O Assaí comprou 66 lojas do hipermercado Extra, que pertenciam ao GPA, no fim de 2021. Desde então, a rede de atacarejo convive com o desafio de equilibrar os aportes em expansão e na conversão desses pontos com os custos embutidos nesse “carrinho”, agravados pela alta de juros nesse intervalo.
Na mais nova etapa desse percurso, o grupo divulgou nesta quinta-feira, 8 de agosto, seu resultado do segundo trimestre, quando completou dois anos das entregas das primeiras lojas convertidas do Extra. E, no balanço, destacou um elemento que, em sua visão, indica um caminho para resolver essa equação.
“Nossa geração de caixa operacional nesses dois anos suportou 88% dos investimentos no período”, diz Vitor Fagá, CFO do Assaí, ao NeoFeed. “Essa capacidade de geração de caixa traz uma perspectiva muito favorável para seguirmos desalavancando o balanço e, ao mesmo tempo, investindo em expansão.”
No detalhe desses números, o Assaí ressaltou uma geração de caixa operacional de R$ 7,6 bilhões acumulada desde o segundo trimestre de 2022, com um Ebitda de R$ 6,8 bilhões e um ganho de capital de giro de R$ 816 milhões.
Nesse intervalo, a rede investiu um total de R$ 8,5 bilhões, sendo R$ 4,8 bilhões na abertura de 20 lojas orgânicas e em 64 conversões, além de R$ 900 milhões em manutenção e reformas e dos R$ 2,9 bilhões desembolsados na aquisição dos pontos do GPA.
Essa primeira safra de conversões feitas há dois anos alcançou uma venda média por loja de R$ 26,5 milhões no segundo trimestre de 2024, 25% superior às lojas orgânicas inauguradas pelo Assaí antes dessa onda.
“Ainda não finalizamos a maturação de todas as lojas convertidas, mas já vemos resultados desse processo. Estamos começando a colher os frutos dessa expansão”, diz Fagá. Ele faz, porém, uma ressalva nas contas desses dois anos: uma despesa de R$ 3,4 bilhões em pagamentos de juros.
“Aqui é uma discussão macro, que está afetando não só o Assaí, mas vários players no mercado”, afirma. “Mas, olhando para frente, temos uma perspectiva de evolução da queda na taxa de juros mais positiva a partir do ano que vem.”
Enquanto alimenta essa expectativa mais positiva, Fagá, que assumiu o posto no fim de março, após deixar o grupo Carrefour, onde atuava como CEO do Sam’s Club, elegeu como prioridade inicial a melhora do perfil da dívida do Assaí.
Nessa direção, no fim de maio, o Assaí aprovou uma emissão de debêntures de R$ 1,8 bilhão, a uma taxa de CDI +1,25%, abaixo do custo médio da dívida da rede no primeiro trimestre de 2024, de CDI+1,49%. Com isso, a companhia também alongou o prazo médio da sua dívida, de 28 para 32 meses.
O grupo encerrou o segundo trimestre com uma alavancagem de 3,65 vezes, contra o índice de 4,25 vezes registrado em igual período de 2023. No primeiro trimestre desse ano, a rede havia revisado o guidance de alavancagem para o fim de 2024, de 3,5 vezes para 3,2 vezes.
Fagá também tem reservado parte de seu tempo na nova casa para uma outra frente, essa mais de médio prazo: o plano de encorpar o portfólio de serviços financeiros do Assaí, hoje mais centrado em ofertas como o cartão Passaí e na FIC, financeira fruto de uma joint venture com o Itaú Unibanco.
À parte de novidades que ainda estão sendo costuradas nessa parceria com o banco, ele diz que, no campo de serviços para os clientes pessoa jurídica, a empresa já estuda a entrada nos segmentos de crédito e de adquirência.
“Temos espaço para desenvolver mais serviços e aumentar a fidelidade desse cliente PJ”, conta Fagá. “Estamos avaliando tudo o que possa facilitar a vida desse público, principalmente na relação com o cliente dele. É nessa linha que vemos uma carência grande no mercado.”
Queda no lucro
Em outros dados do segundo trimestre, o Assaí reportou uma queda anual de 21,2% em seu lucro líquido no período, para R$ 123 milhões. Fagá minimizou, porém, o recuo, ao citar o impacto da perda do benefício de subvenção sobre o ICMS nesse período.
Nesse contexto, o executivo ressaltou como uma base de comparação mais representativa o lucro antes de impostos, que, registrou um avanço de 66% em relação ao segundo trimestre de 2023, para R$ 226 milhões.
A receita líquida da rede, por sua vez, cresceu 11,8% entre abril e junho, para R$ 17,8 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado teve uma expansão de 18,4%, para R$ 965 milhões. A margem Ebitda ajustada evoluiu 0,3 pontos percentuais, para 5,4%.
O grupo fechou o trimestre com R$ 5,1 bilhões em caixa e equivalentes, contra R$ 4,5 bilhões, há um ano. Já as despesas com vendas, gerais e administrativas cresceram 11,5%, para R$ 2 bilhões.
As ações do Assaí fecharam as negociações dessa quinta-feira com alta de 1,46%. Cotados a R$ 10,45, os papéis acumulam uma desvalorização de 28,9% em 2024. A rede está avaliada em R$ 14,1 bilhões.