Descrito pela Ambipar como tendo “papel-chave” na situação “calamitosa” que levou ao pedido de tutela cautelar, o ex-CFO da companhia, João Daniel Pirran de Arruda, reuniu-se no início da semana com representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apresentar sua versão dos fatos.
O encontro ocorreu na segunda-feira, 6 de outubro, no momento em que o mercado analisa minuciosamente a empresa e sua gestão, tentando entender os motivos que levaram à medida considerada preparatória para uma recuperação judicial e o papel de cada envolvido.
Neste contexto, Arruda e seus advogados, dos escritórios Vieira Rezende Advogados e David Rechulski Advogados, procuraram a autarquia para blindar o executivo, afastando-o das decisões tomadas na semana em que foi divulgado o pedido de tutela antecipada e do “desastroso aditivo” com o Deutsche Bank.
Segundo uma das fontes ouvidas pelo NeoFeed, “a boataria, com distorções da realidade, motivou a busca pela CVM para esclarecer o contexto aos reguladores”.
Entre os temas tratados com as autoridades está a saída de Arruda da Ambipar. Ele apresentou o pedido de renúncia ao conselho de administração na sexta-feira, 19 de setembro, à noite, e o comunicado ao mercado foi feito apenas na segunda-feira, 22, no fechamento do pregão — e não na abertura, como seria esperado diante da relevância da notícia.
Na petição enviada ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) em 3 de outubro, a Ambipar atribui a Arruda responsabilidade pela situação e destaca que sua renúncia ocorreu “em um inacreditável timing que não parece ser despropositado”, antes da revelação do risco de rombo financeiro.
Fontes afirmam que a forma como a comunicação da saída de Arruda foi feita sugeriu correlação com o anúncio da emissão de R$ 3 bilhões em debêntures, operação sem instituição intermediadora — algo incomum — e com o pedido de tutela cautelar.
“A soma de situações anômalas levou os advogados de João a buscar a CVM para esclarecer sua posição”, disse uma fonte. “Diante do cenário que se desenhava, ele entendeu que precisava se manifestar junto ao órgão regulador.”
Outra crítica é que a comunicação da Ambipar não apresentou as razões da saída de Arruda, conforme acordado previamente. Pessoas próximas ao executivo relatam que ele demonstrava "desconforto" com a empresa desde que veio à tona a existência do polêmico FIDC, onde está concentrada boa parte do caixa da companhia, que somou R$ 4,7 bilhões no segundo trimestre.
“Essa era uma informação que ele desconhecia, e ele passou a ser questionado pelos bancos, que correlacionavam o FIDC ao Banco Master”, afirmou uma fonte, lembrando das dúvidas sobre os vínculos da Ambipar com o banco de Daniel Vorcaro, então em negociação de venda para o Banco de Brasília (BRB).
Segundo essa fonte, Tércio Borlenghi Júnior, CEO e controlador da Ambipar, apresentou um documento do Banco Master negando qualquer relação com o FIDC, o que tranquilizou Arruda.
No entanto, ao descobrir que estava sendo excluído de conversas com bancos por Borlenghi e diretores próximos, Arruda decidiu sair da empresa. “Ele percebeu que estava sendo bypassado dentro da companhia”, relatou a fonte.
Na reunião com a CVM, Arruda e seus advogados também abordaram o aditivo com o Deutsche Bank, destacando que ele não participou da negociação. Documentos obtidos pelo NeoFeed mostram que o aditivo foi assinado por Thiago da Costa Silva, diretor de integração e finanças, e Luciana Freire Barca Nascimento, diretora adjunta — ambos ligados a Borlenghi.
David Rechulski, coordenador da defesa técnica de João Arruda, confirmou o encontro com a CVM e afirmou que o objetivo foi “dar visibilidade à CVM sobre o momento em que os fatos ocorreram, sob a premissa de transparência”.
As ações da Ambipar fecharam o pregão desta quarta-feira, 8 de outubro, com queda de 4,23%, a R$ 0,68. No ano, os papéis recuam 94,3%, levando o valor de mercado a R$ 1,14 bilhão.
Procurada, a Ambipar informou que não iria comentar. João Arruda não retornou o pedido de posicionamento.