Comandado pelo papa Leão XIV, o Vaticano, menor Estado soberano do mundo, volta a registrar superávit orçamentário após décadas de dificuldades financeiras.

Relatório divulgado pela Santa Sé nesta quarta-feira, 26 de novembro, mostra resultado positivo de € 1,6 milhão em 2024, revertendo déficit de € 51,2 milhões registrado em 2023. Em 2020, por exemplo, o déficit foi de € 66,3 milhões.

Autoridades do Vaticano saudaram a melhoria como um potencial ponto de virada na busca pelo fortalecimento do frágil volume de finanças do Estado. Mas reconheceram que a mudança foi possibilitada a partir da reestruturação do portfólio de investimentos para atender às diretrizes estabelecidas por um comitê de investimentos criado pelo Papa Francisco, que morreu em abril deste ano.

O déficit estrutural — que exclui efeitos pontuais — alcançou € 44,4 milhões em 2024, uma redução de 46,8% em relação aos € 83,5 milhões do ano anterior. Segundo as contas, a receita financeira da Igreja Católica em 2024 subiu para € 75 milhões, contra € 45,8 milhões em 2023.

“Parte desses resultados deriva de operações extraordinárias relacionadas à realocação da carteira de acordo com a nova política de investimentos”, diz Maximino Caballero Ledo, executivo espanhol que atualmente ocupa o cargo de prefeito da Secretaria para a Economia do Vaticano, segundo o Financial Times.

“Os ganhos de capital gerados nesta fase não podem ser replicados com a mesma intensidade nos anos subsequentes”, afirma Ledo, à agência estatal Vatican News.

Ele pediu um “controle prudente das despesas e um esforço constante para melhorar a eficiência operacional”, bem como iniciativas para angariar mais doações a fim de colocar a Santa Sé em uma base financeira sustentável.

Ainda assim, os resultados devem animar Leão XIV, que enfrenta a tarefa de sanear as finanças precárias do Vaticano, incluindo um enorme passivo no fundo de pensões, além de restaurar a confiança na gestão notoriamente deficiente das doações de caridade.

Incapaz de contrair dívidas, o Vaticano depende das receitas de seu vasto patrimônio imobiliário, da venda de ingressos para os museus do Vaticano e de doações dos fiéis para se financiar e distribuir dinheiro para dioceses católicas em todo o mundo.

Mas a Santa Sé foi duramente atingida pela pandemia de Covid-19, que afetou diretamente o turismo. As doações também diminuíram 23% entre 2015 e 2019, uma tendência que continuou nos anos seguintes após escândalos de grande repercussão, como o caso do cardeal Giovanni Angelo Becciu, que foi processado e condenado a cinco anos e meio de prisão, pelo Tribunal do Vaticano, em 2023, por irregularidades financeiras.

Embora Francisco tenha prometido erradicar a corrupção financeira, o processo de reforma foi turbulento. Nos últimos anos, o argentino tinha embarcado em uma forte campanha de cortes de custos, que resultou em três reduções salariais para os cardeais, entre 2021 e 2024.

O Vaticano perdeu cerca de 100 milhões de libras esterlinas em um negócio imobiliário fracassado em Londres em 2021, após investir mais de € 350 milhões de fundos filantrópicos no negócio, entre 2014 e 2018.

De qualquer forma, as doações para a Igreja registraram um pequeno aumento em 2024, crescendo cerca de € 20 milhões. “Após anos de desaceleração, o fato de as contribuições terem crescido dá esperança de uma participação renovada dos fiéis na missão da Santa Sé”, afirmado Ledo.

Poucas semanas após o conclave que o elegeu para comandar o Vaticano, em maio, o americano Robert Francis Prevost, que viria a se tornar o Papa Leão XIV, lançou uma campanha de arrecadação de fundos ao estilo americano, com vídeos promocionais sofisticados, códigos QR e pagamentos online, para incentivar os fiéis católicos de todo o mundo a apoiarem sua missão.

Ele também começou a reformar um comitê de arrecadação de fundos que Francisco havia estabelecido em fevereiro, enquanto estava doente, e que não incluía nem profissionais de arrecadação de fundos nem americanos, tradicionalmente os maiores doadores da igreja.

Em outubro, o pontífice também revogou um decreto da era Francisco que exigia que todos os bens e investimentos da Santa Sé fossem administrados pelo chamado Banco do Vaticano, do qual alguns clérigos se queixavam por ter poder excessivamente concentrado.