Num anúncio surpreendente, que levou o mercado financeiro dos Estados Unidos a perder à tarde os ganhos recordes do S&P 500 registrados pela manhã, o presidente americano Donald Trump anunciou na sexta-feira, 27 de junho, que os EUA estavam encerrando as negociações comerciais com o Canadá.

A medida é uma retaliação ao novo imposto sobre serviços digitais para empresas de tecnologia dos EUA cobrado pelo Canadá e retroativo a 2022, estimado em US$ 3 bilhões, que vence na próxima segunda-feira, 30.

“O Canadá, um país muito difícil de se negociar... acaba de anunciar que está aplicando um imposto sobre serviços digitais às nossas empresas de tecnologia americanas, o que é um ataque direto e flagrante ao nosso país”, postou o presidente dos EUA em sua plataforma Truth Social.

“Com base neste imposto flagrante, estamos encerrando TODAS as discussões sobre comércio com o Canadá, com efeito imediato”, acrescentou Trump, avisando que estabeleceria uma nova tarifa sobre as importações canadenses “dentro no período de sete dias”.

A iniciativa reabre uma guerra comercial entre os países após meses de distensão. O Canadá é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, depois do México, com fluxo de comércio bilateral de US$ 807 bilhões.

No anúncio surpresa, Trump acusou o Canadá de "copiar a União Europeia" ao cobrar imposto sobre serviços digitais das big techs dos EUA. Empresas de tecnologia pressionam o governo Trump e os legisladores há meses, temendo que outros países sigam o exemplo do Canadá e da UE.

Executivos do setor alegam que os impostos sobre receitas obtidas em outros países podem reduzir o montante de dinheiro que o setor de tecnologia pode investir nos EUA.

Amazon, Google, Meta, Airbnb e Uber estão entre as empresas de tecnologia mais afetadas pelo imposto canadense, que se aplica a empresas de internet que atingem determinados limites de receita.

A Associação da Indústria de Computadores e Comunicações dos EUA solicitou na sexta-feira que o governo abrisse uma investigação nos termos da Seção 301 sobre as práticas comerciais do Canadá.

A oposição aos impostos digitais foi um dos fatores que levaram os executivos de tecnologia a apoiar Trump em seu segundo mandato. O presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, e o CEO do Google, Sundar Pichai, estavam entre o grupo que compareceu à sua posse e cujas empresas investiram milhões de dólares no fundo inaugural.

Tensão entre vizinhos

A decisão de Trump é o golpe mais recente em uma relação já tensa entre as nações vizinhas. Os dois países negociavam um novo acordo comercial há meses. Logo após tomar posse, Trump afirmou que os EUA deveriam “anexar” o Canadá para melhorar as relações comerciais e a segurança.

O recém-eleito primeiro-ministro canadense, Mark Carney, que venceu a eleição apostando na resistência aos EUA, repete a toda hora que “o Canadá não está à venda”.

Trump e Carney voltaram a entrar em conflito durante uma reunião bilateral na cúpula do G7, no Canadá, na semana passada. Além do litígio sobre o imposto digital, os dois países negociam tarifas sobre laticínios.

O Canadá aprovou recentemente uma legislação sobre medidas de "gestão da oferta" que protegem sua indústria de laticínios com fixação de preços e cotas de produção. Em 2017, durante sua primeira presidência, Trump descreveu esse sistema como uma "vergonha". "Eles cobram dos nossos fazendeiros tarifas de até 400%, há anos, sobre produtos lácteos", postou Trump na sexta, no Truth Social.

Embora o Canadá não tenha sido afetado pelas tarifas recíprocas de Trump, o país deve pagar 50% de impostos sobre aço e alumínio, bem como tarifas sobre carros fabricados no Canadá. Os EUA também impuseram tarifas de 25% sobre todos os produtos canadenses que não estejam em conformidade com o tratado de livre-comércio entre EUA, México e Canadá.