Cercada por controvérsias, a chinesa Shein ganhou o mundo embalada por uma estratégia de venda a preços mais baixos que seus rivais. Agora, a plataforma de varejo de moda está novamente cortando alguns dígitos. Nessa conta, porém, a equação não é nada favorável para a empresa.
Com o plano de abrir capital na bolsa de valores de Londres neste primeiro semestre, a companhia deve reduzir a avaliação que busca com o IPO para US$ 50 bilhões. As informações são da agência Reuters, a partir de fontes familiarizadas com o processo da varejista para chegar a esse balcão.
Para se ter uma medida dessa redução de ambição da empresa, em maio de 2023, quando fez sua última captação, com a participação de fundos como General Atlantic e Mubadala, a Shein foi avaliada em US$ 66 bilhões. Na rodada anterior a esse aporte, por sua vez, em abril de 2022, a varejista havia alcançado um valuation de US$ 100 bilhões.
Um dos elementos por trás dessa nova conta veio à tona nos últimos dias, quando o governo de Donald Trump anunciou que encerraria a isenção de impostos “de minimis”. Tal regra estabelece que os itens importados nos Estados Unidos só estão sujeitos a taxação caso ultrapassem US$ 800.
Com valores distintos, em diferentes países, incluindo o Brasil, o “de minimis” é um entre tantos outros fatores que ajudam a explicar como a Shein consegue manter preços baixos e ganhar escala nos países em que desembarca com sua plataforma.
A partir dessa nova perspectiva nos Estados Unidos, a companhia enxerga possíveis impactos em sua lucratividade, dado que precisará aumentar os preços dos produtos que comercializa no país, seu maior mercado.
Em um indicativo do estrago que essa medida pode trazer para a Shein, um relatório de 2023 do congresso americano mostrou que a varejista e sua rival – e também chinesa – Temu responderam por mais de 30% dos pacotes diários enviados ao país no período e que se encaixavam nessa regra.
A provável reavaliação da Shein marca mais um capítulo de um longo processo. A Shein protocolou confidencialmente seu pedido de abertura de capital em Londres no início de junho de 2024, junto à Financial Conduct Authority (FCA), o órgão regulador do mercado financeiro do Reino Unido.
Até o momento, porém, a FCA não aprovou a abertura de capital. A bolsa de Londres, por sua vez, não foi a primeira opção da varejista. A Shein decidiu listar suas ações no Reino Unido após enfrentar a resistência de órgãos reguladores nos Estados Unidos.
Além das tensões entre EUA e China, esse cenário teve como pano de fundo as preocupações com as diversas denúncias de práticas trabalhistas irregulares por parte da plataforma, um pacote que inclui alegações de condições de trabalho forçado. Além de uma onda de processos movida por concorrentes.
Esse contexto também tem sido alvo de questionamentos por parte de investidores institucionais do Reino Unido, que temem pelos possíveis danos colaterais causados por uma listagem da Shein para a marca da London Stock Exchange.