Cada vez mais distantes de uma relação afetuosa, o governo chinês e a gigante de tecnologia Alibaba protagonizaram um novo momento de tensão na sexta-feira, 7 de julho. A relação pouco amistosa entre eles aumentou com a multa de US$ 985 milhões aplicada por órgãos reguladores no Ant Group, uma das subsidiárias do Alibaba. O resultado, porém, parece que foi o oposto do esperado pelas autoridades.
As acusações do governo chinês de que o Ant Group violou uma série de leis que tratam sobre governança corporativa, proteção do consumidor e adoção de medidas para impedir a lavagem de dinheiro não assustaram os investidores do Alibaba, que detém 33% de participação na fintech. Na sexta-feira, as ações fecharam com alta de 9% e na segunda-feira, 10, encerraram o dia em estabilidade. Isso fez com que o Alibaba, que atualmente vale cerca de US$ 231 bilhões, aumentasse seu valor de mercado em mais de US$ 17,5 bilhões.
A reação do mercado foi motivada pelo anúncio de um programa de recompra de ações da Ant Group no valor de US$ 6 bilhões como uma alternativa de saída para os investidores da empresa. A ideia é recomprar até 7,6% das ações. A estratégia foi anunciada após a divulgação da multa imposta pelo governo chinês.
A multa, aliás, chegou a surpreender. Em janeiro deste ano, a companhia recebeu aprovação de órgãos reguladores para expandir seu negócio em uma nova frente de financiamentos. O sinal verde na época trazia uma mensagem de que a companhia não estava no radar das autoridades.
Outro ponto é que o governo chinês pode indiretamente causar danos financeiros para si ao multar o Ant Group. Isso porque, em setembro do ano passado, o fundo de investimento da estatal Zhejiang Media Group assumiu uma participação de 1% na Youku Film And Television, que também pertence à gigante chinesa. O braço da Administração do Ciberespaço da China também tem ações em empresas do Alibaba.
Em comunicado, o Ant Group informou que “cumprirá os termos da penalidade com toda a seriedade e sinceridade e continuará a aprimorar ainda mais a governança de conformidade”. Já o People Bank of China, que emitiu a multa, informou que a maioria dos problemas já foi corrigido e que agora vai reavaliar uma “supervisão normalizada” da operação.
Conglomerado de Ma é o alvo
As big techs chinesas entraram na mira das autoridades do país após um caso envolvendo justamente o Ant Group. Em 2020, a companhia foi obrigada a cancelar sua listagem de ações de US$ 37 bilhões após pedido feito pelas autoridades chinesas. Na época, os órgãos chineses afirmaram que a companhia não atendia os requisitos necessários para o IPO. Do outro lado, a justificativa era de retaliação a declarações feitas semanas antes por Jack Ma, fundador do Alibaba e do Ant.
Em outubro daquele ano, o empresário afirmou que o sistema regulatório estava sufocando a inovação e deveria ser atualizado para estimular o crescimento da economia. Ma ainda afirmou que os bancos chineses operam com mentalidade de “casas de penhores”. As críticas colocaram o executivo (e suas empresas) no alvo.
Seis meses depois, em abril de 2021, já com as novas regras antitruste que tornaram o mercado chinês menos atrativo para os investidores estrangeiros, o Alibaba foi multado em US$ 2,8 bilhões por descumprimento das normas antimonopólio no país.
Essa relação pode ficar mais desgastada. Mais recentemente, em abril deste ano, uma reportagem da agência Bloomberg informou que o Alibaba tinha planos para realizar um IPO nos EUA. A ideia é abrir o capital da divisão de e-commerce internacional da companhia, avaliada em até US$ 39 bilhões.