Larry Fink está assustado. Aos 70 anos, o CEO global da BlackRock, uma das maiores gestoras do mundo, com cerca de US$ 8,6 trilhões de ativos sob administração, vem sendo atacado por causa de sua defesa da agenda ESG.
“Tenho levado isso muito a sério e estamos tentando resolver os equívocos”, disse o executivo, em entrevista à Bloomberg TV, em Davos, na Suíça, onde ele participa do Fórum Econômico Mundial. “Mas é difícil. A questão extrapolou o âmbito dos negócios e foi para o campo pessoal.”
Para Fink, o debate em torno do assunto está polarizado. E a BlackRock se transformou um dos principais alvos dois dois extremos dessa discussão.
Uns alegam que as políticas ambientais, sociais e de governança corporativa da gestora prejudicam a indústria de combustíveis fósseis. Outros, por sua vez, defendem que a companhia não tem sido firme o suficiente para enfrentar a emergência climática.
Há dois anos, no tradicional comunicado anual enviado aos CEOs de suas empresas investidas, Fink anunciou que a sustentabilidade, a partir daquele momento, estaria no centro das decisões de investimentos da BlackRock.
Desde então, ele vem batendo insistentemente na tecla do capitalismo de stakeholders como única saída para que os negócios avancem e gerem retorno para os acionistas e a sociedade – e, consequentemente, ao planeta.
Por esse modelo econômico, as companhias não devem se pautar única exclusivamente pelo lucro a qualquer preço. E, sim, pelo alinhamento às necessidades socioambientais de todas as partes interessadas e da sociedade, em geral.
“Não é uma agenda social ou ideológica. Não se trata de ‘justiça social’. É capitalismo, conduzido por relacionamentos igualmente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades dos quais sua empresa depende para prosperar”, escreveu Fink, na carta de 2022, quando retomou o tema. “Esse é o poder do capitalismo.”
Ao que tudo indica, o executivo não está convencendo ninguém. Em um dos lances mais reveladores do fogo cruzado em torno da BlackRock aconteceu em dezembro de 2022. Na ocasião, o governador da Califórnia, o republicano Ron DeSantis, anunciou o resgate de US$ 2 bilhões da gestora.
Os investimentos ESG, segundo ele, “sacrificam retornos em favorecimento de poucos e selecionados, elites corporativas não eleitas e suas agendas radicais”. Na avaliação de analistas políticos, a demonização das gestoras de ativos que defendem o ESG é estratégia do Partido Republicano, de olho nas eleições de 2024. Há quem aposte que essa tática não vingará.
Mas, isso não alivia em nada para Fink. Representantes dos setores alinhados às políticas socioambientais têm sido duros na críticas à gestora. Em novembro passado, o fundo ativista Bluebell Capital Partners, de Londres, pediu a saída do executivo do comando da companhia.
A justificativa? Em carta enviada a Fink, Giuseppe Bivona e Marco Taricco, sócios fundadores da empresa de investimento, chamaram o CEO da BlackRock de hipócrita, argumentando que ele fala muito, mas faz pouco. A gestora, diziam, continua ser a principal acionista de empresas com alto risco de sustentabilidade, como as produtoras de petróleo e gás.
Em Davos, o executivo se defendeu: “Se você realmente leu as ‘cartas do CEO’ que escrevi no passado, sabe que falo em uma transição”. Na entrevista, Fink garantiu que a BlackRock está fazendo de tudo para “mudar a narrativa”. Segundo a Bloomberg, a gestora investiu “somas recordes” em campanhas políticas, no ano passado.
Ainda no primeiro trimestre de 2023, pretende escrever uma carta aos CEOs das empresas investidas, cujo teor será o da esperança. “A BlackRock é uma companhia que tenta vender esperança”, defendeu. “Por que alguém colocaria algo como uma obrigação de 30 anos, se não acreditasse que algo será melhor em 30 anos?” Será o bastante para ele, finalmente, convencer alguém de suas intenções?