A Simpar, holding que controla as marcas JSL, Movida, Vamos, Automob, CS Infra, CS Brasil e BBC, conseguiu a aprovação do conselho de administração para mexer na estrutura da Vamos e separar os negócios de locação e de concessionárias. E, com isso, criar duas empresas independentes com receitas bilionárias.

De acordo com fato relevante divulgado no domingo, 29 de setembro, a Vamos passará a se concentrar apenas na locação de caminhões, máquinas e equipamentos e continuará com Gustavo Couto como diretor presidente.

A combinação entre a parte de concessionárias da Vamos e a Automob cria a NewCo, uma estrutura que agrupa toda a parte de relacionamento com o varejo do grupo Simpar. O executivo Antonio Barreto, atual diretor presidente da Automob, será o diretor presidente da NewCo.

A Simpar e o conselho de administração da Vamos criaram comitês independentes para analisar as condições da operação. A Simpar contratou o Morgan Stanley e o board da Vamos teve assessoria do BTG Pactual.

A NewCo nasce com uma receita bruta de R$ 12,7 bilhões no acumulado de 12 meses (até o fim do segundo trimestre deste ano), um Ebtida de R$ 418 milhões e uma rede de 192 lojas, que é a soma das 120 da Automob com as 72 da Vamos.

Com a consolidação das operações, o negócio de locação passa a ter presença em 12 estados e um portfólio diversificado com 34 marcas de veículos leves, motos, caminhões, máquinas e equipamentos.

A dívida líquida da NewCo será de R$ 1,65 bilhão, sendo que R$ 1 bilhão são referentes à compra das ações da Automob detidas pela Simpar.

A NewCo será uma empresa de capital aberto listada na B3 e a primeira do seu segmento na bolsa brasileira. Com o desmembramento da Vamos, os atuais acionistas da VAMO3 vão receber a mesma quantidade de ações, ou seja, a proporção será de um para um.

A Simpar ficará com 64,12% de participação na NewCo, ao passo que os acionistas minoritários da Vamos Locação e da Automob deterão 21,39% e 14,49%, respectivamente.

De acordo com a Simpar, a separação dos negócios é uma maneira de simplificar as estruturas e dar mais clareza às teses de investimentos de cada um dos segmentos. E concessionária é um business de escala.

A NewCo, por exemplo, almeja ser no Brasil o que o Lithia Group foi nos Estados Unidos: o consolidador do mercado de revenda de veículos. Listada na Nyse, o Lithia tem uma receita anual de US$ 31 bilhões e um valor de mercado de US$ 8,5 bilhões.

De 2021 até o primeiro semestre deste ano, a Automob havia realizado sete M&As. De acordo com a Fenabrave, existem mais de 7,6 mil concessionárias espalhadas pelo País. A estimativa é que cerca de 1,2 mil pertencem a empresas ou famílias que detém de um a quatro pontos.

O tamanho financeiro da NewCo vai permitir acelerar o crescimento inorgânico e consolidar o fragmentado mercado brasileiros de concessionárias.

Mas a NewCo está de olho nos ganhos além do M&A. As aquisições feitas pela Automob mostram um ganho expressivo no same store sales. Antes da fusão, essas concessionárias vendiam 0,3 carros novos para cada um usado. Esse volume se aproximou de um para um em 12 meses.

E, no caso dos M&As realizados pela Automob, as empresas registraram um crescimento médio de 30% ao ano, conforme o balanço da companhia. É um resultado tanto pela melhoria da produtividade das lojas como pelo ganho com as sinergias e a redução dos custos fixos.

O novo caminho da Vamos

Com a cisão da operação de concessionárias, a Vamos deixará de ter as amarras de representar marcas específicas em alguns segmentos e ganhará liberdade para expandir sua oferta de produtos e serviços.

Os controladores veem a separação como fundamental para a compreensão das teses de investimento da Vamos. Neste ano, a ação VAMO3 acumula 30% de queda, mesmo com a receita crescendo 28,2% em 12 meses e o lucro por ação subindo 22,9% no mesmo período. O valor de mercado da companhia é de R$ 7,2 bilhões.

No fim de junho deste ano, BB Investimentos e Itaú BBA viam potencial de alta nas ações da Vamos em razão da escala e da capacidade de consolidação da empresa.

“Em nossa avaliação, a Vamos tem espaço para crescer à medida que o setor de aluguel de veículos pesados se desenvolve e ganha penetração”, dizia o trecho do relatório assinado pelo analista Luan Calimério, do BB.

Os analistas do Itaú BBA, Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, destacaram que “que os resultados do segundo trimestre poderão marcar um importante ponto de virada para a tese, potencialmente desencadeando revisões para cima dos lucros, atraindo a atenção dos investidores de volta à história da companhia”.

Com a saída do negócio de concessionárias, a Vamos reduz sua receita bruta de R$ 7,75 bilhões para R$ 4,65 bilhões no acumulado de 12 meses, até o fim do segundo trimestre deste ano. Mas o Ebitda da companhia permanece inalterado em R$ 2,9 bilhões, segundo a companhia.

Nessa divisão com a NewCo, a Vamos manteve a venda de ativos desmobilizados da locação dentro de sua estrutura.