Mesmo em um mercado acostumado a revisões de humor, a mais recente edição do “Investment Manager Survey – Brazil Equities”, do Itaú BBA, mostra uma mudança às vésperas de 2026. O índice médio de confiança dos gestores em ações brasileiras, chamado de termômetro “bear-bull” do mercado, subiu para 7,18 pontos, em uma escala de zero a dez, o segundo maior nível desde o início da série.
O levantamento com 127 especialistas consolida a percepção de gestores long-only, hedge funds e investidores institucionais locais e globais. E traz a fotografia do que o dinheiro profissional está enxergando para os próximos seis meses.
Se até abril o termômetro do BBA mostrava investidores “travados”, com estratégias defensivas e desconfiados da trajetória fiscal e de juros, em agosto já havia uma sinalização de retomada e otimismo moderado.
Na pesquisa realizada entre 28 de novembro e 5 de dezembro, referente ao quarto trimestre deste ano, não há euforia, mas uma direção a favor do risco.
Segundo o relatório, 78,7% dos entrevistados mantêm visão positiva para a bolsa brasileira no horizonte de seis meses, enquanto apenas 5% adotam postura negativa.
O número reforça o deslocamento gradual que vem sendo registrado desde meados do ano, quando o pessimismo causado por juros altos e incertezas fiscais começou a ceder.
Mesmo com ruídos fiscais e volatilidade da renda fixa, a assimetria de preços da bolsa se tornou mais atrativa. A média ponderada das estimativas para o Ibovespa ao fim do próximo ano é de cerca de 189 mil pontos - aproximadamente 20% a mais do que a pontuação atual.
Esse upside não representa um salto especulativo, mas um caminho de reprecificação em um ambiente de juros ainda elevados.
Há uma convicção de que o pior do ciclo de aversão já passou. Pouco mais de 9 em cada 10 entrevistados (91%) acreditam que o Brasil deve receber entradas líquidas relevantes para a bolsa nos próximos seis meses. Metade da amostra também espera maior alocação de investidores especializados em mercados emergentes.
Do lado do portfólio, há um padrão de escolha com preferência por empresas de utilities, grandes bancos e construtoras, que lideram com sobrepeso de 58,3%, 49,6% e 35,4%, respectivamente.
Na outra ponta, os segmentos mais evitados continuam sendo os ligados à commodities, como óleo e gás, mineração e papel e celulose.
Em relação aos papéis preferidos, o levantamento traz Nubank, Axia (ex-Eletrobras), BTG e Itaú no topo da lista. E Localiza, especificamente, aparece como nome com maior potencial de retorno para o semestre seguinte - a exposição média dos hedge funds saltou para 15,6%, o maior nível já registrado pelo Itaú BBA nessa série.
O documento também reúne projeções macroeconômicas. Nesse ponto de vista, os gestores seguem atentos à política doméstica e aos juros. 70% dos respondentes apontam o cenário político como o fator mais influente, enquanto 63% elegem a curva de juros local.
Para os analistas, essa é a confirmação de que, diferentemente de outros ciclos, 2026 não será guiado por narrativas de crescimento e, sim, pelo encadeamento técnico de política monetária e risco fiscal.
Outro ponto sensível é a curva dos juros longos. O levantamento indica que os gestores projetam uma queda de aproximadamente um ponto percentual (100 basis points) para os títulos nominais de 10 anos no horizonte de seis meses.
Para o Itaú BBA, essa convergência entre expectativa dos gestores e precificação do mercado tende a ser um dos drivers mais importantes do reposicionamento setorial observado nos portfólios.
Já a Selic esperada para o fim de 2026 se concentra na faixa entre 12% e 12,5%, uma redução de até 2,5 pontos percentuais sobre a taxa básica de juros atual.