O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu mais uma amostra de seu temperamento mercurial na quinta-feira, 12 de junho, ao falar sobre o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, e o bilionário (e desafeto por alguns dias) Elon Musk.

Em evento na Casa Branca, Trump se referiu ao responsável pela política monetária americana pela expressão numbskull, que pode ser traduzido como idiota ou cabeça dura.

A declaração, segundo reportado pela CNBC, ocorreu por conta da suposta resistência de Powell de reduzir a taxa de juros, atualmente na faixa de 4,25% a 4,50%, e após os índices de inflação aos consumidores e aos produtores, em maio, terem subido 0,1% na comparação mensal - menos do que o esperado.

Trump afirmou que faria sentido subir os juros se a inflação estivesse em alta. “Mas ela está caindo”, disse o presidente americano. “Não é preciso mantê-los altos [os juros]. Talvez eu tenha que forçar algo”, complementou.

Segundo ele, uma queda de 2 pontos percentuais dos juros fariam os Estados Unidos economizarem US$ 600 bilhões no serviço da dívida por ano, “mas nós não conseguimos fazer esse cara [Powell] fazer isso [reduzir os juros]”.

“Vamos gastar US$ 600 bilhões por ano, US$ 600 bilhões por causa de um numbskull que fica aqui [dizendo] ‘Não vejo razão suficiente para cortar as taxas agora’”, disse Trump.

Há tempos o presidente americano critica Powell, mesmo tendo sido Trump que tenha indicado o nome dele para chefiar o Fed, em 2018. Trump já falou que estudava demiti-lo, mas hoje descartou essa possibilidade, embora tenha dito que não vê a medida como “tão ruim” quanto seus críticos dizem. O mandato de Powell vence no ano que vem.

Quem também recebeu atenção de Trump hoje foi Musk. Depois de uma briga pública com o bilionário, o presidente pareceu ter levantado uma bandeira branca ao ex-chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), responsável por cortar gastos da máquina pública.

Segundo a CNN, Trump disse que pretende retomar o diálogo com Musk. "Elon gosta de mim. Eu quero conversar com ele sobre veículos elétricos", afirmou. E que as pessoas gostam da Tesla pelos carros elétricos. “Eu também gosto da Tesla", disse.

Musk foi um dos principais apoiadores de Trump na campanha presidencial do ano passado, gastando mais de US$ 650 milhões para ajudar a eleger o então ex-presidente. Mas a relação azedou nas últimas duas semanas, depois da saída do empresário do governo e suas críticas ao projeto de orçamento, que classificou como uma “abominação repugnante”.

Trump ameaçou cortar subsídios e contratos governamentais com as empresas de Musk, ao que o bilionário respondeu afirmando que o presidente estava envolvido no caso dos escândalos sexuais de Jeffrey Epstein, para depois sugerir que Trump deveria sofrer um impeachment.

Dias após a troca de fogo, Musk disse que tinha ido longe demais e apagou as postagens, telefonando para acertar as arestas com Trump e sua equipe.

Essa posição de “morde e assopra” pôde ser vista na relação entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky. Depois do infame “bate boca” entre os dois, em fevereiro deste ano, na Casa Branca, Trump afirmou que o entrevero foi apenas um pequeno obstáculo.

A declaração foi feita após encontro de ambos, no Vaticano, em abril, por conta do funeral do Papa Francisco. Na ocasião, Trump disse que a reunião foi “linda”.

A posição mercurial não é restrita a aliados e desafetos. Menos de 24 horas após as notícias de um acordo entre Estados Unidos e China para as bases de um acerto a respeito de tarifas, Trump informou que pretende enviar cartas a parceiros comerciais com uma proposta final para um acordo a respeito de importações.

O presidente parecia ter aliviado o tema em abril, quando limitou as tarifas a 10% por um prazo de 90 dias. A situação fez com que o índice DXY, que mede o comportamento do dólar frente a uma cesta de seis moedas, caísse 0,79%, ficando abaixo dos 98 pontos pela primeira vez em três anos.