Em busca de elevar os ativos sob gestão dos atuais R$ 12 bilhões para R$ 20 bilhões até o fim de 2025, a gestora de patrimônio TAG Investimentos avança em sua tese de estruturação de investimentos alternativos.

Depois de obter bons resultados originando negócios em imóveis e precatórios, a casa fundada por Thiago de Castro e Marcelo Pereira está se aprofundando no tema das legal claims, buscando oportunidades em ações judiciais públicas e pedidos de indenização contra empresas privadas.

Para isso, a TAG levantou cerca de R$ 200 milhões em recursos para originar por conta própria operações nas chamadas teses privadas. “O Judiciário, por ser moroso no Brasil, dá muitas chances de arbitragem para teses privadas”, diz Castro, CEO da TAG Investimentos, ao NeoFeed. “Para nós, as teses privadas são os novos precatórios.”

Por meio de escritórios de advocacia, a gestora começou a comprar, no ano passado, ações públicas de consumidores e pessoas lesadas, que não querem ou não podem aguardar todo o processo burocrático envolvendo uma ação na Justiça.

Essa aquisição é feita com um desconto no valor de face e a TAG ganha sobre a diferença. Em alguns casos, a gestora compra os honorários que as bancas de advogados têm direito em cima do processo.

A preferência da TAG é apenas por teses transitadas em julgado, na fase de execução na última instância, uma forma de se precaver de riscos processuais e ficar apenas aguardando os pagamentos. Castro destaca ainda que a gestora só entra em casos cujos devedores são solventes.

Um exemplo do que interessa à TAG são os expurgos inflacionários - uma tese que a gestora está atuando. São ações relativas à não aplicação ou ao uso errôneo de índices de correção monetária sobre os valores aplicados pelos correntistas na poupança durante os planos econômicos implementados no Brasil entre o meio dos anos 1980 e o começo dos 1990.

Outra é referente a problemas com seguro habitacional de imóveis construídos em programas de moradia popular tocados entre o fim dos anos 1990 e início dos 2000. Muitas construtoras não tinham controle sobre a qualidade das obras, resultando em problemas que vão desde fissuras até estruturais. As famílias tiveram de entrar na Justiça para cobrir os danos nos imóveis. Somente esta tese, segundo Castro, totaliza R$ 25 bilhões.

A expectativa da TAG é obter o mesmo sucesso que teve quando começou a atuar com precatórios, a partir de 2018, que vem resultando em bons rendimentos aos clientes da casa de wealth management.

Na tese de precatórios, a gestora se concentrou em procurar ações contra o INSS, quando também percebeu uma oportunidade de arbitragem nesses títulos. Em vez de ir em busca de grandes precatórios, muito mais difíceis de serem pagos, a TAG focou sua atenção para a compra de precatórios de valores mais baixos, na casa dos R$ 200 mil, justamente porque se tratam de títulos que a União prioriza o pagamento.

“Quando olhamos esse mercado, vimos que existe, de um lado, alguém esperando há muito tempo esse recurso, com endividamento, eventualmente problema de saúde, e, do outro, tem o governo postergando”, diz Castro.

Para conseguir operacionalizar as aquisições, considerando a pulverização dos precatórios pelo País, a gestora adquiriu em abril deste ano uma participação minoritária na Precato, fintech especializada na negociação de precatórios federais pulverizados no Brasil, com quem já vinha trabalhando em parceria logo no começo das operações.

Atualmente, a TAG conta com três fundos de recebíveis (FIDC) dedicados e cerca de R$ 450 milhões investidos. Segundo Castro, a cota sênior vem rendendo em torno de CDI mais 6%, enquanto a cota subordinada apresenta uma rentabilidade em torno de 40% ao ano.

Boas ideias de investimento

O movimento da TAG de realizar a originação de suas próprias operações em investimentos alternativos, diferentemente do que a maioria das gestoras de patrimônio e family offices fazem, vem da falta de experiência de Castro e Pereira em wealth management.

Até 2004, ano em que a TAG surgiu, a carreira de Castro foi trilhada no corporate banking, ajudando a estruturar projetos para empresas clientes de bancos como ABN Amro, Citi e Santander. Pereira atuou em tesourarias dos bancos Bamerindus e HSBC, trabalhando nas áreas de operações, tesouraria e risco.

Apesar da falta de experiência deles com gestão de patrimônio, Castro e Pereira entenderam que a gestora poderia se diferenciar das demais se começasse a criar oportunidades de investimento para os clientes que fossem distintas às dos concorrentes.

“O mundo corporate sempre busca boas ideias para o desenvolvimento de negócios em empresas e o que estamos fazendo é transformar boas ideias para o desenvolvimento de negócios para as pessoas, para não ficar dependendo do que a Faria Lima vende”, afirma Castro. “O que a gente quer encontrar é água limpa lá na nascente.”

Contando com uma base de pessoas físicas com patrimônio acima de R$ 10 milhões, além de clientes institucionais, boa parte deles fundos de pensão de empresas como Syngenta e Novartis, a primeira experiência da TAG com investimentos alternativos foi no setor imobiliário.

Desde 2007, a TAG tem uma área imobiliária, mas a grande tacada veio em 2017, quando identificou uma oportunidade de investir numa tese da “segunda casa” voltada ao segmento de alta renda, ao perceber uma preocupação das pessoas por qualidade de vida.

Por meio de um club deal, cujo valor não foi revelado, a TAG investiu na Fazenda Boa Vista, da JHSF, chegando a comprar terrenos a R$ 300 o metro quadrado. A aposta se mostrou bastante assertiva, ainda mais com a chegada da pandemia, que deu um impulso adicional à tese da segunda casa.

Castro diz que, atualmente, os terrenos passaram a valer R$ 3 mil o metro quadrado e os investidores tiveram um retorno de, pelo menos, quatro vezes o que aportaram. Resultados como esse fazem com que a TAG siga investindo no setor imobiliário.

Da mesma forma que identificou oportunidades na Fazenda Boa Vista, num momento em que ela ainda estava se desenvolvendo, a gestora começou a desenvolver empreendimentos em Trancoso, na Bahia, perto do Hotel Fasano.

O avanço da TAG em investimentos alternativos está em linha com o tema que ganhou muita força no Brasil e no mundo nos últimos anos, em meio aos juros em patamares extremamente baixos e com o avanço do financial deepening no País.

“Mesmo com os juros em patamares maiores, o brasileiro tem buscado retorno maiores, com boa parte dos alocadores, sejam gestores ou agentes autônomos, já tendo aprendido que existem classe de ativos fora da bolsa e da renda fixa”, diz Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, plataforma de ativos alternativos.

Grandes gestoras também têm avançado em ativos ilíquidos. Uma delas é a AZ Quest, empresa do grupo Azimut em sociedade com a XP, que caminha para atingir mais R$ 2 bilhões em investimentos alternativos e prepara o lançamento de um fundo imobiliário, conforme revelou ao NeoFeed.