O ministro da Economia, Paulo Guedes, que já não tem mais a mesma credibilidade de antes perante o mercado financeiro, resolveu desafiar os analistas e economistas do setor financeiro que estão prevendo uma economia mais frágil no ano que vem.
Nesta quarta-feira, dia 17, ao participar de evento online promovido pelo Bradesco BBI e direcionado a investidores estrangeiros, Guedes disse que discorda das projeções de todos os bancos para a economia brasileira em 2022 e acredita que o País irá surpreender positivamente.
"As pessoas estão prevendo que o mundo vai crescer 5%, 6% em 2022, enquanto no Brasil será zero. Vamos ver o que vai acontecer no ano que vem e conversamos de novo. Para quem está prevendo zero ou 1%, será uma vergonha", disse o ministro.
No boletim Focus publicado na terça-feira, dia 16, relatório do Banco Central (BC) que colhe as projeções do mercado, a mediana das estimativas aponta para uma expansão tímida em 2022, de 0,93%. O Bradesco calcula avanço de 0,75%. Já o Itaú Unibanco espera retração de 0,5%.
"Eu não faço projeções, apenas me divirto com as projeções erradas, porque vejo os números aqui, de todos os setores", afirmou o ministro. "Vamos ver o que vai acontecer com os bares, os restaurantes e os hotéis. Tentem fazer reservas para as suas férias. Está tudo lotado".
O próprio Ministério da Economia, porém, também faz suas estimativas. Para 2021, a projeção é de expansão de 5,1%. Para 2022, de 2,1%. Os números foram divulgados nesta quarta-feira.
Guedes, que diz ser uma pessoa baseada em fatos e não em projeções, ressaltou que a arrecadação de impostos do governo, indicador que costuma ter uma correlação positiva com a atividade econômica, tem batido recordes em 2021 e lembrou que, em 2020, “todo mundo” estava prevendo que o PIB brasileiro iria cair mais de 9%.
No ano passado, o PIB do Brasil caiu 4,4%, segundo o IBGE. Para este ano, a projeção do mercado financeiro, segundo o Focus, é de expansão de 4,8%. “Quando eu disse que o Brasil iria ter uma recuperação em V, disseram que eu estava vivendo em um mundo paralelo”.
Para o ano que vem, os economistas estão considerando que a Selic, a taxa básica de juros, vai subir para 11% ao ano, com um efeito contracionista na economia, após ter chegado a 2% em 2020. A alta dos juros reflete a aceleração da inflação, que já supera a casa dos 10% em 12 meses, corroendo o poder de compra das pessoas.
Além disso, o desemprego entre o brasileiros atinge a marca de 13,2%, no trimestre encerrado em agosto, no levantamento mais recente publicado pelo IBGE, divulgado em outubro. São 13,7 milhões de pessoas sem uma ocupação.
Alguns economistas do mercado não descartam que o ano de 2022 experimente uma estagflação, com PIB próximo de zero e inflação ainda alta, em cenário similar ao vivido em 2015, no último ano do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Guedes reconhece que o Brasil não vai conseguir manter em 2022 o ritmo de expansão de 2021, porque os juros mais altos devem desacelerar a atividade, mas também não vê o PIB caminhando para um resultado tão baixo.
"Certamente, nós temos um problema com a inflação subindo. Certamente nós temos um problema, porque não estamos sendo bem-sucedidos em implementar as reformas com a velocidade necessária", ele disse.
"Não vamos ter baixo crescimento em 2022. Provavelmente a inflação vai ser um pouco maior do que vocês estão vendo, mas o crescimento também será maior do que vocês estão vendo", disse Guedes, em referência aos economistas do mercado financeiro.
No evento online, o ministro também demonstrou ter uma visão diferente em relação à discussão envolvendo o teto dos gastos.
Na proposta aprovada na semana passada pela Câmara dos Deputados para a PEC dos Precatórios, os parlamentares decidiram alterar a regra da inflação para o teto dos gastos, em proposta feita pelo governo. Até então, o limite de expansão de gastos para o ano seguinte tinha como referência a inflação em 12 meses medida até junho do ano corrente.
Agora, a inflação tida como referência será aquela já apurada entre janeiro e junho do ano corrente mais uma projeção para o período entre julho e dezembro. Como a inflação está mais alta em 2021, com previsão de 9,77% para o ano todo pelo Focus, o governo ganharia mais espaço no Orçamento para ampliar os gastos e acomodar o Auxílio Brasil, o Bolsa Família turbinado proposto pelo governo.
No mercado, analistas viram a manobra como uma “pedalada” do governo para tirar do papel uma medida que busca aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro antes da eleição do ano que vem. A intenção do governo é ter um auxílio de R$ 400 até o fim de 2022.
Para Guedes, porém, trata-se apenas de uma "sincronização" entre o o cálculo da inflação e os gastos do governo. "Certamente foi oportunista do ponto de vista político", admitiu Guedes. "Mas é razoável. O número, de R$ 11 bilhões ou R$ 12 bilhões a mais (de gasto), não é um número grande", afirmou.
O ministro lembrou que os gastos do governo, como proporção do PIB, estavam em 19,5% em 2019 e subiram para 26% em 2020, por causa da pandemia. No entanto, caminha para cair a 17,5% em 2022. "Estamos melhores do que em 2019", ele disse.
Segundo Guedes, com o auxílio de R$ 400 até o fim do ano que vem, a proporção subiria para 18,5%. "Se insistimos com os 17,5%, teremos um enorme sacrifício social para os mais vulneráveis", ele disse. "Politicamente é muito atraente e, fiscalmente, é razoável".