Uma prateleira cada vez mais recheada, dentro de um balcão que promete movimentar cifras bilionárias nos próximos anos. E que já está turbinando os investimentos da indústria farmacêutica no mercado brasileiro.

Essa é a base de um novo relatório do BTG Pactual, que avalia como os medicamentos genéricos vão ganhar mais espaço, turbinando os aportes dos players do setor. E quais efeitos colaterais esse avanço da categoria pode trazer.

O ponto de partida para essa contexto é a expiração, nos próximos cinco anos, de cerca de 1,5 mil patentes vinculadas a 1 mil medicamentos usados no tratamento de 186 doenças. Entre elas, câncer, diabetes e outros tratamentos que exigem antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios.

“Uma vez expiradas essas patentes, versões genéricas pelo menos 35% mais baratas do que os medicamentos de referência poderão ser produzidas, aumentando potencialmente a oferta total de genéricos em 20%”, escrevem os analistas Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima.

Segundo o trio, a categoria já tem um bom peso no Brasil. Os genéricos registraram uma venda total de R$ 20,4 bilhões em 2024, ocupando 15 posições entre os 20 medicamentos mais prescritos. E, na maioria dos casos, com margens de lucro muito maiores para as farmácias em relação aos de referência.

Diante desse quadro, o BTG ressalta que tanto empresas privadas como o governo federal estão mapeando quais substâncias terão suas patentes expiradas nesse intervalo. Direcionando, em paralelo, recursos para ampliar a produção em escala.

O BNDES, por exemplo, emprestou R$ 7,8 bilhões para empresas do setor entre 2023 e meados de 2025, um salto de 72% sobre os quatro anos anteriores. Já a FINEP adicionou R$ 11,8 bilhões em apoio à pesquisa e inovação no âmbito do programa Nova Indústria Brasil.

Nessa última iniciativa, os recursos estão sendo destinados ao desenvolvimento de insumos farmacêuticos ativos (IFAs), além do fortalecimento das cadeias de suprimento locais e da expansão de “fábricas pioneiras” no Brasil, reduzindo a dependência de medicamentos e ingredientes importados.

Do ponto de vista da indústria, o banco aponta que os players que operam no Brasil já estão acelerando os investimentos para que novos genéricos cheguem ao mercado assim que essas patentes expirarem.

Um dos exemplos citados é a Aché, que vai investir R$ 500 milhões até 2027 para expandir suas fábricas em São Paulo, Goiás e Pernambuco, com foco em oncologia e antibióticos, e o plano de lançar 54 produtos somente em 2025.

Outro nome reforçando essa corrente é a Cimed, que investiu R$ 200 milhões, nesse ano, para ganhar escala em medicamentos genéricos para diabetes, doenças cardiovasculares e neurológicas. Enquanto o laboratório Teuto tem 80 produtos na categoria aguardando aprovação regulatória.

Conforme apurou o NeoFeed, essa corrida também inclui movimentações como uma oferta de US$ 500 milhões que brasileira EMS, líder em genéricos no Brasil, estudar fazer para a compra da Medley, rival da mesma categoria, pertencente à francesa Sanofi.

Nesse ponto, o BTG destaca que a Medley investiu um volume anual de R$ 30 milhões nos últimos anos em P&D nas áreas de cardiologia, neurologia e gastroenterologia, além de R$ 120 milhões em capacidade de produção.

“O pipeline é substancial, com grandes players se preparando para um crescimento anual sustentado de 10% em genéricos, à medida que o Brasil consolida sua posição como um produtor líder”, destaca o BTG, em outro trecho.

Para o banco, um dos grandes destaques nessa nova fase serão os genéricos do Ozempic, remédio da dinamarquesa Novo Nordisk baseado no princípio ativo semaglutida, inicialmente voltado ao tratamento da diabetes. Mas que ganhou fama, de fato, no combate à obesidade.

A patente brasileira do Ozempic expira em março de 2026, mas a Novo Nordisk briga na justiça para estender esse prazo. A empresa alega que atrasos na concessão da patente encurtaram seu período de exclusividade, o que, para o BTG, pode estabelecer um precedente sobre como esses casos são tratados.

À parte dessa disputa no âmbito da justiça, o banco destacou em outro relatório recente que os genéricos baseados na semaglutida serão o verdadeiro divisor de águas no espaço dos medicamentos para a perda de peso.