A crise no mercado de criptoativos está fazendo com que algumas gestoras brasileiras repensem suas estratégias. No episódio mais recente, a KPTL informou na segunda-feira, 10 de abril, que encerrou sua vertical de investimentos nesse tipo de ativo.
A gestora fechou sua operação que era composta pelos fundos Bohr Arbitrage Crypto Fund e Appia Long/Short Fund, além do Lupa Web3, voltado para NFTs, DeFi, games e metaverso.
Na última newsletter de ativos digitais da KPTL, referente a fevereiro deste ano, é possível ver que os dois primeiros anos do Bohr registraram retornos excelentes para os cotistas. Em 2020, 18,6% e em 2021, 60,8%.
Mas em 2022 houve uma inversão com queda de 6,1% e nos dois primeiros meses deste ano um recuo de 4,9%. No acumulado do período de 34 meses, o ganho foi de 70,3%.
"Uma vez que os ativos sob gestão no Appia Long/Short Fund passaram a ser inferiores a
US$ 3 milhões, decidimos fechar o fundo", diz um trecho da newsletter, que informa que os ativos totais sob gestão no Bohr eram de US$ 4,8 milhões em 1º de março.
Em nota, a gestora informou que "as posições adquiridas serão devolvidas em sua integridade aos investidores e desde já a gestora assegura 100% de liquidez” nos veículos.
A decisão da KPTL se deu após o fechamento da operação de bancos parceiros nos Estados Unidos, onde os fundos estavam estruturados. Nos últimos meses, Silvergate e Signature, que operavam em conjunto com KPTL, tiveram suas operações encerradas.
“O problema é que a gente não tem mais parceiro bancário para operar o fundo”, diz Renato Ramalho, CEO da KPTL, em entrevista ao NeoFeed. “Eu preciso seguir o regulamento do fundo, cuja tese envolve fazer operações de derivativos. A gente precisava dos bancos.”
No Silvergate, houve um abandono de corretoras parceiras após um suposto envolvimento do banco com a FTX e a empresa-mãe da operação decidiu encerrar a operação do banco de criptomoedas. Já o Signature sofreu uma enxurrada de resgates de depósitos após o colapso do Silicon Valley Bank e teve seu negócio bloqueado por órgãos regulatórios.
“Os ativos digitais ainda são pouco compreendidos e isso gera um certo desconforto para os órgãos reguladores”, diz Ramalho. “Quando há um sistema financeiro fragilizado e problemas como o caso da FTX, os reguladores têm motivos para subirem a régua."
Ainda que vindo de crises recentes, o mercado de criptomoedas mostrou fôlego para se recuperar em 2023. Desde o começo do ano, o valor do bitcoin, por exemplo, já subiu mais de 75%, fazendo com que o ativo voltasse a se aproximar dos US$ 30 mil. Em novembro de 2021, cada moeda digital chegou a custar mais de US$ 64 mil.
Ainda assim, a KPTL não é a única gestora brasileira a recuar em seu investimento em criptoativos. Em janeiro, a Giant Steps, outra empresa de capital de risco e que também tinha um fundo voltado para o mercado de cripto, decidiu encerrar seu veículo de investimento devido às implicações geradas pela FTX no mercado.
Na KPTL, Ramalho não descarta que novos fundos sejam criados no exterior quando houver uma evolução no mercado em relação à regulamentação dos ativos. Para o Brasil, no entanto, não há previsão de operar nesta frente pelas condições macroeconômicas que podem afastar o interesse num produto deste tipo.
Enquanto se distancia dos criptoativos, a KPTL volta suas atenções para o mercado de CVC. Em fevereiro, a gestora firmou um acordo com o Banco BRB para fazer a gestão de um fundo de R$ 50 milhões do banco que será utilizado para fazer entre 8 e 12 investimentos em startups.
Em sua operação como um todo, a KPTL encerrou o ano passado tendo investido 50% a mais do que em 2021. Em entrevista ao NeoFeed em dezembro, Ramalho afirmou que aquele "não foi um ano excelente", mas que "estava longe de ser um ano ruim como foi a catástrofe de 2008" para a gestora que tem mais de US$ 1 bilhão em ativos.