O mercado aguarda ansiosamente para saber como as “inconsistências contábeis” da Americanas vai afetar os resultados dos bancos, os maiores credores da varejista, que está em recuperação judicial.

Uma primeira ideia pôde ser vista nesta quinta-feira, dia 2 de fevereiro, nos resultados do Santander. O banco não falou explicitamente a respeito do assunto, mas os dados do balanço mostram o impacto que a situação teve.

Chamando o caso de “evento subsequente no segmento do atacado”, o banco registrou um aumento de 99,4% da despesa líquida com provisão para devedores duvidosos (PDD) no quarto trimestre de 2022, frente ao mesmo período de 2021, e de 18,6% ante o terceiro trimestre.

O balanço não informou quanto o Santander provisionou especificamente para o caso. O banco tem um crédito de R$ 3,7 bilhões para receber da Americanas. O Credit Suisse estima que as provisões relacionadas ao caso somaram R$ 1,1 bilhão no quarto trimestre, o que representa 30% do crédito.

O tal “evento subsequente no segmento do atacado” também se fez presente no resultado de créditos de liquidação duvidosa, que aumentou 72,7% no ano e 18,6% no trimestre, e no custo de crédito de 12 meses, que atingiu 4,4%, aumento de 1,7 ponto percentual no ano e 0,6 ponto percentual no trimestre.

O resultado foi que o lucro líquido gerencial do Santander no quarto trimestre somou R$ 1,7 bilhão, uma queda de 46% em relação ao terceiro trimestre e de 56,5% ante o mesmo período de 2021. Já o lucro líquido societário somou R$ 1,6 bilhão, o menor valor desde quarto trimestre de 2016, de acordo com levantamento do TradeMap.

O retorno sobre patrimônio médio ajustado (ROAE) contraiu 7,3 pontos percentuais em relação ao terceiro trimestre, fechando os últimos três meses do ano em 8,3%. Em 2022, ele alcançou 16,3%, baixa de 4,9 pontos percentuais.

Antes da descoberta das tais “inconsistências contábeis”, os analistas já esperavam que os resultados dos bancos fossem fracos, com a alta dos juros forçando uma abordagem mais seletiva na concessão de crédito para ter um controle maior da inadimplência.

No caso do Santander, a margem financeira bruta alcançou R$ 12,5 bilhões no quarto trimestre, queda de 0,6% em relação ao terceiro trimestre e de 11,5% em base anual, refletindo principalmente o menor resultado com clientes, que apresentou queda de 2,6%, na comparação trimestral.

A margem de operações com o mercado também pesou, ao ficar negativa em R$ 1,2 bilhão no quarto trimestre, também prejudicada pela alta dos juros. Em 2022, o Santander registrou uma margem financeira bruta de R$ 51,8 bilhões, queda de 7%.

Mas o episódio Americanas pesou, fazendo com que o lucro líquido gerencial do quarto trimestre do Santander viesse 39,4% abaixo da mediana das projeções colhidas pela Bloomberg.

“Na nossa visão, o Santander apresentou resultados fracos no quarto trimestre, sendo fortemente impactado pelo provisionamento da dívida da Americanas”, diz trecho do relatório da XP Investimentos, destacando que o lucro ficou 36% abaixo de suas estimativas.

A grande dúvida é sobre o que virá para frente, principalmente a respeito do tema provisões. Em teleconferência com analistas para tratar dos resultados, os executivos não quiseram comentar assuntos relacionados a Americanas.

Diante do desenrolar do caso Americanas, que está apenas no começo, a dúvida é se vem mais provisões por aí. “Embora as provisões tenham tido um forte aumento (no quarto trimestre), acreditamos que provisões adicionais relacionadas ao segmento de atacado poderiam ter sido maiores, devido à exposição de crédito do banco no caso”, diz trecho do relatório do Bradesco BBI.

Por volta das 14h49, as units do Santander subiam 0,66%, a R$ 27,52. Em 12 meses, elas acumulam queda de 8,2%, levando o valor de mercado a R$ 104 bilhões.