Após dois anos em que as vendas de produtos eletrônicos deram um salto, com a quarentena impulsionando a busca por produtos para trabalhar ou se divertir, a Allied sentiu uma “ressaca” de compras no mercado em 2022. Para piorar, a deterioração do cenário macroeconômico pesou no ímpeto de consumo das famílias e não caiu bem na empresa.
Mas a distribuidora e varejista de eletrônicos começa a sentir em 2023 uma diminuição dos sintomas característicos de quem exagerou na dose, vendo o início de um ciclo de renovação dos equipamentos, puxado especialmente com a expansão do 5G pelo País.
E com a ajuda de um remédio vindo “de fora”: o início das operações de distribuição no exterior. Com isso, a companhia espera um alívio do mal-estar que enfrentou no ano passado.
“Começamos 2023 tentando entender o que vai acontecer com o Brasil”, diz Silvio Stagni, CEO da Allied, ao NeoFeed. “Pelo menos neste começo de ano, o mercado deve ser mais duro, mas os programas sociais do governo devem ajudar a fomentar a demanda por eletrônicos, e tem ainda os fatores endógenos do negócio que podem ajudar.”
A empresa vê sinais favoráveis nos mercados em que atua. Em conversas com fabricantes de computadores, os executivos ouviram que existem indícios de um início de ciclo de troca de produtos. Equipamentos comprados no começo de 2020, quando o isolamento social e a quarentena predominaram, devem começar a ser substituídos.
Esse ciclo de trocas deve ser ainda mais forte no mercado de smartphones, com o avanço do 5G pelo País. A tecnologia começou a ser implementada no final de 2021 e vem puxando a demanda por telefones compatíveis com essa quinta geração para redes móveis e de banda larga.
Stagni cita dados da consultoria GfK de que a venda de smartphones com 5G no Brasil triplicou em 2022, comparado com o ano anterior. Para ele, a tendência é de que o ritmo, no mínimo, se mantenha ao longo deste ano.
A demanda em alta somada ao preço médio superior do telefone 5G frente a outros modelos – R$ 2,9 mil ante R$ 1,2 mil – está gerando boas expectativas na diretoria da Allied.
“Toda mudança de tecnologia gera um aumento de demanda, seja porque o consumidor quer, seja porque as operadoras fomentam”, diz Stagni. “E nunca houve uma mudança de tecnologia que gerou um aumento de demanda tão forte quanto o 5G.”
Junto com boas tendências de mercado, a Allied aposta no início das operações internacionais como um motor de crescimento em 2023.
Depois de estabelecer um escritório em Miami em agosto do ano passado, a empresa começou a distribuir produtos Apple no início deste ano para países da América Latina em que a companhia de Steve Jobs não tem subsidiária, caso de Brasil, México, Colômbia e Chile.
A expectativa da Allied é alcançar um faturamento de R$ 600 milhões no primeiro ano de atuação, puxado fortemente pelos produtos Apple, mas com esforço para diversificar o portfólio de marcas e produtos já no primeiro ano da internacionalização.
“Vamos buscar outros produtos para a América Latina”, diz Stagni. “E avaliar oportunidades para importar produtos para o Brasil, sem competir em celular, computador e televisão, itens maduros no mercado doméstico, buscando marcas novas, que podem ter apelo ao consumidor daqui.”
A venda corporativa
A Allied também está expandindo sua atuação no B2B, em complemento à estratégia B2B2C da parte de distribuição. Até o momento, as vendas corporativas eram resultado de prospecções trazidas por parceiros de negócios. Em 2022, a empresa registrou R$ 337 milhões em vendas, acima dos R$ 287 milhões de 2021.
Além dos avanços na parte de distribuição, a Allied espera capturar bons resultados na parte de varejo físico. A companhia aposta nos efeitos dos ajustes operacionais realizados nos últimos três anos para tornar as unidades mais eficientes em termos de custos, junto com a redução do número de lojas.
Segundo Stagni, isso resultou numa receita por ponto de venda de R$ 388 mil no quarto trimestre. No primeiro trimestre, esse valor foi de R$ 209 mil.
Em varejo digital, ela conta duas parcerias estratégicas com o Itaú, o programa iPhone Pra Sempre, que permite a compra de smartphones nos aplicativos do banco, e o Xbox All Access, em que a compra do console via banco garante acesso a um repositório de jogos.
A expectativa é que essas frentes ajudem a amortecer os efeitos da derrocada da Americanas, para quem a Allied vendia produtos eletrônicos. Ela tem um crédito de R$ 87,4 milhões com a varejista, valor coberto por uma apólice de seguro.
“Acreditamos que pouco mais da metade dos produtos a gente consegue colocar em outros clientes, como é o caso com videogames, um produto com muita demanda”, diz Luiz Gustavo Antunes, CFO e diretor de relações com investidores da Allied. “O mercado não vai reduzir, a demanda vai para o Magazine Luiza, para a Via, para o Mercado Livre.”
No quarto trimestre, em base anual, o lucro líquido ajustado recuou 67,6%, para R$ 23,4 milhões, a receita diminuiu 21,7%, para R$ 1,3 bilhão, e o Ebitda ajustado diminuiu 44,5%, para R$ 71,7 milhões.
No acumulado de 2022, a Allied registrou um lucro líquido ajustado de R$ 76,6 milhões, queda de 70% ante 2021. A receita líquida caiu 12%, a R$ 5,1 bilhões, e o Ebitda ajustado somou R$ 281,6 milhões, queda de 36,6%.
A dívida líquida fechou 2022 em R$ 496,6 milhões, resultado de uma dívida bruta de R$ 638,5 milhões e posição de caixa de R$ 141,9 milhões. A alavancagem financeira, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado, foi de 1,8 vez.
As ações da Allied fecharam o pregão de terça-feira, 21 de março, com queda de 2,92%, a R$ 4,65. No acumulado do ano, elas registram baixa de 22,1%, levando o valor de mercado para R$ 433,5 milhões.