Entre abril e julho deste ano, Wall Street aprendeu a ler a estratégia de jogo do presidente Donald Trump. Se há três meses as tarifas "recíprocas" massivas abalaram os principais índices das bolsas de valores dos Estados Unidos, desta vez os indicadores ficaram estáveis com a aproximação do prazo de 1º de agosto.
Os movimentos contidos do mercado sinalizam uma mudança fundamental na percepção dos investidores sobre a retórica tarifária de Trump.
A própria postura de Trump demonstra essa flexibilidade. Embora tenha dito na terça-feira nas redes sociais que "nenhuma extensão será concedida" após o prazo de 1º de agosto, posteriormente amenizou o tom: "O prazo de 1º de agosto é firme, mas não 100% firme."
"Se eles ligarem e disserem 'gostaríamos de fazer algo diferente', estaremos abertos a isso", disse o presidente, classificando as cartas tarifárias como "mais ou menos" ofertas finais.
"Eu classificaria as cartas e os tuítes sobre tarifas de ontem [terça, 8 de julho] como a mesma ameaça, mas com objetivos diferentes", disse Kurt Reiman, chefe de renda fixa da UBS Global Wealth Management, à CNN.
A partir de abril, as tarifas do "Dia da Libertação" passaram a ser vistas como ameaças táticas de negociação e não como políticas firmes. O mercado até deu um nome para esse movimento: "TACO trade", ou seja, a aposta de que "Trump sempre se acovarda" em suas principais ameaças tarifárias, especialmente quando há reação adversa nos mercados.
Enquanto Trump considera reacender sua guerra comercial, os investidores demonstram ceticismo crescente.
"Os mercados ignoraram amplamente as notícias sobre tarifas durante a noite", disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia do HSBC, à CNN.
"Essencialmente, a porta permanece aberta para que cada economia reduza as tarifas propostas por meio de negociações", complementou.
O S&P 500 atingiu quatro máximas recordes desde 27 de junho, com os investidores priorizando outros fatores. Na terça-feira, 8 de julho, o Bank of America elevou sua projeção para o S&P 500 de 5.600 para 6.300 pontos.
O Goldman Sachs aumentou sua meta de 6.100 para 6.600 pontos, citando expectativas de cortes de juros do Federal Reserve, a "força fundamental" das grandes ações americanas e a "disposição dos investidores em ignorar a provável fraqueza dos lucros no curto prazo".
Analistas do Barclays destacaram que os mercados estão "virando a página" sobre tarifas para se concentrar em como a inteligência artificial impacta os lucros corporativos e na solidez dos dados econômicos.
Para a Aptus Capital Advisors, as tarifas estão "na extremidade inferior da lista de coisas que preocupam os mercados".