Desde que o presidente Donald Trump anunciou seu tarifaço, Wall Street está em transe. Em apenas dois dias, o valor das empresas listadas nos EUA encolheu US$ 6 trilhões. O S&P 500 desvalorizou-se 10,53%. E a Nasdaq, 11,44%, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta

Essa é a face visível das consequências no mercado financeiro das tarifas de importação anunciadas por Trump na quarta-feira, 2 de abril. Há outra não tão óbvia, de empresas que não pagam tarifas, mas que podem ser também duramente afetadas.

Esse é o caso dos bancos. Apesar do setor financeiro não ser diretamente atingido pelas medidas, uma guerra comercial pode ter impactos sobre os resultados nos próximos trimestres, caso acabe numa recessão ou provoque uma desaceleração acentuada da economia.

Analistas ouvidos pelo jornal The Wall Street Journal temem que as receitas dos bancos possam ser afetadas pela menor disposição dos clientes, sejam pessoas físicas ou empresas, em buscar empréstimos. O cenário também pode dificultar o pagamento de dívidas, elevando o risco de inadimplência.

O aumento das incertezas também pode reduzir os fees que os bancos de investimentos recebem em acordos de M&A e IPOs, prejudicando ainda mais os resultados dos bancos. A fintech sueca Klarna, por exemplo, adiou sua abertura de capital nos EUA, alegando a mudança de humor do mercado.

Essa percepção fez com que o índice KBW Bank, que reúne as ações dos principais bancos americanos, despencasse por dois dias consecutivos. Na sexta-feira, 4 de abril, ele recuou 6,59%, aos 104,27 pontos. Na quinta, caiu 9,86%, aos 111,63 pontos, pior resultado desde março de 2023, quando o mercado lidava com as consequências do colapso do Silicon Valley Bank (SVB).

Outro ator menos óbvio que também sofreu duramente com os efeitos das tarifas de importação de Trump foi o mercado de hedge funds.

Segundo o Financial Times, esses fundos foram atingidos pelas maiores chamadas de margem desde a pandemia de Covid-19, com os bancos pedindo que desembolsassem mais recursos como garantia para cobrir posições em operações de maior risco após o valor de vários ativos caírem duramente nos últimos pregões.

O pregão de quinta-feira foi particularmente duro para esses fundos, que apresentaram um recuo médio de 2,6%, segundo levantamento do Morgan Stanley. Foi o pior resultado desde que o banco começou a monitorar esse segmento, em 2016.

O tarifaço de Trump contra 160 países, combinado com a decisão de a China retaliar os EUA e com temor de um aperto monetário mais severo, resultou em pânico nos últimos dois dias.

O desempenho das chamadas Magníficas Sete, grupo composto por Microsoft, Apple, Nvidia, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla, ilustra o temor dos investidores. No pregão de sexta-feira, 4 de abril, essas empresas perderam juntas US$ 802 bilhões, uma retração menor do que a registrada no dia anterior, quando o tombo foi de US$ 1,03 trilhão.

O desempenho dos dois últimos dias representa o ápice da perda de valor que os mercados americanos registram desde que Trump tomou posse e prometeu elevar as tarifas de importação.