Desde a abertura de capital, em 2021, a ClearSale vem decepcionando os investidores. Sofrendo com os efeitos da desaceleração das vendas no e-commerce, que começou justamente no ano de seu IPO, a empresa de soluções antifraude e score de crédito vem desde o ano passado adequando a estratégia em busca da rentabilidade.

Mesmo vendo os primeiros sinais de melhora e esperando que 2024 seja melhor, o Santander Brasil avalia que os próximos anos serão desafiadores para a empresa, com um desempenho ainda abaixo do visto antes da abertura de capital.

Por conta desse panorama, os analistas Henrique Navarro, Arnon Shiraz e Anahy Rios decidiram rebaixar a recomendação para as ações de compra a neutro e o preço-alvo de R$ 12 para R$ 3,50 - um ajuste próximo ao valor atual do papel, que tem sido negociado em torno de R$ 3.

“O plano (implementado em 2023) foi difícil de executar, envolvendo a diminuição das oportunidades de crescimento internacional, o fim dos contratos com margens baixas, assim como a dispensa de um número significativo de empregados”, diz trecho do relatório. “Para nós, 2024 deve ser um ano melhor que 2023, mas não o suficiente para sustentar uma visão positiva.”

Os analistas do Santander melhoraram as projeções para o resultado da última linha do balanço da ClearSale em 2024. De um lucro de R$ 50 milhões, eles passaram a esperar um ganho de R$ 19 milhões. Para 2023, a expectativa é de um prejuízo de R$ 46 milhões.

“Isto (desempenho em 2024) foi possível graças à combinação de um crescimento esperado de 5% para a receita e a redução significativa das despesas”, diz trecho do relatório.

No terceiro trimestre, a ClearSale registrou um prejuízo líquido recorrente de R$ 10,5 milhões, revertendo o prejuízo de um ano antes. A receita operacional líquida caiu 8,4%, para R$ 119,3 milhões, enquanto o Ebitda recorrente ficou negativo em R$ 4,4 milhões, também revertendo o resultado positivo do mesmo período de 2022.

Em entrevista ao NeoFeed em março do ano passado, o CEO da ClearSale, Eduardo Monaco, contou que a companhia promoveu uma reestruturação organizacional criando três unidades de negócios independentes – e-commerce, application fraud e new ventures. Segundo ele, por mais que a solução antifraude seja bem-sucedida, a única maneira de crescer de forma sustentável é jogando luz sobre outras linhas de negócios.

Na frente das despesas, a companhia informou em outubro sobre a demissão de 9% de seu quadro de funcionários, visando preservar o caixa. A empresa tinha mais de 3 mil colaboradores, segundo informações em seu site na ocasião, com escritórios na Austrália, México e Estados Unidos.

Para o Santander, a companhia deve começar a reduzir a queima de caixa vista em 2023. A companhia encerrou o terceiro trimestre com R$ 369,9 milhões em caixa líquido, uma redução trimestral de R$ 27,7 milhões e de R$ 47,0 milhões no ano, enquanto o endividamento total alcançou R$ 43,9 milhões, abaixo dos R$ 45,6 milhões apurados no segundo trimestre.

Por volta das 14h45, as ações da ClearSale subiam 3,3%, a R$ 3,14. Em 12 meses, elas acumulam queda de 68%, levando o valor de mercado a R$ 586,3 milhões.