Eduardo L’Hotellier não é mais o CEO do GetNinjas. Na manhã de segunda-feira, 27 de novembro, o fundador do aplicativo de serviços foi comunicado da sua demissão. Mas ele não vai “sair de mãos abanando”.
Quatro dias antes da eleição do novo conselho de administração do GetNinjas, realizada na segunda-feira, 21 de novembro, os antigos conselheiros do aplicativo de serviços realizaram um último encontro.
A reunião tinha um objetivo: aprovar um “instrumento particular de indenização e benefícios pós-emprego” para Eduardo L’Hotellier, CEO e diretor de relações com investidores, e Lucas Arruda, CFO da companhia.
Por unanimidade, o antigo conselho de administração decidiu que, "à luz da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do dia 21 de novembro”, os executivos teriam direito a uma indenização em caso de destituição sem justa causa. E receberão bônus, prêmio pelo atingimento de metas (até o momento do ano) e o direito ao “getwell”, um pacote de bem-estar criado pela companhia em 2020, além de plano de saúde e odontológico.
Embora a companhia tenha utilizado os serviços das consultorias Korn Ferry e Willis Towers Watson para entender as melhores práticas do mercado sobre planos de desligamento, a decisão tomada pelos antigos conselheiros do GetNinjas causa estranheza. Pessoas próximas aos conselheiros afirmam, porém, que houve apenas a formalização de algo que vinha sendo estudo há meses na companhia.
Mas mudanças na política de remuneração em meio a conflitos não são práticas comuns em empresas de capital aberto. Ainda mais que ela tenha acontecido dias antes da AGE que colocava em risco a posição dos executivos. Em maio, a companhia tinha feito uma atualização da sua política para situações como essa.
L’Hotellier, fundador do GetNinjas, estava com seu cargo de CEO ameaçado desde que uma intensa disputa societária tomou conta da empresa. Ele passou a ser questionado pelos acionistas após anunciar que faria a devolução de 80% de um total de R$ 270 milhões que estão no caixa da companhia.
Em meio a esses questionamentos, a gestora Reag Investimentos alcançou pouco mais de 32% de participação e ARC Capital, quase 23%. Elas se tornaram majoritárias e garantiram três assentos na eleição do conselho do último dia 21. L’Hotellier, que detém 24,6% das ações, ficou com os outros dois lugares.
A Reag se tornou protagonista nessa disputa com L’Hotellier. Primeiro, ao conseguir 58,9% para reprovar a distribuição do dinheiro em caixa do aplicativo de serviços. Em seguida, conquistando a presidência do conselho de administração com João Carlos Mansur, CEO da gestora.
Conforme documentos que o NeoFeed teve acesso, L’Hotellier foi demitido em 27 de novembro, após os novos conselheiros terem assumido o board. E recebeu um valor bruto de indenização de R$ 1,85 milhão. Desse montante, cerca de R$ 800 mil são referentes a bônus. O restante são verbas indenizatórias equivalentes a um funcionário CLT. O valor líquido foi de R$ 1,35 milhão.
Em seu lugar foi escolhido Leonardo Meneses, ex-diretor da Alvarez & Marsal, que traz a experiência em reestruturação de empresas. E Fabiana Franco e Thiago Gramari assumem, respectivamente, como CFO e diretor de relações com investidores.
Fora do dia a dia da companhia, L’Hotellier permanece como o segundo maior acionistas do GetNinjas. Ele terá uma decisão importante a tomar com a Oferta Pública de Aquisição (OPA).
Nos próximos dias, a Reag deverá publicar as condições da OPA, que deve sair entre R$ 4,60 e R$ 4,65 por ação. A gestora é obrigada a fazer esse movimento desde que disparou a poison pill por ter ultrapassado os 25% de participação no GetNinjas.
Aos acionistas minoritários que o apoiaram na AGE do dia 21 - 90% registraram voto, um alto índice de participação para uma assembleia de governança corporativa -, o fundador da companhia tem dito que as duas cadeiras que conquistou no conselho são uma maneira de garantir o melhor para o GetNinjas: decisões divididas chamam mais a atenção do que as unânimes.
Procurada pela reportagem, a “Reag, em conformidade com questões legais e estatutárias, prefere não se pronunciar sobre o ocorrido”. Procurados, L’Hotellier e GetNinjas não retornaram até a publicação da reportagem.