Com o cenário macroeconômico demonstrando sinais de piora, o Santander tomou a decisão, no fim de 2021, de ser mais conservador. A principal medida nesse sentido foi ser mais seletivo na concessão de empréstimos para clientes, apostando em produtos com mais garantias e clientes com melhor perfil de rating.

E, diante dos sinais de que a situação não deve melhorar no futuro próximo, o CEO do banco, Mario Leão disse que essa postura deve seguir pelo menos até o fim do ano, mesmo que isso tenha consequências sobre os resultados financeiros.

“Estamos confiantes e seguros nas decisões que tomamos ao final de 2021”, afirmou o executivo nesta terça-feira, 25 de abril, em entrevista coletiva por conta da divulgação dos resultados do primeiro trimestre. “Olhando hoje em dia, entendo que essa decisão foi correta e teríamos tomado ela novamente.”

No primeiro trimestre, a representatividade das novas safras de crédito representou 54% da carteira total do banco, com 65% da carteira de crédito para pessoa física sendo colateralizada. Ele destacou ainda que as safras novas possuem um NPL de 15 a 90 dias de 3,9%, enquanto as safras anteriores registram 5,2%.

“O conservadorismo no crédito traz um custo, de crescer menos ativos, a linha de margem com clientes, mas é consciente”, afirmou Leão. “Não acredito que ao longo desse ano vamos mudar o nosso apetite, a seletividade não deve ser alterada ao longo do ano.”

O CEO do Santander pontuou ainda que a postura conservadora adotada pelo banco foi o que determinou utilizar os R$ 4,2 bilhões obtidos com a reversão de provisões de cunho tributário, referente a uma ação em julgamento no STF sobre a incidência de PIS e Cofins, para reforçar o balanço, com parte dos recursos fluindo para a linha de despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD).

No primeiro trimestre, a PDD somou R$ 6,7 bilhões, diminuição de 8,1% em relação ao trimestre anterior, mas um aumento de 46,7% em 12 meses.

Mario Leão, CEO do Santander

“Fomos conservadores para não fazer com que essa reversão fluísse para o resultado final, o que poderíamos ter feito, o que teria significado cerca de R$ 2 bilhões de lucro e mais que dobraria nosso resultado do trimestre”, afirmou Leão.

Ele destacou que a medida não tem relação com alguns dos episódios de empresas com problemas que tem se visto no mercado, como é o caso da Americanas, com quem o Santander possui um crédito de R$ 3,7 bilhões. O banco provisionou, inicialmente, 30% de sua exposição no trimestre passado.

“Um pedaço desse reforço do balanço é uma questão genérica, é uma provisão que não tem nome nem sobrenome, mas que serve para criar um colchão para cuidarmos de casos específicos ou de portfólio ao longo do tempo”, afirmou Leão. “Não desenhei esse reforço de balanço para devolver ao resultado já ao longo deste ano.”

O Santander registrou no primeiro trimestre um lucro líquido de R$ 2,1 bilhões, uma queda de 46,6% em relação ao resultado do mesmo período de 2022, mas um aumento de 26,7% ante o desempenho apurado no quarto trimestre do ano passado.

O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) foi de 10,6%, queda de 10,1 pontos percentuais na comparação anual e melhora de 2,2 pontos percentuais na trimestral. A margem financeira bruta caiu 5,7% em base anual e subiu 5% na trimestral, para R$ 13,1 bilhões.

Por volta das 13h25, as units do Santander registravam alta de 2,47%, a R$ 26,96. Em 12 meses, elas acumulam queda de 16,1%, levando o valor de mercado a R$ 101,7 bilhões.