“Eu fui responsável pela FTX e seu colapso é minha responsabilidade”, disse Sam Bankman-Fried, vestindo um traje de prisão marrom, antes de saber qual seria a sua sentença, nesta quinta-feira, 28 de março.
Pouco depois saiu a sentença. O fundador da FTX terá que cumprir 25 anos de prisão pelos crimes de fraude que levaram a corretora de criptomoedas ao colapso, cujas perdas estimadas aos clientes são calculadas em US$ 8 bilhões. A tendência, porém, é que ele não passe todo esse tempo atrás das grades.
De acordo com o The Wall Street Journal, Bankman-Fried poderá ser solto antes se mantiver um bom comportamento e realizar trabalhos durante a prisão. Em geral, isso permite que os prisioneiros possam limpar até um terço de suas penas. No caso do empresário, pouco mais de oito anos.
Bankman-Fried foi considerado culpado de sete acusações de fraude e conspiração. Ele teria arquitetado todo o esquema de repasse de dinheiro entre a FTX e a Alameda Research, empresa-irmã da correta de criptomoedas. O dinheiro seria repassado para as contas de pessoas-chave da FTX. Entre elas, Bankman-Fried.
Um documento exibido no Tribunal de Falência do Distrito de Delaware, nos Estados Unidos, aponta que o fundador pegou US$ 1 bilhão emprestado com a Alameda Research. Essa linha de crédito alternativa foi financiada, portanto, com dinheiro dos investidores que alocaram o capital nos fundos da FTX.
O dinheiro também foi utilizado para investimentos de risco, compra de imóveis de luxo, doações a políticos e até campanhas de marketing para alavancar a operação das empresas de Bankman-Fried. Essa última frente envolveu ações com estrelas como a modelo brasileira Gisele Bündchen e os atletas Tom Brady e Stephen Curry.
Pouco antes do caso de fraude vir a tona, a FTX esteve próxima de ter sua operação adquirida pela concorrente Binance. A compradora, porém, desistiu do negócio afirmando que os problemas da FTX não se limitavam a uma crise de liquidez no negócio.
Em novembro de 2022, uma série de tuítes de Sam Bankman-Fried começou a escancarar a real situação da companhia. "Eu f*di tudo", escreveu o empresário no X (Twitter, na época). As mensagens eram relacionadas somente a crise de liquidez do negócio e não mostravam o real motivo pelo qual a FTX estava em apuros.
Antes de quebrar, a FTX chegou a ser avaliada de forma privada em mais de US$ 32 bilhões. A companhia levantou cerca de US$ 1,8 bilhão em investimentos de gestoras como Softbank, Tiger Global, Temasek Holding, Lightspeed Venture Partners e Insight Partners.
No mês passado, os advogados de Bankman-Fried disseram que esperavam uma sentença não maior do que seis anos. A justificativa era que o cliente de 32 anos apresenta autismo e tem um grande remorso pelo ocorrido. Os advogados também argumentaram que o fundador da FTX atua em prol de instituições de caridade.
A acusação também não ficou satisfeita com a pena de 25 anos. A expectativa é de que a sentença pudesse ser de 40 a 50 anos de prisão. “Ele não se responsabilizou por mentir, roubar e cometer fraude”, disse Nicolas Roos, procurador-assistente designado ao caso.
Ainda que a sentença não tenha agradado totalmente nem a gregos e nem a troianos, o caso envolvendo o fundador da FTX se torna histórico. Somente Bernard Madoff (1938-2021) foi sentenciado com uma pena maior. Ele foi condenado a 150 anos de prisão pelos crimes de fraude que teriam gerado um impacto de mais de US$ 65 bilhões. Madoff morreu em 2021.
Outro caso bem conhecido é o de Jordan Belfort, o "lobo de Wall Street, fundador e CEO da Stratton Oakmont. Belfort, porém, foi sentenciado somente a quatro anos de prisão e cumpriu 22 meses, saindo antes por conta de um acordo de delação premiada.