Prestes a completar, em dezembro, quatro anos como companhia de capital aberto na Bolsa de Nova York, o Nubank está abrindo uma outra porta no mercado dos Estados Unidos, em linha com os seus planos de expansão para além da América Latina, onde já atua no Brasil, México e Colômbia.

A empresa anunciou na terça-feira, 30 de setembro, que, em uma etapa preparatória para um novo movimento nessa direção, solicitou uma licença de banco nacional junto ao Escritório do Controlador da Moeda (OCC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Segundo a companhia, a iniciativa está alinhada à sua intenção de explorar oportunidades internacionais no futuro, evoluindo sua plataforma regional para um modelo global. E prepara o Nubank para acessar novas possibilidades no mercado financeiro dos Estados Unidos.

“Hoje, nosso foco principal continua sendo gerar crescimento em nossos mercados atuais, onde seguimos observando amplas oportunidades de expansão”, ressaltou David Vélez, fundador e CEO da Nu Holdings, em nota. Ele acrescentou:

“Ao mesmo tempo, a solicitação da licença de banco nacional nos EUA nos ajuda a atender melhor nossos clientes já estabelecidos no país e, no futuro, a nos conectar com pessoas que têm necessidades financeiras semelhantes e que poderiam se beneficiar de nossos produtos e serviços”.

Sob essa orientação, o Nubank ressaltou que, a partir da licença de banco nacional junto ao OCC, pode oferecer eventualmente no futuro contas de depósito, cartão de crédito, empréstimos e custódia de ativos digitais no mercado americano.

“Apesar de ainda termos trabalho pela frente, acreditamos que, ao trabalhar em estreita colaboração com os reguladores, em breve estaremos em posição de ampliar nossa oferta para o mercado dos EUA como um todo”, afirmou Cristina Junqueira, cofundadora e chief growth officer da companhia.

Junqueira também atuará como CEO da nova operação americana, que será uma subsidiária integral da Nu Holdings. Como parte dessa estratégia, a executiva mudou-se para os Estados Unidos.

Além de Junqueira, o Conselho de Administração da operação nos EUA será comandado por Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central brasileiro, e reservará um assento para Youssef Lahrech, ex presidente e COO e atual observador do Comitê de Auditoria e Risco do Nubank.

Complementam o board Brian Brooks, ex Comptroller of the Currency interino e atualmente presidente do conselho e CEO da Meridian Capital Group; e Kelley Morrell, ex diretora geral sênior da Blackstone, ex diretora chefe de estratégia do CIT Group e ex executiva do Departamento do Tesouro dos EUA, atualmente fundadora e sócia gestora da Highline Capital Management.

O anúncio de hoje foi precedido por outro movimento de expansão na América Latina. Em abril deste ano, o Nubank recebeu autorização para se tornar um banco completo no México pela Comisión Nacional Bancaria y de Valores (CNBV). E, agora, aguarda a aprovação operacional final desse processo.

No México, onde está presente desde 2019, o Nubank operava até então como uma Sociedade Financeira Popular (Sofipo), uma instituição financeira focada em clientes de baixa renda desbancarizados e microempresas. E, com o sinal verde dos reguladores, poderá ampliar seu portfólio.

Na Bolsa de Nova York, as ações do Nubank registravam leve alta de 0,38% por volta das 15h20 (horário local), cotadas a US$ 16,01. No ano, os papéis acumulam uma valorização de 54,5%, dando à empresa um valor de mercado de US$ 76,5 bilhões.

Em seu novo passo de internacionalização, o Nubank vai encontrar um “velho conhecido” e concorrente no mercado latino-americano. E que também está estabelecendo as bases para avançar nos Estados Unidos: a britânica Revolut.

Em preparação desde 2022, a operação americana da fintech também está em fase de construção de uma base regulatória e tecnológica com a ambição de enfrentar a concorrência direta de grandes bancos do país, além de players que nasceram com os pés fincados no digital, caso do Nubank.

“Embora o Nubank seja um concorrente no Brasil, com quem realmente competimos são todos os bancos tradicionais”, afirmou Sid Jajodia, CEO da Revolut nos EUA e Chief Banking Officer global da fintech, em entrevista recente ao NeoFeed.

Na conversa, ele deu a medida da ambição da Revolut nos EUA: “Quando dizemos que queremos ser um banco verdadeiramente global, os Estados Unidos são uma parte essencial dessa estratégia. É o maior mercado financeiro do mundo.”

Após uma rodada secundária no início de setembro, quando alcançou um valuation de US$ 75 bilhões e ultrapassou, por um breve período, o próprio Nubank, a Revolut planeja investir cerca de US$ 500 milhões nos próximos três a cinco anos nos Estados Unidos.

Esse aporte integra uma estratégia mais ampla, anunciada na semana passada pela empresa. E que inclui um plano de investimentos de US$ 13 bilhões, em cinco anos, com a meta de estabelecer sua presença em 70 países até 2030.