Onipresente: assim deve ser a inteligência artificial em um futuro não tão distante. Quem defende essa tese é Maria Teresa Azevedo, diretora de investimentos do Softbank, gestora japonesa que tem liderado o financiamento global dessa nova tecnologia.

“A inteligência artificial é como eletricidade. É algo que vai impactar profundamente a sociedade e os negócios. Assim como o ar, estará presente em todos os aspectos”, afirmou Azevedo durante o 26º Encontro Anual do Santander, realizado nesta terça-feira, 19, em São Paulo.

Com cerca de US$ 300 bilhões sob gestão, o Softbank tem posições relevantes em algumas das principais empresas ligadas à inteligência artificial, como OpenAI, Arm e, mais recentemente, Intel.

Na América Latina, região sob responsabilidade de Azevedo, o Softbank tem investimentos em 80 companhias, muitas delas já utilizando IA em seus processos. Segundo a gestora, há boas oportunidades especialmente em empresas voltadas à aplicação da tecnologia.

Para Azevedo, a tecnologia deve impor “transformações radicais” em alguns modelos de negócios. Entre os setores mais impactados, afirma, estarão saúde e educação, que devem passar por um processo de hiperpersonalização apoiado pela inteligência artificial.

“Vamos nos aproximando da superinteligência artificial ao longo dos próximos dez anos. Nossas grandes apostas são na construção e elaboração desses modelos [de IA] e, claro, em garantir a infraestrutura para haver capacidade computacional para esse desenvolvimento.”

Embora veja um cenário promissor, a diretora de investimentos avalia que ainda é um “grande desafio” encontrar negócios com um uso claro da inteligência artificial com dados proprietários e que comportem um volume de investimento compatível com o Softbank, entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões.

“Talvez estejamos em um hiato em que será necessário esperar um tempo para que essas empresas, já nativas em IA, estejam prontas para um volume de investimento maior.”

Enquanto essas empresas não atingem o grau de maturação necessário, o Softbank vem ampliando os aportes em companhias já presentes em seu portfólio na América Latina, especialmente naquelas que têm utilizado melhor a tecnologia em seus processos. Presente na região desde 2019, a gestora já investiu cerca de US$ 7,5 bilhões, sendo um terço no Brasil.

“Continuamos com uma visão bastante otimista para o ciclo de longo prazo da IA e para a América Latina”, disse Azevedo.

Apesar das oportunidades de entrada na região, a diretora do Softbank afirma ter enfrentado dificuldades para a saída dos investimentos — cenário que ela vê melhorando apenas a partir do próximo ano.

“O maior desafio na América Latina tem sido as saídas. Felizmente, a janela de IPO está voltando a se abrir [no exterior]. Vamos ver como será em 2026, mas acredito que a partir de 2027 já deve haver espaço para saídas.”

Outro fator que tem dificultado os investimentos do Softbank na região é a volatilidade cambial, já que a gestora tem meta de performance em dólar. A questão também foi destacada por Juan Pablo Zucchini, sócio da Advent e responsável pelos investimentos da gestora na região.

“É uma questão que está permanentemente na mesa. Então, evitamos empresas com exposição cambial muito grande”, afirmou Zucchini, que dividiu o palco com Azevedo, do Softbank, e Ricardo Szlejf, diretor do CPP.

O foco da Advent, segundo ele, tem sido principalmente em como a IA pode contribuir com o resultado das empresas já investidas. “O que posso dizer de concreto é que temos visto ganho de produtividade e satisfação do cliente.”

A abordagem de investimentos em IA na região é diferente em relação à do CPP, o fundo de pensão do Canadá, que têm se concentrado mais na parte de infraestrutura.

“A oportunidade, em termos de necessidade de capital, é gigantesca. Os dois grandes temas que temos são digitalização — principalmente a construção de novos data centers — e eletrificação, dada a necessidade para acomodar essa demanda que, entre outros fatores, a IA vai exigir.”