No início de 2020, quando a Covid-19 ainda contabilizava poucos casos além das fronteiras da China, Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management, alertou que “o inferno estava chegando”, em entrevista à rede americana CNBC.
Pouco tempo depois, ele foi acusado de espalhar o pânico no mercado para turbinar os ganhos da Pershing Square. Em janeiro, a gestora havia feito hedges para proteger seus ativos, no valor de US$ 27 milhões, e lucrou US$ 2,6 bilhões com o tombo de 30% no mercado de capitais, em março daquele ano.
Polêmicas à parte, dois anos depois, Ackman voltou a acionar sua bola de cristal. Desta vez, o “canal” escolhido foi o Twitter, e o tema explorado foram os conflitos envolvendo Rússia e Ucrânia, com uma menção à sua “profecia” do início de 2020.
“Em janeiro de 2020, tive pesadelos com o potencial de uma pandemia, mas todos pareciam pensar que eu estava louco. Estou tendo pesadelos semelhantes agora. A Terceira Guerra Mundial provavelmente já começou, mas demoramos a reconhecê-la”, afirmou Ackman, no primeiro de uma série de 21 tuítes postados no sábado, dia 5 de março.
Ele ressaltou, porém, que há muito a ser feito para evitar o avanço de um conflito de maior escala a partir da região. “Poderíamos parar o absurdo de comprar petróleo da Rússia e financiar a guerra. A Europa pode seguir o exemplo assim que a demanda por gás diminuir na primavera”, escreveu.
Na sequência, em outras mensagens, Ackman destacou a força e a resistência demonstradas pelos ucranianos e frisou que outras nações poderiam ajudar o país, mesmo sem enviar tropas à Ucrânia, fornecendo seus arsenais, armamentos, treinamentos e informações.
“Os ucranianos, com as armas e os recursos certos, estão provando que têm o que é preciso para vencer a guerra”, observou. Ackman fez, no entanto, mais um alerta: “A menos que Putin se torne nuclear”, afirmou.
Nesse sentido, ele criticou a OTAN por relutar em intervir na região caso isso aconteça, seja sob a justificativa de a Rússia ser uma potência nuclear ou por Vladimir Putin, o presidente russo, “ser um louco”.
“O que fazemos, então, quando ele quer mais? A ameaça nuclear não é diferente quando ele toma seu próximo país, seja ele parte da OTAN ou não e, então, estamos estrategicamente piores”, observou. Ele prosseguiu:
“Vamos deixá-lo agora tomar a Ucrânia? Estamos no início das aspirações globais de Putin. A cada ‘vitória’, ele é encorajado a conquistar mais. Ele está nos testando e estamos falhando no teste.”
Como parte dessas falhas, Ackman cita a recusa de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e da OTAN, em criar uma zona de exclusão aérea na região. E também por restringirem uma eventual operação militar direta apenas caso a Rússia ataque um país membro da organização.
Nesse sentido, ele questiona se estabelecer uma linha dura baseada apenas na adesão à OTAN não seria uma carta branca para Putin invadir e subjugar a Suécia, Finlândia, Chipre, Irlanda, Áustria, Malta, Suíça e o restante da antiga União Soviética.
“Existe um número limite que deve morrer antes de decidirmos fazer mais? O que faríamos se a próxima parada de Putin fosse a Suécia e ele começasse a matar civis? Devemos diferenciar entre países não pertencentes à OTAN em nossa disposição de intervir?”, escreveu.
Ao mesmo tempo, Ackman destacou que a “a única maneira otimista” que consegue ver para o conflito é uma intervenção e uma intermediação conduzidas pela China, em busca de “um verdadeiro cessar-fogo e um acordo”.
“Putin respeita e, provavelmente, teme a China”, afirmou. “A China pode se elevar no cenário mundial ajudando a resolver essa crise. O tempo está se esgotando antes que muitas outras crianças de 18 meses morram”, concluiu.