Em pouco mais de quatro anos como companhia de capital aberto, a Vivara conquistou o status de uma das joias da coroa da B3. Mas bastaram apenas dez dias para que a rede de joalherias colocasse essa posição privilegiada duramente em xeque.

A rápida trajetória de “queridinha” a questionada teve início na noite de 15 de março, quando a empresa surpreendeu o mercado ao anunciar a renúncia do CEO Paulo Kruglensky e informar que Nelson Kaufman, fundador e maior acionista da rede, voltaria ao dia a dia para ocupar o posto.

Na segunda-feira, dia 25, diante da reação bastante negativa do mercado, a Vivara recalculou o roteiro ao nomear o CFO Otavio Lyra como novo CEO e Kaufman como presidente do board. A reengenharia não estancou, porém, a queda em suas ações e só reforçou as incertezas sobre a sua governança.

A partir de agora, cabe a Lyra a árdua tarefa de resgatar a confiança e de tentar “limpar a barra” da rede, ao restabelecer um novo diálogo com o mercado. O que ele já tem feito. Na quinta-feira, 27 de março, uma de suas primeiras interlocuções, agora como CEO, envolveu os analistas do BTG Pactual.

As mensagens e planos transmitidos por Lyra são o mote de um relatório divulgado nesta sexta-feira pelo banco. E, a princípio, o saldo de suas palavras foi favorável. O BTG manteve a recomendação de compra, apesar de reduzir o preço-alvo do papel, de R$ 41 para R$ 37.

“Embora acreditemos que a incerteza persistirá no curto prazo e reconheçamos que isso pode impedir os investidores de comprar as ações mesmo após a recente queda, continuamos a ver fundamentos sólidos, agora negociados a um preço muito mais barato”, escreveram os analistas do BTG.

Na conversa, o CEO confirmou que a rede deve manter um forte ritmo de expansão no Brasil em 2024, com a meta de abrir entre 70 e 80 lojas. Essa visão otimista é respaldada pelo bom desempenho da Life, marca mais acessível da Vivara, em shoppings de baixa e média renda, e no interior do País.

A partir do encontro, a projeção do BTG é de que a empresa abra, em média, 60 lojas por ano até 2027. Dentro dessa base, a estimativa é de que a rede chegue a um total de 620 lojas nesse intervalo, sendo 307 da Life, 297 da Vivara e 16 quiosques.

Essa expansão traria um crescimento de 11% na área de vendas e um salto anual de 10%, em média, das vendas mesmas lojas. O que, por sua vez, resultaria em um avanço de 17% na receita líquida e de 22% por ano no Ebitda ajustado, com margem Ebitda nos patamares de 28%, em 2024, e 32%, em 2027.

“Para aumentar as vendas e a lucratividade, a Vivara está tentando melhorar a gestão de receitas na Life. Essa estratégia, juntamente com o maior foco em produtos de prata, melhor gestão de receitas e ajustes estratégicos de preços, deve aumentar as margens”, ressaltam os analistas.

Em relação à expansão internacional, um dos novos pontos colocados em pauta durante a gestão de apenas dez dias de Kaufman, Lyra confirmou que a Vivara está explorando essa tese e planeja abrir lojas-piloto no Panamá e no México.

Segundo o executivo, esses projetos no exterior estão sendo planejados como testes de pequena escala, sem envolver grandes custos fixos, o que não deve afetar as margens de lucro. Ele também ressaltou que, no Brasil, o plano é gerar caixa adicional com a meta de reduzir os estoques em cerca de 20 dias. ¨

Até o momento, o corpo a corpo de Lyra com os investidores não reverteu a trajetória descendente nas ações. Por volta das 13h05 de hoje, o papel recuava 1,25%, cotado a R$ 25,27. Desde o anúncio de Kaufman como CEO, a desvalorização está em 17,7%. No acumulado do ano, a queda é de 26,2%. A Vivara está avaliada em R$ 5,9 bilhões.