Desde sua fundação em 2018, na cidade americana de Waltham, em Massachusetts, a biotech CinCor Pharma está focada no desenvolvimento da molécula CIN-107. Batizado baxdrostat, o medicamento promete revolucionar o tratamento da hipertensão, em especial a resistente, quando os pacientes não respondem a três ou mais remédios, incluindo os diuréticos.

Em um dos testes clínicos, a nova terapia conseguiu reduzir a pressão arterial dos doentes em 20 pontos –11 a mais do que o registrado entre os voluntários tratados com placebo. Em outro estudo, porém, os benefícios não foram tão altos e outras pesquisas estão em andamento. Mas a prova mais contundente do potencial do baxdrostat veio na segunda-feira, 9 de janeiro, com a compra da CinCor pela inglesa AstraZeneca por US$ 1,8 bilhão.

Com o negócio, as ações da biotech subiram mais de 150%, atingindo US$ 29,45 no pré-mercado de Nova York. E as da gigante farmacêutica, 0,37%, chegando a US$ 71,06.

Uma das líderes no mercado de medicamentos cardiovasculares e oncológicos e uma das poucas fabricantes da vacina contra a covid-19, a AstraZeneca pretende combinar a CIN-107 com sua dapagliflozina, princípio ativo do Forxiga. Lançado em 2014, foi o primeiro de uma nova classe de medicamentos contra o diabetes tipo 2.

Suas vendas, no entanto, explodiriam quando o fármaco se revelou eficaz também para o controle da insuficiência cardíaca e distúrbios renais em pacientes hipertensos. Apenas nos primeiro nove meses de 2022, o aumento foi de 50%, atingindo US$ 3,2 bilhões. No mercado altamente competitivo dos anti-hipertensivos, a AstraZeneca enfrenta a concorrência da alemã Boehringer Ingelheim e da americana Eli Lilly.

Um terço da receita da farmacêutica sediada em Cambridge vem de medicamentos contra o câncer, mas as substâncias para o tratamento de doenças cardiovasculares e renais e do diabetes movimentam cerca de US$ 6,9 bilhões dos US$ 33 bilhões registrados entre janeiro e setembro do ano passado.

Conforme os analistas da BMO Capital Markets, subsidiária do banco de investimentos Montreal, a patente do Forxiga vence em 2024. Ao combiná-lo com o baxdrostat, a AstraZeneca ganha um fôlego extra, diz Mene Pangalos, vice-presidente executivo de P&D da farmacêutica.

O desempenho da Nasdaq Biotechnology Index caiu cerca de 20% em meados de dezembro passado em relação ao pico de agosto de 2021, o que possibilitou às grandes companhias buscar acordos para prolongar a vida útil de suas patentes. Na mesma segunda-feira, a francesa Ipsen comprou por quase US$ 1 bilhão a americana Albireo, de modo a reforçar seu pipeline de doenças raras.

Cerca de 1,3 bilhão de pacientes no mundo têm pressão alta. Delas, duas em cada dez não conseguem controlar a doença com três ou mais medicamentos, incluindo os diuréticos. Sem o tratamento adequado, a “assassina silenciosa”, como é chamada, encurta a expectativa de vida em 16,5 anos e mata cerca de 8 milhões de pessoas todos os anos. A hipertensão está entre os principais fatores de risco para infarto, derrame e distúrbios renais.