Donas das duas maiores redes de varejo no mercado de pets no Brasil, a Petz e a Cobasi oficializaram a intenção de combinar suas operações ao informar ao mercado sobre a assinatura de um memorando de entendimentos não vinculante na manhã desta sexta-feira, 19 de abril.
O anúncio cria uma gigante com uma receita bruta de R$ 6,9 bilhões e 483 lojas, e já vinha sendo discutido, entre idas e vindas, há três anos. Um fator, porém, fez com que essa agenda fosse acelerada nos últimos 15 dias e caminhasse, enfim, para o acordo: a competição cada vez mais acirrada no setor.
“Temos uma guerra no mundo físico, onde o principal competidor é a Cobasi e vice-versa. E ambos competimos com players online, marketplaces e cross border”, disse Sergio Zimerman, CEO da Petz, em conferência com analistas sobre a transação realizada nessa manhã.
“Nós lutamos todas as guerras ao mesmo tempo e esse cenário onde um fica dando tiro no outro só interessa aos concorrentes e nos divide”, observou. “É algo que sangra ambas as companhias. Esse é o principal mérito dessa transação e foi o ponto central da nossa reaproximação nos últimos dias.”
Ao pontuar, em diversas oportunidades na conferência, que essa é uma “junção de iguais”, Zimerman também destacou que, em um desses diversos fronts de competição, o mundo físico, a fusão carrega o potencial de sinergias já no curto prazo.
“Automaticamente, como empresa combinada, você passa a ter a soma das cidades e para a necessidade de entender que precisa mapear o Brasil inteiro sozinho”, disse. “Essa estratégia fica muito mais racionalizada. Sobra energia, recurso e munição pra você lutar outras batalhas.”
Em relatório divulgado nessa sexta-feira sobre o acordo, o BTG Pactual trouxe um pouco do retrato de como as duas empresas estão distribuídas nesse campo de batalha. Hoje, 48% das lojas da Petz estão em São Paulo, praça que responde por 54% da base da Cobasi.
Nesse mapa, cerca de 35% dos pontos de venda da Petz estão fora da região Sudeste, versus 38% da Cobasi. Esta, por sua vez, tem mais presença em shopping centers e uma fatia de 63% de sua base de lojas em cidades com mais de 500 mil habitantes, contra 66% de sua provável futura “sócia”.
O BTG traz ainda que ambas detêm 47% de suas unidades em municípios com renda média acima de R$ 2 mil. E ressalta que as fusões no varejo nunca são fáceis, justamente por questões como a sobreposição de lojas. Mas faz um contraponto que segue a linha destacada por Zimerman.
“A transação cria um líder num setor desafiante, que tem sido atingido por uma perspectiva cada vez mais competitiva nos últimos anos, isso sem mencionar o crescimento do comércio eletrônico e um declínio nas vendas de produtos não alimentares”, escrevem os analistas do banco.
A reação inicial do mercado ao anúncio foi bastante favorável. Desde a abertura do pregão nessa sexta, as ações da Petz engataram um rali e, por volta das 12h30, estavam sendo negociadas com alta de 43,71%. No ano, os papéis acumulam alta de 27,3% e a empresa está avaliada em R$ 2,25 bilhões.
Ao falar sobre o potencial dessa operação combinada, Zimerman ressaltou que os números inicialmente informados ao mercado, relativos aos balanços de ambas as empresas em 2023, trazem uma matemática “engessada” e escondem, na verdade, um potencial ainda maior.
“Se pensarmos nas estimativas de cada empresa, é natural que a combinação chegue potencialmente a mais de 500 lojas em 2024”, disse. “E, em termos de receita bruta, pelo crescimento natural das duas operações, essa é uma transação muito mais para R$ 7,5 bilhões do que R$ 6,9 bilhões.”
Em contrapartida, o CEO da Petz frisou que ainda não é possível estimar e detalhar as sinergias da fusão antes da fase de due diligence que terá início a partir da assinatura do memorando e que deve se estender por um período de 60 a 90 dias, quando, se espera, o M&A será, de fato, concretizado.
Nessa direção, ele reforçou apenas que, concluído esse trabalho e com a assinatura definitiva do acordo, a orientação será adotar, em cada frente, aquela que for a melhor prática na comparação entre os modelos praticados pelas duas empresas. E, aqui, ele cravou a inspiração para a fusão.
“O que inspira absolutamente essa transação é a fusão da Raia Drogasil”, afirmou. “Existem muitas similaridades entre os setores, especialmente no que diz respeito à fragmentação, e esperamos repetir o sucesso que eles tiveram.”
Nesse percurso, Zimerman ressaltou que Cláudio Roberto Ely, presidente do conselho de administração da Petz, terá um papel fundamental. Na época da fusão entre a Droga Raia e a Drogasil, o executivo era o presidente da companhia, cargo que ocupou até 2013.
A alta fragmentação do mercado de pets também fundamenta, por sua vez, a expectativa de que, caso caminhe de fato para um acerto, a transação entre Petz e Cobasi não enfrente grande restrições para ser aprovada no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
“Naturalmente, temos que aguardar, mas estamos otimistas. Existem locais que sequer tem as duas marcas e outros em que apenas uma delas está presente”, disse Zimerman. “Pode haver, sim, algum remédio, mas não trabalhamos com algo ao ponto de inviabilizar o negócio.”