companhia. A companhia atingiu, no ano passado, a produção de 267 mil onças equivalentes (incluindo volume de cobre), um aumento de 13% em comparação a 2023.

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Rodrigo Barbosa, CEO da Aura: "Nós também queremos crescer por meio de novos M&As, que vão nos colocar entre os grandes players do setor"

O volume atingido de 2024 ficou em linha com o guidance divulgado pela companhia no começo do ano passado, que era entre 244 mil e 292 mil onças. O destaque ficou para a produção na mina de Almas, em Tocantins, com 54.129 onças, acima do teto para o ano, que era entre 45 mil e 53 mil.

A produção do depósito em Honduras também ficou acima do previsto, com 78.372 onças, alta de 19% sobre 2023 e acima do teto do guidance, que tinha 75 mil onças como topo. “O ano de 2023 foi difícil lá, por causa das condições climáticas e mudança da empresa contratista. Então, a gente conseguir recuperar o volume em todos os trimestres, inclusive com melhorias operacionais e ganhos de eficiência”, diz o CEO

No quarto trimestre, foram 66.743 onças de ouro produzidos pela companhia, estável em relação ao mesmo período do ano anterior e 1% menos do que o volume registrado no terceiro trimestre. O que acabou afetando o resultado foi a mina de Apoena, no Mato Grosso, onde a companhia teve de entrar em áreas com teores menores, em função de atrasos em licenças. Mas, segundo Barbosa, isso deve ser compensado em 2025.

O volume alcançado de 2024 difere do momento vivido pela companhia em 2023, quando a empresa não conseguiu alcançar o guidance. “Quando fizemos o IPO da aura no Brasil, em 2020, tínhamos três minas em operação, o que nos dava uma volatilidade maior. Hoje, temos quatro e chegaremos a cinco em 2025”, afirma Barbosa. “Quando uma vai mal, a outra mina vai bem, o que nos garante mais estabilidade no crescimento, diminuindo as oscilações. Isso é muito importante para o investidor.”

Listada na Bolsa de Toronto e na B3 por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), a Aura tem valor de mercado de R$ 5,5 bilhões. O papel da Aura acumula alta de 97,7% em 12 meses.