Um lema escrito na parede da sala de Alexandre Costa, fundador da Cacau Show, é “feliz hoje”. Mas, nos últimos meses, era difícil colocar essas palavras em prática. Ele teve de lidar com as consequências de um incêndio que atingiu cinco das sete linhas de produção da unidade fabril da empresa em Linhares, no Espírito Santo. Mas, na terça-feira, 20 de fevereiro, o sorriso voltou.
Alê Costa, como é conhecido, comprou o Playcenter, uma marca que ficou conhecida pelo parque de diversões em São Paulo, que fechou em 2012. Hoje, a empresa fundada por Marcelo Gutglas tem oito parques indoor e uma receita anual em torno de R$ 100 milhões.
“Após 90 dias [do incidente na fábrica] estamos fazendo arte novamente”, diz Costa, em entrevista ao NeoFeed. “O que eu fiz hoje é um movimento de criação de valor, de criação de experiência.”
Apesar de ter arrematado em leilão, em outubro do ano passado, a fábrica dos chocolates Pan, localizada em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, os últimos movimentos da Cacau Show vão em direção ao entretenimento.
E Costa explica o porquê. “Compramos o ativo da Pan muito mais pensando no valor histórico do que no valor do negócio”, diz. “O nosso propósito é compartilhar momentos especiais. Então, é óbvio, por que tem de (investir) só em chocolate? É chocolate também.”
Neste momento, além de lidar com a alta do preço do cacau (o contrato da commodity tem sido negociada em torno de 4.500 libras esterlinas por tonelada métrica - quase R$ 28 mil), Costa estuda o próximo passo no entretenimento antes de tentar comprar algo ligado ao chocolate.
“Estamos entendendo o que é um plano de negócios de um parque grande. Mas o passo de hoje é um passo no sentido de algo maior, muito maior”, afirma Costa.
Acompanhe, a seguir, os principais trechos da entrevista ao NeoFeed:
Por que os seus últimos investimentos foram em show (entretenimento) e não em cacau (chocolate)?
Porque o nosso propósito é viver para tocar a vida das pessoas, compartilhando momentos especiais. Me conta se isso não é colocar o camarada para dormir? Se não é recebê-lo com mel de cacau? Se não é levá-lo no meio da floresta da Mantiqueira para fazer um ritual de cacau? Se não é chegar num parque e ter diversão para a família? É a mesma coisa! Estão escrevendo aí que eu sou visionário. Sou nada, porque é óbvio para cacete. Super óbvio! Eu só não tenho amarras. Quem falou que tem que ser só (investir em) chocolate? É chocolate também.
Você comprou uma marca de parque de diversões. Quais são os seus próximos passos?
Se você entender que eu quero ter 100 mil pessoas no nosso ecossistema, significa que eu devo correr. Significa que a vida já passou da metade e estamos aqui com muitos sonhos, com muitos planos. Se Deus quiser, ainda este ano, vou falar de coisa grande. Vamos trabalhar para isso. Neste momento, eu não posso dizer que sim, nem que não, porque estamos no working in progress. Estamos entendendo o que é um plano de negócios de um parque grande. Mas o passo de hoje é um passo no sentido de algo maior, muito maior.
Há quanto tempo você negocia a compra do Playcenter?
Tenho o desejo, há muito tempo, de fazer um parque de diversões cujo tema seja chocolate e cacau. É óbvio e é uma evolução natural. A Cacau, pequenininha, começou com lojinhas de 20 metros e chegou em uma de 3.000 metros com um carrossel. Depois veio a hotelaria. Primeiro com Campos Jordão e, agora, com Águas de Lindóia. Todos com cacau e chocolate como tema. Parque de diversão era uma coisa absolutamente natural que acontecesse.
E por que o Playcenter?
O que foi muito legal nesse processo é que em setembro passado a associação brasileira de parque de diversões (Adibra) fez aqui um evento. E o Marcelo, fundador do Playcenter, veio. Como sou um garoto da Zona Norte e fui criado lá (na região e no parque), eu o convidei para almoçar comigo. Foi uma delícia nosso encontro. Depois de duas semanas ele volta e fala: “olha, já tô com uma certa idade, meus filhos não estão no negócio, acho que eu vou vender. E achei você um rapaz muito empolgante”. Eu falei: “Marcelão, pelo preço certo tá vendido. Então, bora achar o preço certo”. E foi o que fizemos nesses últimos três meses, achamos o preço certo e assinamos hoje, às 8 da manhã.
O fundador continua no negócio?
Eu sou dono majoritário do negócio, com 95%. Mantivemos dois profissionais da casa que ele tinha muita gratidão, ele cedeu esses 5% e nós deixamos essas pessoas lá como como nossos sócios e que vão tocar o dia a dia. É um negócio que fatura mais de R$ 100 milhões por ano, já tem um resultado muito bacana. A gente não divulga o valor da transação por respeito a uma solicitação do próprio Marcelo.
O que vem com esse ativo?
Brinquedos do antigo Playcenter tem poucos, pois ele já vendeu a maioria. Hoje, temos oito parques indoors, sendo seis que são Playland e dois que são Playcenter Family. Um já está pronto no shopping Aricanduva e o outro está sendo feito no shopping Shopping São Bernardo. Mas, mais do que isso, eu não comprei máquinas, marca, comprei o know-how. Quem sonha grande como eu quer ter, de fato, um grande parque outdoor, cuja temática seja cacau e chocolate. Eu tenho hoje no Playcenter, que veio nesse ativo, funcionários de 30 anos, 25 anos, 20 anos de casa, ou seja, pessoas que conhecem profundamente segurança e operação de parque de diversões. Então, na verdade, a gente adquiriu know-how.
Quantos funcionários se juntam à Cacau Show?
São 500 pessoas. Nós já temos 22 mil pessoas, os funcionários dos franqueados, que são do sistema. As pessoas me perguntam: qual é o seu grande objetivo de vida? Não é bilhão ou trilhão. Eu quero ter 100 mil pessoas que defendam o nosso propósito, que ganhem a vida através desse desse nosso universo tão rico, tão lindo e tão delicioso que a gente vive.
Vai chamar Playcenter by Cacau Show ou vai ter outro nome?
Playcenter é Playcenter. O by Cacau Show é uma hipótese que estamos testando, mas é uma ideia. Mas o que nós vamos fazer no Playcenter, soon. Vai ter muito mais chocolate na loja, vai ter a fonte de chocolate, algumas atrações vão ser temáticas para os nossos produtos. Bytes, as bolinhas: tem piscina de bolinha, que cor vai ser a bolinha? Vai ser cor de chocolate, com nome Bytes. E vai ter o que na saída? Produto da Cacau Show.
Quais os planos para a fábrica da Pan, adquirida recentemente. Ela entra como opção para a produção?
Os equipamentos são muito antigos e o da Cacau Show é o que tem de mais moderno. Em todo lugar que tem máquinas, nas feiras, eu compro as que estão no estande, sou pirado. Compramos o ativo da Pan muito mais pensando no valor histórico do que no valor do negócio. Tem máquinas lá de 100 anos, lindas e incríveis. Vai que dá certo de eu ter um parque de diversões? Imagina se isso acontece com o tema chocolate, imagina se vai ter na fila coisas falsas ou históricas, que podem contar a história? Então faz sentido. Eu sou apaixonado por isso.
Agora, com esses sonhos grandes, vai recorrer ao mercado captar dinheiro ou continua sem necessidade de financiamento externo?
Por enquanto, não preciso. Se um dia precisar… Eu desenvolvo os nossos negócios com governança. Sou o único dono aqui, com 98,5%, com os executivos como sócios minoritários. Há 10 anos, eu tenho um baita conselho de administração, tenho comitês de risco, de tecnologia, é tudo super sério. A empresa está prontinha para ir ao mercado de capitais. Só precisa “precisar”. Quando precisar, se for essa a alternativa, a gente vai.
Sem restrição?
Sou super a favor disso, zero contra. Mas você sabe mais do que eu como fica complexo. O quanto eu teria de explicar o que eu fiz hoje. Para mim, é óbvio, mas teria gente perguntando se não é perder foco. Não, não é. É expandir foco. O cacau está aí e precisamos contar história. E ao contar história você conquista corações e mentes e, portanto, fideliza consumidor. É simples assim.
O cacau, matéria-prima do chocolate, está com preço na alta histórica. O que isso diz para você e o seu negócio?
Diz que eu tinha que ter mais fazendas de cacau do que eu tenho (risos). É um ponto, mas ele aumentou para todo mundo. E a gente está na ponta de criar valor. O que eu fiz hoje é um movimento de criação de valor, de criação de experiência. A gente vai jogar o jogo, estamos no flow. Se essa for a nova realidade, vai ter de aumentar preço. Mas vai ser para todo mundo. Então, a categoria vai ganhar um outro lugar na vida das pessoas, porque elas vão ter menos dinheiro para comprar chocolate? Quem tiver mais história para contar, mais valor, vai continuar na frente.
"O que eu fiz hoje é um movimento de criação de valor, de criação de experiência"
Mas tem uma grande mudança com essa alta de preço.
Eu não quero minimizar o que está acontecendo, mas o que é bacana é quando acontece algo para todo mundo. Isso é fair, justo. O que não é legal é quando muda uma regra para a empresa A e não para a B. Aí desbalancearia. Então, continua balanceado. Se todo mundo aumentar preço, quem tiver mais eficiência aumenta menor, quem crescer mais, vai diluir mais custo fixo. Quem tiver mais coragem de crescer, e fizemos mil lojas em 2020, 550 em 2022, 550 em 2023 e mais 550 em 2024, então vai ter cada vez mais massa crítica para diluir os nossos custos fixos e, portanto, o custos variáveis do cacau vão ter menos impacto no preço final.
Com mais fazendas próprias você diminuiria também o seu custo?
Temos hoje 5% da nossa produção própria, mas falta 95%. Bora plantar.