O avanço acelerado da computação em nuvem e da inteligência artificial está redefinindo o mapa global do consumo energético. Estimativas da International Energy Agency (IEA) indicam que a demanda mundial por energia pode crescer até 35% até 2035 para atender, especialmente, à expansão de data centers.

Esse movimento também ocorre no Brasil, onde há déficit de data centers para rodar todos os serviços em nuvem utilizados no País. Para se tornar autossuficiente, segundo relatório da Research and Markets, seria necessário aumentar em 250% a capacidade instalada de data centers.

Nessa corrida dos data centers, a plataforma de informações financeiras TradeMap aponta que a CPFL pode ser uma das vencedoras entre as empresas de energia elétrica listadas na B3.

Em relatório que o NeoFeed teve acesso com exclusividade, a equipe de dados econômicos da plataforma aponta que a companhia deve se beneficiar pela exposição a São Paulo e Rio Grande do Sul, dois dos três estados com maior quantidade de data centers.

Segundo levantamento do TradeMap, dos 195 data centers instalados no Brasil, 95 estão em São Paulo e 13 no Rio Grande do Sul.

O relatório também destaca que a CPFL tem tarifa média de R$ 0,72/kWh [kilowatt hora], abaixo da média nacional de R$ 0,78/kWh, o que pode incentivar novos projetos próximos às áreas atendidas.

“A companhia reconhece que a rápida expansão dos data centers no Brasil já impõe desafios inéditos à infraestrutura elétrica, com solicitações que somam 8 GW [gigawatt] em apenas duas distribuidoras no interior paulista”, diz o TradeMap.

Justamente pelo preço da energia, a Copel também é vista entre as mais beneficiadas. A empresa, privatizada em 2023, tem a menor tarifa média entre as listadas, de R$ 0,64/kWh, e atende o Paraná, com 12 data centers instalados. "É uma empresa que desponta como uma das mais beneficiadas pela digitalização e inteligência artificial.”

Outra companhia listada que o TradeMap vê potencial de ser favorecida por esse novo ciclo, embora tenha menor liquidez, é a Celesc. De Santa Catarina, estado com 6 data centers, a empresa tem a segunda menor tarifa de energia entre as listadas, de R$ 0,70/kWh.

“As empresas com tarifas mais baixas podem ser mais atrativas para captar novos investimentos em setores intensivos em energia, como data centers, o que amplia a demanda e o volume de distribuição”, aponta o relatório.

Por outro lado, o TradeMap aponta que a Cemig está mais à margem desse movimento, por ter uma tarifa média mais cara, de R$ 0,86/kWh, e estar fora do eixo geográfico com maior concentração de data centers. Minas, que é o quarto maior estado do País em extensão territorial, tem 9 data centers e uma das tarifas de energia mais caras do País.

“Empresas de energia com tarifa média abaixo da média nacional são mais competitivas para captar novos contratos intensivos em eletricidade, como instalações de data centers, dada a maior atratividade para grandes consumidores.”, afirma o TradeMap.

Na comparação internacional, o Brasil aparece em posição intermediária, porém competitiva, na corrida global por data centers. Com área territorial de 8,5 milhões de km², preço médio de energia de US$ 0,16/kWh e 195 data centers, o País combina escala física relevante com custo energético inferior ao de economias europeias tradicionais.

Países como Alemanha (US$ 0,44/kWh, 486 data centers), Reino Unido (US$ 0,41/kWh, 497 unidades) e Itália (US$ 0,43/kWh, 209 unidades) concentram grande número de instalações, mas enfrentam preços de energia significativamente mais elevados e limitações territoriais, o que tende a restringir a expansão futura.

Já países com energia mais barata, como China (US$ 0,08/kWh, 379 data centers), Índia (US$ 0,07/kWh, 270) e Rússia (US$ 0,07/kWh, 180), apresentam grandes áreas territoriais, mas enfrentam desafios regulatórios e geopolíticos.

Os Estados Unidos, maior polo global, reúnem 4.098 data centers e operam com preço médio de energia de US$ 0,19/kWh.