A situação financeira delicada da Oncoclínicas pode representar uma oportunidade para a Rede D’Or São Luiz ampliar sua participação no mercado de tratamento oncológico, segundo avaliação do BTG Pactual.
Os analistas Samuel Alves e Maria Resende entendem que a rede de hospitais tem a chance de expandir seu market share, estimado em 7%, diante da fragilidade do concorrente, que detém cerca de 15% do mercado graças à sua estratégia de crescimento inorgânico, com mais de 50 operações de M&A.
Os analistas do BTG Pactual destacam que a oncologia é um importante motor de crescimento estrutural para a Rede D’Or, representando quase 11% da receita hospitalar. No segundo trimestre, a linha “hospitais, oncologia e outros” do balanço somou receita líquida de R$ 6 bilhões, alta de 12,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“Se a Rede D’Or conseguir capturar metade dos ganhos de participação de mercado da Oncoclínicas desde 2021, isso resultará em um aumento de mais de 30% na receita do segmento nos próximos três anos (o que representa um crescimento de um dígito baixo a médio nas receitas hospitalares da Rede D’Or)”, diz trecho do relatório.
A oportunidade de expansão da Rede D’Or em oncologia ocorre após forte crescimento nos tratamentos nos últimos cinco anos, tendência que deve continuar. Os analistas do BTG calculam que o mercado privado de oncologia registrou uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 10% entre 2021 e 2024, com os tratamentos respondendo por 15% dos gastos das operadoras de saúde em 2024.
“Olhando para o futuro, prevemos um crescimento nominal do mercado de oncologia de aproximadamente 10% ao ano nos próximos três anos, impulsionado pelo envelhecimento da população, inovação contínua e maior acesso a tratamentos avançados”, diz o relatório.
Os analistas avaliam que a Rede D’Or tem a oportunidade de ganhar espaço da Oncoclínicas em regiões como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal, onde há maior sobreposição entre as operações das duas empresas.
Eles apontam também a possibilidade de as dificuldades da Oncoclínicas levarem à migração de médicos para outras companhias, como a Rede D’Or. A estimativa é de que a empresa fundada por Bruno Ferrari empregue 18% dos oncologistas do País, fator relevante para seu modelo de negócios, segundo o BTG.
“Uma das principais vantagens competitivas da Oncoclínicas tem sido seu corpo clínico, já que os médicos continuam sendo o principal canal para atrair novos pacientes e impulsionar o crescimento do volume”, diz o relatório.
“De acordo com nossas checagens, o estresse financeiro da Oncoclínicas já está se traduzindo em desafios competitivos, com alguns médicos buscando oportunidades em outros lugares”, complementa.
A Oncoclínicas vem trabalhando para reverter a situação reforçando sua posição financeira. Conforme antecipou o NeoFeed, a empresa aprovou um aumento de capital de quase R$ 2 bilhões para reduzir a alavancagem financeira e reforçar o caixa.
Seu momento contrasta com o vivido pela Rede D’Or, eleita pelos analistas do BTG Pactual como principal escolha no segmento de saúde. O BTG Pactual mantém recomendação de compra para as ações da Rede D’Or, com preço-alvo de R$ 48, o que pressupõe um upside de 18%.
“A Rede D’Or continua sendo nossa principal escolha, dadas suas sólidas perspectivas de crescimento hospitalar, a melhoria da lucratividade em todos os segmentos e diversos catalisadores, incluindo alavancagem com menores taxas de juros, oportunidades de fusões e aquisições, sua parceria estratégica com o Bradesco e o potencial significativo que vemos no segmento de oncologia”, afirma o relatório.
Por volta das 12h, as ações da Rede D’Or subiam 0,27%, a R$ 40,85. No ano, os papéis acumulam alta de 61,7%, levando o valor de mercado a R$ 93,8 bilhões.
Os ativos da Oncoclínicas avançavam 0,69%, a R$ 2,92. Com alta de 23,2% no ano, a empresa é avaliada em R$ 1,9 bilhão.