Morador de Londres, Rogério Xavier se acostumou, nos últimos tempos, a presenciar passeatas com pessoas fantasiadas de líderes controversos da política global, como Donald Trump, Vladimir Putin, Viktor Orbán e Recep Tayyp Erdoğan. Volta e meia, uma quinta figura reforçava o quarteto: Jair Bolsonaro.
Em paralelo, o sócio da SPX Capital, gestora com R$ 84,9 bilhões em ativos sob gestão, assistiu o Brasil caminhar gradativamente para fazer parte de um outro grupo, a partir do olhar dos investidores estrangeiros.
“O espaço que era dedicado ao Brasil é exatamente igual ao espaço que eles davam ao Egito, à Ucrânia, antes de começar a guerra, e a países de menor importância”, disse Xavier, em sua participação no Fórum de Investimentos promovido pela Bradesco Asset Management, nesta sexta-feira, 4 de novembro. “Eu acho que, agora, a visão deles é mais amigável em relação à perspectiva de investimentos no Brasil”, afirmou.
Para embasar esse comentário, ele citou o fato de que, logo após o resultado das eleições que apontaram Luiz Inácio Lula da Silva como novo presidente, a Alemanha e a Noruega anunciaram a intenção de liberar os recursos do Fundo Amazônia que haviam sido bloqueados no governo Bolsonaro.
“O Brasil vai ser beneficiado por essa distensão política na diplomacia internacional e, internamente, também vejo uma distensão institucional, da Câmara, do Executivo e do Judiciário”, observou. “Vamos ter um ambiente mais favorável, que beneficia o investimento.”
Em sua participação, Xavier disse estar “relativamente otimista” quando o tema colocado em pauta foram os desafios fiscais e as políticas a serem adotadas pelo novo governo para lidar com essa questão. Para ele, a aliança ampla formada por Lula para sair vencedor terá um papel essencial nesse cenário.
“Ele sabe que foi eleito com a ajuda de uma grande força política, principalmente de centro. Se dependesse só da esquerda, perderia”, afirmou. “E acho que vai trocar esse waver de mais gastos para cumprir promessas de campanha por uma equipe econômica boa, para ganhar o mercado e construir uma ponte para o resto do seu mandato.”
Nesse ponto, Xavier também destacou como positiva a sinalização de Lula de que não irá disputar a reeleição. E disse acreditar que a equipe econômica será conduzida por um nome do mercado, e não da esfera política, o que dará a Lula, ao menos no começo, o benefício da dúvida.
Ao mesmo tempo, o sócio da SPX entende que as lideranças que se reuniram no entorno da candidatura de Lula podem abrir caminho para superar eventuais desafios no relacionamento com o Congresso.
“São cerca de 170 deputados na base de apoio e cerca de 150 da oposição. Sobram 200”, observou. “Não acho que seja tão difícil assim ter governabilidade uma vez que ele está com uma frente ampla, com um governo que deve caminhar mais para o centro do que para esquerda e sem um projeto de reeleição.”