Na noite de quarta-feira, 22, a Zhongzhi Enterprise, grupo chinês de gestão de fortunas que oferece crédito para o setor imobiliário e que está há meses no centro de uma grave e crescente crise de liquidez, voltou a acender o sinal de alerta do mercado sobre suas operações.

Nada animadora, a nova mensagem veio na forma de uma carta destinada a investidores, na qual a empresa ressaltou que está “gravemente insolvente” e enfrenta “riscos significativos de continuidade”, além de traduzir esse cenário em números.

A Zhongzhi informou que tem um total de ativos sob gestão da ordem de US$ 28 bilhões, contra US$ 108 bilhões no fim de 2022. Em contrapartida, a companhia disse acumular passivos entre US$ 59 bilhões e US$ 64 bilhões, o que resulta em um saldo negativo de, ao menos, US$ 31 bilhões na operação.

No documento, a empresa observou ainda que seus ativos estão concentrados em dívida e em investimentos em participações, que são difíceis de liquidar. E acrescentou que o valor de recuperação com alienações será baixo e insuficiente para cobrir as dívidas no curto prazo.

Essa crise não ficou, obviamente, limitada às diversas empresas sob o seu guarda-chuva. Segundo o The Wall Street Journal, desde agosto, ao menos 16 companhias listadas na China registraram que não receberam pagamentos de juros ou de capital sobre produtos geridos pelo grupo.

A soma desses pagamentos é equivalente a US$ 144 milhões e ilustra mais um entre tantos capítulos que vem sendo escritos desde o início de 2023, quando a empresa passou a ficar sob os holofotes ao informar que deixaria de pagar os juros de muitos de seus produtos.

Já em agosto, a companhia anunciou que havia contratado a KPMG para realizar uma auditoria com o objetivo de implantar uma potencial reestruturação de sua dívida.

Apesar de sua extensão, o roteiro da Zhongzhi é apenas mais um episódio entre outros casos de conglomerados do país da Grande Muralha envolvidos em imbróglios bilionários relacionados à falta de liquidez e ao risco de insolvência, agravados pela desaceleração da economia chinesa.

Responsável por um quarto do PIB chinês e por 25% dos financiamentos bancários no país, o setor imobiliário guarda alguns dos principais exemplos, ao registrar um calote de cerca de US$ 30 bilhões em dívidas no ano passado, segundo dados da agência de classificação de riscos S&P Global Ratings.

O efeito Evergrande

Em meio ao estouro da bolha imobiliária no país, 2020, na trilha da pandemia, um dos casos mais emblemáticos - e com efeitos ainda presentes -, envolveu o calote da Evergrande, há dois anos. No fim de junho de 2023, a dívida total da incorporadora ultrapassava a casa de US$ 332 milhões.

Com uma dívida offshore no valor de US$ 31,7 bilhões, a incorporadora buscou o capítulo 15 da lei de falências dos Estados Unidos, que protege empresas não americanas em processo de reestruturação junto a credores que esperam processá-las ou bloquear seus ativos no país.

Em setembro deste ano, em um dos passos mais recentes desse script, a Evergrande cancelou conversas para reestruturar mais de US$ 19 bilhões em títulos de dívida internacional, gerando alertas de credores sobre um “colapso descontrolado” e os “efeitos catastróficos” dessa medida para o mercado chinês.

Outra protagonista nessa trama é a Country Garden, incorporadora que já ostentou o status de a maior do país. A empresa, que reportou uma perda de US$ 7,3 bilhões no primeiro semestre de 2023, acompanhada de uma queda de 81% em suas vendas.

Listada em Hong Kong e especializada em imóveis residenciais, a companhia vem tentando emplacar, sem sucesso, a reestruturação da sua dívida, da ordem de US$ 190 bilhões. E, diante desse cenário, no início de outubro, alertou investidores que poderia entrar em default.