A Bolsa de Hong Kong é um dos principais hubs financeiros do mundo, com uma capitalização de mercado de mais de US$ 4 trilhões. Esse montante a coloca em sétimo lugar no ranking das maiores bolsas de valores do mundo feito pela World Federation of Exchanges, associação global das operadoras de bolsas de valores.

Mesmo assim, o mercado vem passando por dificuldades de liquidez, provocando uma perda de quase um terço do valor de capitalização desde o pico apurado em meados de 2021, segundo reportagem do jornal The Wall Street Journal.

O Hang Seng, principal índice da Bolsa de Hong Kong, registra uma perda acumulada de 13% em 2023, fechando no menor patamar do ano na quarta-feira, 4 de outubro, aos 17.195,84 pontos.

A situação é resultado da queda no volume de negociações nos últimos três anos, que tem levado a um aumento da volatilidade nos preços das ações, fator que dificulta atrair IPOs de empresas de fora da China.

Em agosto, o operador da Bolsa de Hong Kong culpou a alta dos juros pelo mundo, a fragilidade da economia global e os consequentes receios em relação aos mercados acionários como justificativa pela situação.

Mas pessoas que atuam no mercado dizem que não é apenas isso. Um dos principais motivos para essa piora é que muitos investidores estrangeiros se retiraram dos mercados chineses devido a questões geopolíticas, com destaque para os americanos.

Pequim e Washington estão numa "guerra fria" para saber quem será a próxima superpotência global. A disputa envolve uma série de temas, com a parte de tecnologia ganhando proeminência nos últimos tempos.

Outra fonte de preocupação é a condição da economia chinesa, cujo crescimento vem desacelerando e apresenta pontos problemáticos, especialmente no mercado imobiliário.

Estas questões pesam particularmente sobre a Bolsa de Hong Kong, em que o dinheiro consegue circular com muito mais liberdade do que nos mercados da China continental - lá os controles sobre os fluxos de recursos são mais rígidos.

Para contornar a situação, oficiais do governo da cidade de Hong Kong montaram uma força tarefa para tentar melhorar a liquidez do mercado. Uma das medidas sob análise inclui revisar as taxas para realizar negócios, depois de as bolsas na China continental terem reduzido os custos no mês passado. Enquanto em Hong Kong os investidores precisam pagar uma taxa de 0,13% sobre os negócios, na China continental a taxa foi reduzida para 0,05%.

A indústria financeira local defende a redução das barreiras de entrada para investidores localizados na China continental. Alguns membros da Asia Securities Industry & Financial Markets Association, um grupo de lobby, propõem reduzir o mínimo de recursos necessários para acessar o mercado de Hong Kong. Atualmente, investidores no continente chinês precisam ter pelo menos 500 mil yuans (US$ 69 mil) em recursos para operar na ilha.

Apesar dos estudos, o tema de como retomar a liquidez da Bolsa de Hong Kong não deve fugir da geopolítica. No mês passado, o secretário de Finanças de Hong Kong, Paul Chan disse que a solução não passa apenas pela redução de custos, culpando “o preconceito político ocidental” por prejudicar a confiança dos investidores em Hong Kong e no mercado chinês.