A plataforma de investimentos americana Robinhood simboliza o dilema que muitas empresas têm vivido. Pressionada para ser lucrativa, uma das soluções é tirar o pé do acelerador e crescer mais devagar.

Quando o lucro chega, o mercado cobra crescimento. Resultado? As ações caem. É exatamente esse cenário que a Robinhood está vivendo ao divulgar o seu primeiro lucro trimestral da história.

Nesta quarta-feira, 2 de agosto, o CEO da Robinhood, Vlad Tenev, chamou o lucro de US$ 25 milhões no segundo trimestre de 2023 de uma “marca significativa”.

Mas as ações da companhia caíram 3,34% durante o pregão na Nasdaq. Após o fechamento do mercado, eles mergulharam em nova queda: mais de 5% no afterhours.

O que explica a empresa atingir o lucro (algo que o mercado cobrava) e suas ações caírem? Outra dado que veio no balanço ajuda a entender o mau humor dos investidores com a Robinhood.

O número de investidores ativos que negociavam na plataforma mensalmente foi de 10,8 milhões de usuários, uma queda de 1 milhão em comparação ao primeiro trimestre de 2023 e de 3,2 milhões em relação ao mesmo período do ano passado. Como consequência, a receita por transação caiu 5%.

Historicamente, a maior parte do dinheiro do Robinhood vinha de transações de clientes, recebendo uma parte do spread que os intermediários do mercado ganhavam quando executavam negócios.

Mas com a desaceleração das transações, a empresa obteve uma parcela crescente de sua receita com juros sobre dos epósitos de clientes. Sua receita líquida de juros, por exemplo, aumentou 13%, para US$ 234 milhões no segundo trimestre. No período, a receita total da Robinhood atingiu US$ 486 milhões, alta de 10%.

Em 2023, as ações da Robinhood sobem 54%. Seu valor de mercado é de US$ 11,2 bilhões. Mas, desde o IPO, em 2021, caem mais de 60%, depois que o frenesi durante a pandemia reduziu o ritmo de investimentos em ações.

A Robinhood não é a única empresa que conseguiu o lucro, depois de ser pressionada pelos investidores. A Uber, por exemplo, atingiu seu primeiro lucro operacional da história e seus papéis caíram mais de 5% no pregão da Nasdaq.

O motivo? A Uber alertou os investidores que a competição de preços com a rival Lyft está mais intensa e avisou que a projeção de lucros, para os trimestres anteriores, por conta disso, seria menor.

Além desse comentário, o menor ritmo de crescimento da receita acabou ofuscando também o primeiro lucro trimestre da história da Uber.