Em junho de 2017, Travis Kalanick, cofundador da Uber deixou a companhia em um clima nada amistoso. Sob pressão de investidores, sua saída aconteceu na esteira de uma série de escândalos e polêmicas na empresa, entre elas, denúncias de assédio sexual.

Na época, ele embolsou US$ 1,4 bilhão com a venda de ações da empresa e usou os recursos para assumir o comando da CloudKitchens, startup de dark kitchens. O movimento foi concretizado com a compra de uma fatia majoritária da City Storage Systems, controladora da companhia.

Cinco anos depois de seguir esse percurso, Kalanick está colocando a Uber novamente em seu caminho. Segundo o jornal britânico Financial Times, ele é um dos nomes ligados à Digital Restaurant Association (DRA), entidade que está em uma cruzada para combater as práticas dos aplicativos de delivery de alimentos no mercado americano.

Na prática, essa disputa tem como alvo o Uber Eats, aplicativo da Uber no segmento, além de empresas como DoorDash e Grubhub. A associação questiona as taxas cobradas por esses serviços e busca obter acesso aos dados pessoais dos clientes, fortemente protegidos por essas plataformas, sob alegação de preocupações com a privacidade.

A DRA foi constituída em março deste ano por executivos da empresa de lobby Tusk Holdings. Essa companhia foi contratada recentemente pela City Storage Systems, de Kalanick, para auxiliar em questões regulatórias ligadas às dark kitchens.

Como parte desse trabalho, o grupo de lobby ajudou a CSS a organizar um protesto em Chicago contra a legislação que impunha restrições mais rígidas para as empresas desse segmento. Da mesma forma, as dark kitchens vêm enfrentando resistência em outras cidades do país, o que pode atrapalhar os planos da CloudKitchens.

Curiosamente, a Tusk Holdings foi fundada por Bradley Tusk, um dos primeiros investidores da Uber. Ele também assessorou a empresa, na época, sob o comando de Kalanick, em imbróglios regulatórios que o aplicativo enfrentou em Nova York.

Em seu site, a associação ressalta que irá pressionar por limites permanentes nas taxas de entrega cobras por esses aplicativos. Algumas cidades, como São Francisco e Filadélfia, já adotam essa medida, ao estipular um teto de 15% para cada pedido.

No que diz respeito aos dados dos clientes, o acesso às informações e hábitos de consumo pode ser bastante lucrativa para a CSS, em ações de publicidade. Atualmente, a Otter, plataforma de pagamentos do grupo, já exige que os restaurantes que usam seus serviços compartilhem parte desses dados.

Enquanto finca seus pés nessa batalha, a CloudKitchens segue em expansão. Atualmente, a empresa tem mais de 4 mil funcionários nos Estados Unidos, Reino Unido, Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil, onde desembarcou em 2019.

Um dos combustíveis da empresa para acelerar seu crescimento veio em novembro de 2021. Na época, a startup captou US$ 850 milhões e foi avaliada em US$ 15 bilhões, em uma rodada que contou com a participação de investidores como a Microsoft. Em 2019, a companhia já havia recebido um aporte de US$ 400 milhões do Fundo Soberano da Arábia Saudita.