A empresa de logística JSL, que pertence à holding Simpar, viu seu lucro cair 10,7% em 2024, impactada pelo câmbio e pela alta dos juros. Por outro lado, a receita acelerou.

No ano passado, a companhia registrou um lucro líquido ajustado de R$ 190,1 milhões, um resultado 10,7% menor do que 2023. No quarto trimestre, a queda foi ainda maior: 56,5% a menos na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Já a receita líquida atingiu R$ 9 bilhões, alta de 19,6% sobre o registrado em 2023. O Ebtida também cresceu. O resultado foi de R$ 1,7 bilhão, contra R$ 1,48 bilhão no ano anterior (aumento de 15,8%).

“Temos crescido muito e avançamos quatro vezes em Ebtida desde a época do IPO (em 2020). Mas é possível que haja uma queda em algumas das nossas operações”, diz Ramon Alcaraz, CEO da JSL, ao NeoFeed. “E a queda do lucro tem a ver com o aumento de juros no País.”

O impacto da inflação e a desvalorização cambial também contribuíram para essa desaceleração do lucro. “Uma parte importante dos componentes de caminhões é importada. E, no fim do ano, a alta do dólar impactou nossos custos”, afirma Guilherme Sampaio, CFO da JSL.

No período em que o dólar atingiu o auge da valorização, a empresa chegou a trocar pneus importados por nacionais. Hoje, essa equação já está mais equilibrada. O custo com o insumo representa cerca de 3% do faturamento da empresa.

Há ainda o impacto da projeção de perda de cerca de R$ 10 milhões, por causa do reconhecimento de uma Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) de duas empresas que entraram em Recuperação Judicial (RJ) para operação de transportes de grãos. Possivelmente a empresa deverá ser impactada no primeiro trimestre pela RJ da Bombril.

No ano passado, a JSL celebrou novos contratos que somaram R$ 5,4 bilhões, com prazo médio de 60 meses. E, desse total, R$ 2,2 bilhões foram no terceiro trimestre. Com isso, o processo de implementação ocorreu no trimestre seguinte, com recursos alocados para contratações, treinamentos e compras de veículos, o que explica parte da redução do lucro no ano passado.

Para 2025, a avenida de crescimento na companhia hoje já não está só no segmento de origem da JSL, que é a logística de cargas em geral, setor, aliás, que só representa 8% do total do faturamento. O caminho está na área de armazenagem e de intralogística (dentro das fábricas), em um área ainda mais especializada e que hoje já responde por 30% da receita.

“Somente a receita nesse mercado, que não envolve caminhões, provavelmente já nos coloca como a maior empresa desse segmento, inclusive maior do que a DHL. Isso mostra o quanto esse serviço já é relevante para nós”, afirma Alcaraz.

Em franca expansão, esses serviços especializados ainda têm a tendência de oferecer margens maiores, já que há menos concorrentes nessas operações. Para esse ano, a tendência é de seguir crescendo nesse segmento. Alcaraz, no entanto, não projeta um índice.

Contratos mais fidelizados

O ponto-chave está na essencialidade do serviço, o que reduz a chance de uma interrupção da operação. “No transporte porta a porta, se houver um problema, é possível resolver sem afetar a produção. Se há um problema na intralogística, a fábrica para. Com um serviço mais especializado, a tendência é ter negócios mais fidelizados”, explica o CEO.

E, nessa trilha de redução de custos, a JSL também tem crescido nos negócios de asset light (operações leves em ativos, com menos necessidades de equipamentos próprios), que hoje representam 54% das operações da companhia. “Quanto mais contratos desse tipo a gente implanta, mais teremos benefícios nos custos operacionais”, diz Alcaraz.

Ainda que o impacto da economia siga afetando os resultados da empresa, a perspectiva é de um 2025 de mais crescimento. “Eu não dependo de um segmento específico, já que atuo em 16 setores, em que muitos são estratégicos, como o químico. Por isso a tendência é de sermos mais resilientes com a economia de uma forma geral.”

Nesse sentido, ainda que a empresa não divulgue guidance, a expectativa é de que o crescimento para este ano esteja em linha com o que foi observado na receita em 2024, o que significaria uma alta de pelo menos 20%. “Se o primeiro trimestre for o cheiro do ano, a rota de crescimento é nessa linha, muito baseado na nossa estratégia de avançar nesse trabalho especializado.”

Do faturamento da JSL, 25% vêm de alimentos e bebidas, 16% de papel e celulose, 14% automotivo, 12% de bens de consumo e 6% do químico. Dos novos negócios celebrados em 2024, a maior parte é da área química.

Nos últimos 12 meses, as ações da JSL tiveram queda de 53,31%. A companhia está avaliada em R$ 1,6 bilhão.