A Ambipar seguiu o roteiro esperado pelo mercado financeiro e entrou com um pedido de recuperação judicial (RJ) na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, alegando ter dívidas de quase R$ 11 bilhões.

A Ambipar Emergency Response, sediada nas Ilhas Cayman, cujas ações são negociadas na Bolsa de Nova York, também entrou com um pedido de “chapter 11”, o equivalente a uma recuperação judicial nos EUA, junto ao Tribunal de Falências do Texas.

A medida era esperada, após a Ambipar ter conseguido um pedido de tutela cautelar em 25 de setembro, estratégia conhecida por ser uma preparação para uma recuperação judicial.

A companhia alega, em seu pedido de RJ, a descoberta de indícios de irregularidades em operações de swap feitas pela diretoria financeira e a perda de confiança do mercado, resultando em pedidos de antecipação de dívidas e risco de vencimento cruzado.

O maior credor são os detentores de bonds da Ambipar. Mas a companhia tem dívidas com debenturistas, bancos e fornecedores. Entre os bancos, o maior deles é o Santander, com R$ 663 milhões. Em seguida, vêm Banco do Brasil (R$ 352 milhões), Banco do Nordeste (R$ 207 milhões), Deutsche Bank (R$ 188 milhões) e Bradesco (R$ 165 milhões).

Em seu pedido de RJ, a Ambipar entregou um relatório gerencial com seu atual fluxo de caixa sob sigilo. Uma das grandes dúvidas do mercado é como a Ambipar, que alega, no segundo trimestre deste ano, possuir R$ 4,7 bilhões em caixa e aplicações financeiras, sendo mais de R$ 2 bilhões com disponibilidade imediata.

Esse montante seria suficiente para cobrir a cobrança de garantias adicionais feita pelo Deutsche Bank, referente a um empréstimo de US$ 35 milhões. Mas, aparentemente, o caixa "sumiu". Parte do dinheiro estaria em um FDIC.

O estopim da crise financeira da Ambipar está relacionado a um aditivo firmado com o Deutsche Bank. A Ambipar passou a apontar o seu ex-CFO, João Arruda, como responsável pelo “desastroso aditivo” em esclarecimentos apresentados à Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

Segundo a versão da Ambipar, Arruda teria migrado contratos de swap do Bank of America (BofA) para o Deutsche Bank e negociado o aditivo com o banco alemão “sem o prévio conhecimento – e menos ainda, autorização – do conselho de administração”.

Documentos, porém, apontavam para outra versão. Uma cópia do contrato do aditivo, obtida anteriormente pelo NeoFeed, mostra a assinatura de Thiago da Costa Silva, diretor de integração e finanças, e de Luciana Freire Barca Nascimento, diretora adjunta, cuja função é auxiliar "o diretor-presidente em suas atribuições".

Ambos são ligados ao controlador e CEO Tércio Borlenghi Junior. Já a assinatura de Arruda não consta no documento, mas fontes dizem que ele tinha conhecimento do acordo.

A Ambipar chegou, inclusive, a abrir um inquérito policial contra Arruda, no qual pede a apuração de indícios de prática dos crimes de falsidade ideológica, estelionato, fraude e abuso na administração eventualmente praticados pelo ex-CFO.

Na ocasião, David Rechulski, coordenador da defesa técnica de Arruda, procurado pelo NeoFeed, disse que esse era “mais um movimento errático” da Ambipar e que ficava claro “estarmos diante de uma provável situação típica de denunciação caluniosa”.

“A propósito, para que não pairem dúvidas desde logo, há até mensagens do controlador, CEO e membro do Conselho de Administração, Sr. Tércio Borlenghi Junior, enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank, que agora dizem ser algo desconhecido”, diz trecho da nota enviada. “Narrativas falaciosas não resistirão às evidências.”

A Ambipar vale R$ 968 milhões. No ano, suas ações caem 95%.