Em um trimestre em que os grandes bancos viram uma deterioração dos índices de inadimplência, as expectativas estavam voltadas sobre como o Nubank enfrentou a situação.

E o que se viu foi de fato uma piora dos índices, ao mesmo tempo que a holding do Nubank conseguiu atingir o primeiro lucro líquido contábil de sua história: US$ 7,8 milhões. Até agora, os ganhos eram ajustados e não consideravam despesas relacionadas à remuneração baseada em ações e efeitos tributários.

No terceiro trimestre deste ano, o NPL (non-performing loan) de 15 a 90 dias atingiu 4,2%, enquanto acima de 90 dias chegou a 4,7%. Isso representa um aumento de 50 pontos base e 60 pontos base, na comparação com o trimestre anterior, respectivamente. 

“Com certeza o foco do mercado hoje é a inadimplência, mas estamos muito confortáveis com o jeito que estamos performando e com as muitas das decisões de crédito que tomamos”, disse David Veléz, cofundador e CEO do Nubank, ao NeoFeed.

O banco destacou que, além da situação macroeconômica, os NPLs foram afetados pela desaceleração na concessão dos empréstimos pessoais para aumentar a resiliência do crédito.

Segundo Veléz, o banco tem trabalhado para mitigar os riscos. “Especificamente, com o fato de termos limites baixos, o que significa uma capacidade de segmentar muito bem em momentos de maior volatilidade macroeconômica e também uma taxa de aprovação baixa”, afirmou o CEO do Nubank

Com cerca de 67 milhões de clientes no Brasil, apenas 5 milhões têm acesso a crédito pessoal. Veléz destaca que entre 15% e 20% da base tem acesso a cartão de crédito. E, de acordo com ele, todos começam com limites baixos. “Estamos sendo bastante cuidadosos e disciplinados na hora de abrir produtos para clientes”, diz. 

Para Guilherme Lago, CFO do Nubank, o cenário ainda é incerto para a evolução da inadimplência para o Nubank e outros players, diante da situação do Brasil e fora do País, dificultando ter convicção em um cenário de como esse tema vai evoluir. 

“O jeito que tentamos responder a esses cenários é, basicamente, trazendo resiliência de crédito muito maior para a nossa carteira, precificando a carteira, tomando decisões de concessão de crédito de forma com que a carteira inteira pode experimentar a inadimplência dobrar e, ainda assim, ela ser rentável”, afirma Lago. 

Ainda que tenha divulgado um aumento dos NPLs, o Nubank destacou que houve uma melhora na qualidade da carteira de crédito, com evolução na precificação e no custo de financiamento. 

O processo de reprecificação de produtos, segundo Lago, vem ocorrendo ao longo dos últimos trimestres. Ele cita ainda a redução do custo de financiamento, que caiu de 98% para 95% do CDI. 

A margem bruta voltou a crescer após quatro trimestres de compressão, para 33%, após alcançar 31% no segundo trimestre. “Quando falamos de inadimplência, falamos de uma parcela de um quadro muito maior e mais rico”, diz Lago.

O Nubank fechou o terceiro trimestre com 70,4 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia, um crescimento de 46% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita média por cliente ativo (ARPAC, na sigla em inglês) aumentou para US$ 7,90, um crescimento de 61% em base anual. 

Diante dos resultados, Veléz afirma que a tendência de pessoas buscando alternativas aos grandes bancos deve continuar puxando o crescimento do Nubank nos próximos anos. 

Em termos de produtos, a fintech tem visto oportunidades na parte de consignado, com seu produto nesta linha ainda em fase de testes. “Temos um grande número de funcionários públicos em nossa base de clientes”, afirma Veléz. 

O fundador do Nubank também diz que pretende lançar crédito com colateral em 2023, já tendo parceria com a Creditas desde setembro de 2021 para produtos envolvendo imóveis e automóveis. Ele tem também planos para seguros e ofertas para pessoas que trabalham como pessoas jurídicas. 

No caso das operações internacionais, Veléz diz estar satisfeito com os resultados até o momento, destacando que não há planos de entrar em outro país em 2023. “Já somos o maior emissor de cartões no México e na Colômbia”, diz. “O próximo passo será lançar NuConta nesses dois países.”

No terceiro trimestre, o lucro líquido contábil de US$ 7,8 milhões revertei um prejuízo de US$ 34,2 milhões no mesmo período do ano passado. No segundo trimestre de ano, as perdas somaram US$ 29,9 milhões.

O lucro líquido ajustado, em que são descontadas despesas relacionadas à remuneração baseada em ações e efeitos tributários com esses itens, foi de US$ 63,1 milhões.

A receita, segundo a empresa, bateu recorde no trimestre, somando US$ 1,3 bilhão, alta de 171% em base anual. O resultado foi provocado pelo upselling e cross-selling de produtos.

As ações do Nubank fecharam o pregão desta segunda-feira, 14 de novembro, com queda de 2,13%, a US$ 4,34. No ano, elas acumulam queda de 53,8%, levando o valor de mercado para US$ 20,3 bilhões.