Voltados ao tratamento da obesidade e da diabetes, os medicamentos à base de GLP-1, o hormônio da saciedade, já respondem por uma fartura de vendas no varejo farmacêutico. É o que mostram dois relatórios do BTG Pactual, a partir de conversas com a IQVIA, uma das principais consultorias do setor.
Segundo dados da IQVIA, a categoria, que reúne medicamentos como Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, e Mounjaro, da Eli Lilly, alcançou um patamar anual de vendas entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões no País. E tem a projeção de chegar a aproximadamente R$ 9 bilhões em 2026.
Nesse contexto, o banco observa que, além de remodelar o varejo e a indústria farmacêutica, a classe tem sido o grande motor de crescimento desses mercados. E para ressaltar esse peso, destacam que as vendas nesse balcão seriam mais enxutas.
“Sem a categoria, a expansão do varejo teria caído para cerca de 7,5% a 8%, em comparação com os 10% projetados atualmente (mesmo ritmo esperado para o próximo ano)”, escrevem os analistas do BTG Pactual.
Nessa mesma linha, o time do banco realça que as vendas desses medicamentos têm compensado a moderação em outros segmentos. E são o principal fator pelo mercado como um todo seguir mantendo um crescimento próximo à sua faixa histórica de dois dígitos.
Há outros destaques a partir das conversas com a IQVIA. Com o impulso dos medicamentos à base de GLP-1, o canal online alcançou uma fatia de 15% a 20% da receita total do varejo farmacêutico local. Há 5 anos, esse índice era de menos de 5%.
Esse ganho de participação é atribuído, em grande parte, ao crescimento das vendas online do Mounjaro, da Eli Lilly, que ajudou a desafiar a visão de que os medicamentos controlados não poderiam ser comercializados em larga escala no digital.
“O produto tornou-se uma referência para tratamentos de alto valor e provavelmente moldará a estrutura de futuros lançamentos premium”, pontuam os analistas. “Em vez de canibalizar o Ozempic e o Wegovy, o Mounjaro expandiu o mercado geral.
Os relatórios também abrem espaço para os efeitos da categoria na indústria farmacêutica, especialmente sob a perspectiva das quedas de patentes, a partir de 2026, de alguns dos “blockbusters” por trás dessa onda do GLP-1, em mercados como Brasil, Índia, China, Canadá e Turquia.
A expectativa é de que essa expiração das patentes desencadeia uma concorrência intensa e, no caso do Brasil, a IQVIA e o BTG veem, já na largada, ao menos cinco grandes fabricantes locais dispostos a entrar nessa corrida.
Nesse páreo, a consultoria entende que a EMS está bem-posicionada para ser um dos líderes, com capacidades de produção já alinhadas aos padrões americanos. Outro destaque é a parceria da Eurofarma com a Novo Nordisk, que deve ampliar o alcance da distribuição em todo o Brasil.
A IQVIA ressalta ainda a nova fábrica da Biolab, com previsão de início das operações em novembro e que reforçará sua capacidade. E, completando esse pacote, cita que a Hypera e a Aché também estão se preparando para entrar nesse mercado.
Com base em toda essa movimentação - em contextos similares de outras categorias -, a IQVIA prevê que o preço dos medicamentos à base de GLP-1 caia cerca de 50% à medida que os genéricos alcancem cerca de 30% das vendas, até o fim de 2026.
“Os players com maior capacidade de produção devem desfrutar de uma clara vantagem de pioneirismo, preenchendo os estoques antecipadamente e garantindo espaço nas prateleiras antes da chegada dos concorrentes”, concluem os analistas.