A Raia Drogasil (RD) vai exercer a opção de compra dos 15% restantes da 4Bio e assumir o controle total da empresa que chegou a um faturamento anual de R$ 3 bilhões e tem crescido a uma média de 50% ao ano, representando aproximadamente 8% da receita bruta da rede de varejo farmacêutico.

A informação foi confirmada pela RD e por André Kina, fundador da 4Bio, ao NeoFeed. Neste momento, as partes estão calculando o valor final a ser desembolsado para a empresa de medicamentos especiais. Segundo a Raia Drogasil, o valor já entrou nas provisões de balanços anteriores, mas pode ser reajustado de acordo com os cálculos que serão feitos.

A 4Bio foi comprada pela RD em 2015, quando a varejista pagou R$ 24 milhões para Kina por uma fatia de 55% da empresa de medicamentos especiais. A empresa é responsável pela comercialização online e entrega de medicamentos especiais, aqueles que não são encontrados nas farmácias e exigem, além da prescrição médica, conservação, armazenagem e transporte específicos.

O acordo envolvia uma opção de compra das ações remanescentes. O valor seria calculado com base na média dos Ebtida ajustados de 2018, 2019 e 2020. A empresa informou que o valor justo em 31 de dezembro de 2016 para a aquisição de 55% era de R$ 45,2 milhões – no último balanço de 2023 consta que o saldo de investimentos na 4Bio já somava R$ 347,3 milhões.

Em 2020, em meio à pandemia da Covid, RD e Kina selaram um acordo na qual a dona das marcas Droga Raia e Drogasil compraria mais 30% do negócio. E os 15% restantes poderia ser exercido a partir de janeiro de 2024.

“Tinha a opção de vender o restante das ações no fim de 2020, mas o negócio estava indo bem e eles estavam satisfeitos com a minha gestão”, afirma André Kina, fundador da 4Bio, em entrevista ao NeoFeed. “Eles fizeram uma proposta de renovação para que eu ficasse no comando até o fim de 2023.”

Em entrevista ao NeoFeed, Eugenio de Zagottis, vice-presidente de relações com investidores e novos negócios da RD, confirmou que a empresa está exercendo a compra da participação restante de Kina, com conclusão neste primeiro semestre, conforme previsão em contrato firmado com Kina.

A companhia é um caso de crescimento exponencial do portfólio da RD e avançou a uma taxa de 50% ao ano desde 2015, quando foi adquirida. “Não imaginávamos que a companhia cresceria tanto. Saímos de R$ 120 milhões para quase R$ 3 bilhões em oito anos só com crescimento orgânico”, afirma Kina.

A 4Bio vende medicamentos de preços altos, que costumam ultrapassar a faixa de R$ 1.000. Uma caixa de 270 cápsulas de Esbriet, por exemplo, um remédio usado para o tratamento de fibrose pulmonar idiopática, é vendida no site da 4Bio por mais de R$ 14,5 mil.

Troca de comando

Com a decisão da RD, Kina deixou o cargo de CEO do 4Bio no começo deste ano. Em seu lugar assumiu Luiz Felipe Bay, executivo que comandava a área de negócios B2B da rede varejista. A troca foi anunciada ao mercado em agosto do ano passado e a passagem de bastão ocorreu na virada deste ano.

Kina seguirá próximo à 4Bio como membro do board da empresa fundada por ele. “Eu também vou auxiliar a alavancar outras startups que a RD comprou nos últimos anos”, diz.

Nos últimos anos, a RD vem investindo na criação de um ecossistema de saúde, com investimentos em startups, joint ventures e desenvolvimento de novos negócios. No varejo aparecem as redes Raia e Drogasil, além da marca própria Needs, que já contribui com mais de R$ 1 bilhão em receitas.

Do lado da vertical de saúde aparecem os novos investimentos, como a Vitat, de apoio à gestão de saúde e promoção de hábitos saudáveis; Dr. Cuco, uma plataforma digital de cuidado; SafePill, que faz a gestão de tratamento medicamentoso domiciliar autônomo; Manipulaê, marketplace de farmácias de manipulação.

Plataforma integrada

Kina fundou a 4Bio em 2005 após trabalhar na P&G e observar uma demanda pelos medicamentos especiais. Esses remédios, utilizados principalmente na área de oncologia e no tratamento de infertilidade, são produzidos com alta tecnologia e demandam cuidados especiais de armazenamento e transporte.

Entre os principais concorrentes da empresa estão Elfa Medicamentos, que, em 2023, recebeu uma injeção de R$ 620 milhões do Pátria; Grupo Viveo, controlado pela DNA Capital; e Oncoprod, do grupo Santa Cruz.

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André Kina, fundador da 4Bio

Kina explica que dois fatores impulsionaram o crescimento da companhia na última década. O primeiro está relacionado ao modelo de negócio que envolve o acompanhamento dos pacientes e não apenas a entrega dos medicamentos. Com isso, a companhia passou a ter um serviço demandado pelas operadoras de saúde.

Em vez de entregar os medicamentos a cada seis meses, a companhia passou a fazer as entregas mensais e realizar até quatro encontros com os pacientes para o acompanhamento do tratamento. “Isso gera economia, aumenta a adesão ao tratamento e evita o desperdício em caso de troca de remédio ou óbito”, diz Kina.

A 4Bio atualmente opera em conjunto com cerca de 400 operadoras de saúde, sendo que cerca de 25% delas optam por utilizar também os serviços de plataforma integrada para substituírem os gastos de reembolso às clínicas e hospitais que faziam o mesmo trabalho. A economia dessas contratantes foi de R$ 300 milhões em 2023.

O segundo ponto está relacionado com a própria RD. Ao incorporar a companhia, a 4Bio passou a ter sua operação inserida em todas as farmácias do grupo. “O paciente chega com receita, consegue comprar o medicamento na farmácia e pode fazer a aplicação no próprio local”, diz Kina. “Ganhamos em capilaridade.”

A RD terminou o terceiro trimestre com 2,8 mil farmácias em operação. Foram 64 aberturas no período. As perspectivas em relação a este ponto são positivas. No balanço do terceiro trimestre, a companhia prevê a abertura de mais de 800 lojas entre 2023 e 2025.

No terceiro trimestre de 2023, a Raia Drogasil (RD) cresceu 16,3%, para R$ 9,3 bilhões. Mas o que chamou a atenção mesmo foi a expansão de 51,1% da 4Bio que, sozinha, contribuiu com 2,1 pontos percentuais de toda a empresa de varejo farmacêutico.

Com valor de mercado de R$ 43,2 bilhões, a ação da RD acumula alta de 11,8% em 12 meses. Em 2024, a queda é de 14,4%.