Aparentemente, a promessa de Donald Trump de “Tornar a América Grande Novamente” não envolvia manter o dólar forte e a divisa de referência global.

A moeda americana sofreu o pior primeiro semestre do ano desde 1973, com os investidores revendo sua exposição diante das políticas comerciais e econômicas implementadas no segundo mandato do magnata.

O índice dólar (DXY), indicador do valor da moeda dos Estados Unidos em relação a uma cesta de seis moedas estrangeiras, como euro e iene, acumula queda de mais de 10% em 2025, pouco menor que a queda de 15% em 1973 e o pior desempenho desde a crise de 2009, segundo o Financial Times.

O tarifaço de Trump contra seus parceiros comerciais, com idas e vindas, a complicada situação fiscal dos Estados Unidos e as preocupações a respeito da independência do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pesaram sobre o dólar e a percepção de segurança e estabilidade do dólar.

A questão fiscal está no radar dos investidores nesta segunda-feira, 30 de junho. Por volta das 11h16, o DXY caía 0,16%, a 97,21 pontos, com o Senado americano preparando para votar emendas ao polêmico pacote fiscal de Trump, apelidado por ele de One Big Beautiful Bill (um grande e belo projeto de lei, em tradução livre).

O comportamento do dólar contrariou as previsões feitas no começo do ano, de que a guerra comercial de Trump causaria mais danos às outras economias, ao mesmo tempo em que alimentaria a inflação americana, fortalecendo o dólar.

Em vez disso, o euro, que muitos em Wall Street acreditavam que iria enfraquecer e atingiria paridade com o dólar, se fortaleceu. A moeda da zona do euro acumula alta de cerca de 13%, com os investidores temendo os riscos vindos da maior economia do mundo e buscando outros ativos considerados seguros, como os títulos da dívida da Alemanha.

Na semana passada, o chairman e sênior partner do BTG Pactual, André Esteves, falou sobre como as políticas e o comportamento do governo Trump estão levando a uma desaceleração da entrada de recursos aos Estados Unidos, com os principais efeitos sendo sentidos no dólar e nas Treasuries.

“Moeda não é só economia”, disse ele na abertura do Global Managers Conference 2025, evento do time de asset management do BTG Pactual, na quinta-feira, 26 de junho. “A força de uma moeda tem a ver também com previsibilidade, transparência, rule of law.”

Nem tudo é culpa de Trump. O nível do dólar também é afetado pela perspectiva da queda dos juros para dar sustentação à economia. Essa é uma pauta que o presidente americano vem insistindo, a ponto de fazer duras críticas ao presidente do Fed, Jerome Powell, gerando receios de uma intervenção política na autoridade monetária americana.

De acordo com o FT, o mercado estima ao menos cinco cortes de um 0,25 ponto percentual esperados até o final do ano que vem, de acordo com níveis implícitos nos contratos futuros.

Quem está aproveitando a situação é o ouro. Também visto como um porto seguro para momentos de turbulência, a cotação da commodity atingiu patamares recordes neste ano, com os bancos centrais e outros investidores aumentando suas posições.

Já o mercado acionário dos Estados Unidos não foi prejudicado, pelo menos por enquanto. No ano, o S&P 500 acumula alta de 5,47%, enquanto o Nasdaq Composite e o Dow Jones sobem 5,39% e 3,72%, respectivamente.